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Blood Money – Aborto Legalizado

(Blood Money)

 

Elenco:

Documentário

Direção: David K. Kyle

Gênero: Documentário

Duração: 75 min.

Distribuidora: Europa Filmes

Orçamento: US$ — milhões

Estreia: 15 de Novembro de 2013

Sinopse:

Blood Money – Aborto Legalizado, é o polêmico documentário que disseca com realismo como a indústria do aborto nos Estados Unidos, onde a prática é legalizada há 40 anos, funciona. O filme procura esclarescer e debater o tema, mostrando de que forma as estruturas médicas disputam e tratam as clientes, os métodos aplicados pelas clínicas e o destino do lixo hospitalar, além de tratar dos aspectos científicos, legais e psicológicos relacionados ao assunto, com depoimentos de médicos e outros profissionais da área, de pacientes, cientistas e da ativista política, Alveda C. King, sobrinha do pacifista Martin Luther King, que também apresenta o documentário.

Curiosidades:

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Trailer:

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Cartazes:

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Fotos:

37ª Mostra de Cinema de São Paulo: Cabra Marcado Para Morrer

REAL E COMPLEXO OU SERÁ QUE O COUTINHO IRIA GOSTAR DESTA RESENHA?

Uma das mais justas homenagens desta 37ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo foi a de Eduardo Coutinho. A retrospectiva completa de sua obra (inclusive trabalhos de ficção) foi um reconhecimento daquele que é, sem sombra de dúvidas, o maior documentarias brasileiro vivo. Costumo ser cauteloso com esses exageros, mas o caso permite. As honras contaram também com debates e lançamento de livro pela Cosac Naify (com um de seus trabalhos gráficos mais interessantes que já fez para o cinema).

Coutinho teve muitas fases em sua carreira. Entre curtas e longas, dirigiu documentários como Edifício Master, Peões e Jogo de Cena. Sua obra-prima continua a ser Cabra Marcado Para Morrer.

Nos anos 1960, Coutinho se envolveu com o Centro Popular de Cultura – CPC da União Nacional dos Estudantes – UNE para realizar filmes com comunidades do interior. Nessas viagens, conheceu a história de João Pedro Teixeira, líder da Liga Camponesa da Paraíba que fora assassinado por latifundiário da região, em 1962. O movimento dos colonos lutava pela desapropriação do Engenho da Galiléia e de Sapé, causa da qual saiu vitorioso.

Ao tomar conhecimento do crime, Coutinho decidiu, no começo de 1964, realizar um filme de ficção contando a história de João Pedro. Se chamaria Cabra Marcado Para Morrer. Os próprios colonos atuaram nas gravações e a esposa de João Pedro, Elizabeth Teixeira, fez seu próprio papel. As gravações foram abortadas em pouco tempo em razão do golpe militar de 1964. Os militares apreenderam o material, restando apenas algumas fotos e alguns minutos de filmagem, alegando tratar-se de material de propagando comunista (divulgaram na época, que a equipe era cubana!…).

Em 1981, Coutinho retoma Cabra Marcado Para Morrer como um documentário.  Em um cruzamento costura entre ficção e realidades, o agora documentarista, procura cada um dos colonos que participaram das filmagens originais. Além de exibir para eles os trechos que se salvaram do filme, Coutinho faz entrevistas procurando entender a importância para eles de atuar em um obra ficcional, suas visões sobre o assassinato de João Pedro, como estão suas vidas hoje e o quanto o contexto político cultural brasileiros no período de 17 anos (1964 a 1981) pesou em suas vidas.

Com um jogo de ficção e realidade, e sua intenção de compreender o destino de cada um daqueles trabalhadores, da família de João Pedro e dos Engenhos de Galiléia e de Sapé, Coutinho conseguiu, com ou sem intenção, criar uma documentário de muitas camadas que, tanto pelo o que expõem quanto pelo o que deixa de fora, consegue transmitir a complexidade da sociedade brasileira do período – além de gerar reflexões sobre o Brasil de hoje.

