sexta-feira, abril 19, 2024

Cine Retrô | Mary Poppins: Um clássico infantil que mudou a história do cinema

Controverso aos olhos de autora P.L. Travers, irredutivelmente amado por gerações a perder de vista, Mary Poppins é um daqueles marcos cinematográficos cuja riqueza só fora integralmente dimensionada com o passar das décadas. Apresentada como uma babá irreverente, metódica e ironicamente divertida, sua versão projetada nas telonas é absolutamente aquém ao que a criadora da saga de livros almejava. Com uma visão mais adulta da personagem, ela passou anos escrevendo histórias cativantes para o público infantil com o amargo gosto de ter “vendido” seus princípios criativos fim de agradar uma faixa etária que não queria. Estranhamente, quanto mais lutou contra o fascínio de jovens e crianças, mais Mary Poppins foi amada por eles.

E seu auge se concretizou em 1964, quando o Walt Disney pessoalmente escolheu o projeto e redefiniu a narrativa da babá heroína em um espetáculo musical cheio de teatralidade. Dirigido por Robert Stevenson, a partir de um roteiro assinado pela dupla Bill Walsh e Don DaGradi – do livro lançado em 1934, Mary Poppins é muito mais que uma bela aventura inimaginável no mundo infantil. Como uma jornada complexa simplificada por meio da arte e suas cores tão vibrantes, a produção explora a dinâmica familiar em uma era pós Segunda Guerra Mundial, que ainda vivia a segunda onda do Feminismo. Com transformações grandiosas como background, a produção ainda aborda o impacto que o contexto social trazia para dentro dos lares, ao retratar a história dos pequenos Jane e Michael Banks, duas crianças de classe média alta carentes pelo amor dos pais.

E pintar a profundidade e até mesmo dureza desse cenário diante do público familiar talvez seja um dos aspectos mais fascinantes do musical. Trazendo em si uma temática tão densa e reflexiva, Mary Poppins oferece ao público uma colher de açúcar para tornar até mesmo esse remédio em um enorme prazer e aborda a importância do amor familiar não apenas na formação do caráter dos filhos, mas também na construção de um lar saudável. E a jornada para essa descoberta é cercada por alguns dos experimentos cinematográficos que simplesmente ajudaram a redefinir a arte de produzir filmes. Esticando a corda no que tange a junção de atuações live-action com animação, Walt Disney fez da produção seu pequeno grande laboratório tecnológico, abrangendo o uso de animatronics e efeitos visuais práticos em uma era onde todos os recursos ainda eram muito precários e bem escassos.

Antes de Poppins, a junção entre ambos os gêneros havia sido explorada de forma efêmera e até mesmo mais singela. Talvez os maiores destaques dessa inusitada combinação entre animação e live-action tenham sido Saludos Amigos (1943) e o famigerado e um tanto racista A Canção do Sul (1946) – duas produções originais da Disney. Mas foi com a famosa babá, vivida por Julie Andrews, que a tecnologia recebeu aprimoramentos mais rigorosos. Além disso, ela fora explorada de inúmeras formas, sendo ainda associada a outras técnicas artísticas riquíssimas, como o uso de uma fotografia plástica com estilo impressionista, que criava aquela estática, porém palpável, atmosfera fantástica nas cenas feitas nos telhados das casas londrinas.

Em meio a uma sucessão de características únicas, como a famosa bolsa encarpetada que carregava em si algumas das coisas mais mirabolantes (e desnecessárias) da babá, Mary Poppins é ainda um deleite atemporal em sua teatralidade, com canções originais que são um extrato puro da criatividade mais descabida, apaixonante e delicada que se viu na época. Transitando entre hinos como Supercalifragilisticexpialidocious e Spoonful of Sugar, o musical ainda abre espaço para músicas mais densas como Feed The Birds, que aborda a fragilidade de uma moradora de rua e como é comum as pessoas ignorarem sua existência, e Let’s Go Fly a Kite, a canção de despedida que ilustra a importância da inocência e pureza infantil e como ela é capaz de contagiar todos ao redor.

Com uma narrativa que vence o teste do tempo em toda a sua extensão, Mary Poppins faz parte de um hiato revolucionário para a história do cinema. Riquíssimo em sua tecnicidade e profundo em sua mensagem, o musical não apenas se tornou a babá de muitas gerações seguintes, como ainda permanece como a eterna lembrança de como a arte é capaz de desafiar e percepção humana sobre o mundo. Vida longa à Poppins e suas lições.

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