Falei acima “tanto pelo o que expõem quanto pelo o que deixa de fora” porque Coutinho faz em Cabra Marcado Para… uma clara opção pelo ponto de vista dos colonos (opção bastante natural, considerando o período de ditadura). Em outras palavras, em alguma medida, o filme é uma leitura pela esquerda dos acontecimentos desse período de 17 anos. De forma nenhuma é um defeito do filme. É apenas a perspectiva escolhida pelo diretor. Faço questão de ressalto esse pormenor, primeiro porque muitos têm a ideia de que documentários são retratos realistas da vida. NÃO! Documentários são pontos de vista de uma realidade. Segundo, para dizer que essa escolho em nenhum instante faz o filme cair no proselitismo. Coutinho é muito competente para isso.

Assim, pouco importa sua orientação política ou ideológica, ou seu completo desinteresse por política. Cabra Marcado… detém muitas camadas, permitindo que o espectador descubra uma nuance específica do Brasil do período – e mesmo de hoje. Alguns momentos deixam bem clara essa complexidade.

A maioria dos entrevistados – e o documentário como um todo – é um elogio ao movimento camponês. No entanto, um dos trabalhadores rurais entrevistados fala contra esses movimentos. É um depoimento breve, mas que abre uma fresta permitindo uma, digamos, dialética em seu interior. Seriam os métodos usados por João Pedro os melhores? Será que a grandeza de sua luta compensou sua morte brutal? Para esta pergunta, dois outros elementos são importantes.

Durante o filme, as declarações de Elizabeth Teixeira, esposa de João Pedro, trabalham em dois registros: a defesa da luta no campo (especialmente na parte final) e a tristeza pela distância dos filhos.

A simplicidade com que ela fala sobre a luta no campo é contrastante com os discursos dos líderes dos movimentos sociais de hoje (de MST ao Passe Livre). Nota-se nas palavras de Elizabeth Teixeira uma inocência, uma saudável “despolitização”. Hoje, alguns historiadores levantam a hipótese do governo Jango teria tentado um golpe vermelho no Brasil. Fato ou ficção, o documentário deixa claro que o governo estimulou a sindicalização dos trabalhadores e a formação de grupos como o de João Pedro. A pergunta que pode surgir: será que os anseios de Elizabeth Teixeira, explicitados especialmente no final do filme, eram os mesmos dos dirigentes do Brasil (pré e pós 1964)? Possivelmente, a resposta esteja no próprio filme, quando um de seu filho, já em 1981, fala que nenhum – NENHUM – político no Brasil olhou para os pobres!

Há uma tristeza em Elizabeth Teixeira por ter sido obrigada pela perseguição dos militares a se afastar de muitos de seus filhos. Boa parte do filme é dedicada à busca de Coutinho pelos filhos dela. Ao expor o rumo que cada membro dessa família tomou, o filme acaba chamando atenção para algo profundamente triste e revelador: o quanto os fatos/fardos históricos podem pesar na vida das pessoas, especialmente quando falamos de um Estado que decide tratar seu povo como gado. E não falo apenas dos milicos.

Mesmo sem ser intenção do diretor, é possível ler o documentário, do começo ao fim, como uma narração de como processos históricos impessoais/desumanos e coletivistas podem triturar a vida das pessoas.

Independente de sua filiação ideológica confie, o Cabra… é complexo!

Rápida Vingança

(Faster)

Elenco: Dwayne “The Rock” Johnson, Billy Bob Thornton, Maggie Grace, Carla Gugino, Moon Bloodgood, Oliver Jackson-Cohen.

Direção: George Tillman Jr.

Gênero: Ação/Drama

Duração: 98 min.

Distribuidora: Imagem Filmes

Estreia: Direto em DVD – Julho de 2011

Sinopse:

Rápida Vingança‘ acompanha Driver (‘The Rock’), que passa 10 anos na cadeia após seu irmão ser assassinado em um golpe que eles sofreram durante um assalto, em que participaram. Agora, ele procura vingança contra os ex-companheiros de crime, enquanto tenta descobrir quem matou o irmão.

Curiosidades:

» A Sony Pictures lançaria o filme nos cinemas, mas a Imagem Filmes comprou os direitos.


Trailer:


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Fotos:

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37ª Mostra de Cinema de São Paulo: Lições de Harmonia

LIÇÕES DE UMA TERRA DISTANTE

O franzino Aslan (Timur Aidarbekov) segura uma ovelha e amarra as patas dela. Sua avó lhe traz um punhal, que usa para matar o animal. Em seguida, retira tudo que é útil: a pele, as vísceras, as costelas. Este é umas das sequências iniciais de Lições de Harmonia, filme do Cazaquistão vencedor do Prêmio do Júri – Competição Novos Diretores na categoria melhor filme ficção da 37ª Mostra de São Paulo. Nem todos os seus primeiros minutos são tão indigestos. Seu começo é bastante irregular, sem deixar claro a que veio. Mas, assim como na cena do cordeiro, depois da calmaria, Lições de Harmonia começa a expor suas vísceras.

Apesar de vindo de um lugar, para nós, exótico, típico filme que só assistimos em Mostras, seu enredo é atualíssimo. O bullying que Aslan sofre em sua escola. É um realidade tão próximo da gente, que alguns poderiam até pensar que se trata de uma obra feita sob encomenda para o mercado internacional. Prefiro imaginar que tanto quanto os bons corações, a maldade é artigo comum entre crianças e adolescentes.

Bolat (Aslan Anarbayev), líder da gangue da escola, decide que ninguém deve fala com Aslan. Mirsain (Mukhtar Andrassov), aluno recém-chegado da cidade, ignora o aviso e torna-se amigo de Aslan. Daí em diante, o filme desenha a relação conturbada entre os alunos dessa escola.

Aslan é um garoto muito inteligente e tímido. Ele represa ressentimentos. Paulatinamente, observamos seu lado sádico, como a tortura que impinge a uma barata. Se seus ressentimentos geraram isso ou se lhe é algo natural, o diretor Emir Baigazin dispensa explicações.

Talvez pelo burburinho ao redor do filme, ou porque já o assisti na repescagem, não senti tanto o seu impacto. Quem sabe se tivesse visto antes, ou se revê-lo no futuro, o filme tivesse uma nota melhor. Mas, hoje, aprece não mais do que um bom filme vindo de uma terra distante.

Nota: A Repescagem da 37ª Mostra de Cinema de São Paulo encerrou no último dia 07/11.

Minha Vida Dava um Filme

TUDO PODE DAR CERTO (OU TERRIVELMENTE ERRADO)

Minha Vida Dava um Filme (Girl Most Likely) é uma dessas produções que se acham mais do que são. Com uma trama simples e reciclada, recheada de clichês do gênero, e sem momentos de brilho para dar espaço a seus atores, o filme soa extremamente genérico. Essa é também uma produção altamente esquecível, que desafiará nossas mentes por uma lembrança no mês quem vem. A pergunta que fica é: Por que diabos a distribuidora nacional Paris Filmes achou válido lançá-lo nos cinemas, ao invés de no sistema de home vídeo (sua casa mais apropriada).

Aqui temos a protagonista Imogene, vivida pela talentosa e graciosa Kristen Wiig (emergida do Saturday Night Live), uma das personagens mais angustiantes e menos identificáveis do cinema americano recente. Sabemos que Wiig possui talento, e que foi sucesso em Missão Madrinha de Casamento, mas aqui a comediante não tem muito com o que trabalhar em seu novo papel protagonista. Imogene é um ex-talento promissor na juventude, que deixou sua grande chance escapar e desde então viveu na sombra daquele momento. A personagem lembra o protagonista de Ben Stiller no ótimo O Solteirão (Greenberg), de Noah Baumbach.

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A personagem de Wiig é autora de peças, e quando seu namorado a deixa, surta e simula o suicídio. Personagem adorável, não? Ainda estão acompanhando? O ocorrido faz as autoridades responsáveis a colocaram novamente sob os cuidados de sua mãe extremamente disfuncional e odiosa, papel da grande Annette Bening (outra que desperdiça o talento aqui). É muito difícil nos identificarmos e nos importarmos com essas personagens, quando tudo o que queremos é parar de assistir e fugir para bem longe o mais rápido possível. O que acontece é que imediatamente criamos ligação com as pessoas que deveriam ser as antagonistas aqui, e entendemos o seu ponto de vista, em relação à forma como se comportam e se relacionam com a “heroína” de Wiig.

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Eles são os certos, e ela é a errada. Um desastre de trem em forma de ser humano, o qual todos nós temos em nossas vidas, e que na maioria das vezes está acima da redenção. E não estou execrando todos os filmes com personagens incorretos e odiosos, já que existem grandes obras-primas com personalidades assim. O fato é que tais filmes não tentam redimir seus personagens, e os tratam como são. Minha Vida Dava um Filme, escrito por Michelle Morgan (Middle of Nowhere) e dirigido por Shari Springer Berman e Robert Pulcini (Anti-Herói Americano), quer nos fazer acreditar, através de cenas e momentos indigestos, que todas as pessoas ao redor de Imogene são as erradas, frias e sem coração por a tratarem de tal forma. Quando na verdade, no mundo real, essa personagem de baixa autoestima, e perigosa para si mesma e para outros, é a verdadeira ameaça para a sociedade.

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A proposta é tão falha, que todos os personagens apresentados como alvo de tiração de sarro, como o “agente secreto” de Matt Dillon, são na verdade os mais carismáticos, e pelos quais criamos mais afeto. Já os que estão do lado de Imogene, os “bonzinhos”, são os verdadeiros repelentes, como o personagem de Darren Chriss (da série Glee). Ele é um “bom moço” que não hesita em levar uma garota para o quarto que aluga, numa casa de família, para fazer sexo. E se apresenta numa boy band cover de Backstreet Boys (adorável não é, como alguém deixou escapar esse príncipe encantado). Tudo o que os realizadores tentam aqui dá errado, e se volta contra eles emitindo o efeito oposto. Esse é um exercício cínico e sem alma, que representa tudo o que de pior existe no cinema americano formulaico.  Ainda existe espaço para personagens caricatos, como o irmão que desenvolveu uma concha de molusco em tamanho humano (é claro, por que não?); e o desfecho acontece da forma mais improvável, cartunesca e inacreditável do cinema nos últimos anos.

37ª Mostra de Cinema de São Paulo: Wakolda

HUMANIZAR SEM VITIMIZAR

 

O terceiro filme da argentina Lucía Puenzo possui narrativa ágil e enxuta. Wakolda enfoca o período no qual o médico Josef Mengele (Alex Brendemühl) esteve refugiado na Argentina. Com identidade falsa, ele conseguiu fugir para o Paraguai até morrer em Bertioga, Brasil…

Wakolda (nome de uma boneca) narra a relação de Mengele com a família da pequena Lilith. Filha de mãe alemã e pai argentino, Lilith é a narradora. Por seus olhos inocentes, vemos Megele usando os membros dessa família como cobaias em sua busca pela pureza e perfeição.

Falar de um sujeito que praticou experiências com seres humanos nos campos de concentração é um duplo desafio. Primeiro, para não recair na caricatura. O caminho simples é tratar figuras do naipe de Mengele como um demônio. O outro desafio é não vitimizar uma figura como ele. Em se tratando de nazismo, esse último desafia é mais tranquilo, afinal, não é fácil tornar vítima um grupo que cometeu algumas das maiores atrocidades da história humana.

Assim, Lucía Puenzo consegue criar um Mengele esférico, que realmente parece um ser humano real, com defeitos e qualidades. É possível reconhecê-lo como uma figura verossímil sem esquecermos de seu lado cruel. Ganhamos duplamente com isso. Primeiro, porque nos lembramos da banalidade do mal. A maldade não nasce de monstros, mas de sujeitos normais. A segunda vantagem, lembrar aos cineastas brasileiros de que, para humanizar um criminoso, não é preciso transformá-lo em vítima.

Nota: Nesta quinta, dia 07 de novembro, é o último dia da Repescagem da Mostra de São Paulo.

37ª Mostra de Cinema de São Paulo: A Ternura

UM ROAD MOVIE CHEIO DE TERNURA

Nem só de tragédias vive uma Mostra de Cinema. Se há certo destaque para filmes que exponham o lado cruel da vida (que bom que eles existem), também é possível encontrar obras que falam do lado doce da vida (que bom que eles também existem). A Ternura da francesa Marion Hänsel entra nessa classe. Lise (Marilyne Canto) e Frans (Olivier Gourmet), separados há 15 anos, se veem juntos em uma viagem de carro rumo a outro país para buscar seu filho Jack (Adrien Jolivet), hospitalizado após um acidente de esqui.

O enredo pouco importa. Poderia resumi-lo sem prejudicar o espectador. Ele é uma justificativa para acompanharmos o reencontro desse casal. A força do filme está no registro terno da relação de Lise e Frans. Não se vê nenhuma sequência agressiva. As conversar são temperadas por saudosismos, risos, um certo gosto bom de “você continua o mesmo”. É um casal que já passou da fase de rancor e restou a amizade. Neste road movie bumerangue, não interessa a linha de chegada, nem o porque ele viajam, mas como o casal de comporta nesse reencontro.

O filme não se limita ao casal. Há a relação dos pais com o filho, deste com a namorada, entre outros pequenos acontecimentos que contribuem para expor um lado humano das figuras que surgem na tela. Mas, o essencial está em Lise e Frans, em como as pessoas, mesmo depois de um divórcio, podem manter uma convivência saudável e feliz.

Essa visão positiva, em nenhum momento, significa uma ideia ingênua da vida. Temos uma perspectiva humanista das personagens e esperançosa das relações afetivas.

O filme tem muitas cenas bonitas. Duas se destacam. A abertura que focaliza Jack praticando esqui. A imensidão da neve é de rara beleza, já inserindo o público no clima da película. Na sequência final, Frans se despede de Lise. A câmera corta e vemos ele indo embora, andando em paralelo a uma parede de vidro na qual o rosto de Lise está refletido. Por instante brevíssimo, os rostos de ambos se fundem. Ele entra no carro e vai embora. A câmera corta para Lise, que estampa um sincero sorriso de ternura.

Nota: Nesta quinta, dia 07 de novembro, é o último dia da Repescagem da Mostra de São Paulo.

Smashed – De Volta a Realidade

VÍCIO FRENÉTICO

Talvez você não saiba muito bem quem é Mary Elizabeth Winstead, a bela atriz americana de 28 anos de idade. Pois bem, vamos refrescar a memória. O primeiro papel de destaque da atriz foi como protagonista no terror jovem Premonição 3 (2006), segunda continuação da franquia de sucesso. No ano seguinte, Winstead foi a filha de John McClane (Bruce Willis) em Duro de Matar 4.0 – papel que reprisou no quinto, e detestável, filme da franquia lançado esse ano. Ainda em 2007 trabalhou com ninguém menos do que Quentin Tarantino, em À Prova de Morte. Em 2010 foi Ramona Flowers, no excelente Cult Scott Pilgrim Contra o Mundo. Em 2011 e 2012 vieram bolas fora, em superproduções como O Enigma de Outro Mundo (espécie de refilmagem e pré-sequência do clássico de John Carpenter), e Abraham Lincoln – Caçador de Vampiros, no qual vivia Mary Todd Lincoln.

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Lembrados agora?  O fato é que apesar de todos esses trabalhos, a atriz ainda não havia entregado uma performance forte, que chamasse a atenção. Bem, até Smashed: De Volta a Realidade. Aqui, Winstead desempenha a melhor atuação de sua jovem carreira, impactante o suficiente para receber prêmios. Exibido no Festival do Rio 2012 (além de Sundance e Toronto), o filme chega agora ao mercado de vídeo no Brasil. Essa é uma obra devastadora, e uma das melhores produções americanas do cinema em 2012. No filme a atriz é Kate, uma jovem professora primária casada. Sua vida à primeira vida parece nos eixos. Mas é só olharmos mais de perto para percebermos as graves falhas. Kate e seu marido Charlie, papel de Aaron Paul (da série Breaking Bad), são jovens boêmios que celebram a vida de forma exagerada noite após noite.

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Até o momento que o fato começa a interferir em suas vidas. Kate, por exemplo, passa mal durante uma aula, e precisa mentir uma gravidez para não arriscar o emprego. Antes da bonança vem a tempestade, e a jovem chega a fundo do poço ao aderir ao crack, e passar uma noite na rua, literalmente na sarjeta. Winstead mostra toda a sua abrangência como atriz, em momentos inquietantes, num verdadeiro tour de force. A ajuda primeiramente precisa vir de nós mesmos, e a inteligente personagem percebe que é hora de recomeçar, mesmo sem o apoio do marido ou amigos. Smashed não é um filme fácil, ou de respostas imediatas. É uma obra muito significativa, que atinge e fala diretamente com toda uma geração. Afinal, quem nunca teve ou conheceu pessoas com tais problemas.

O ótimo elenco coadjuvante conta com Octavia Spencer (vencedora do Oscar por Histórias Cruzadas), Megan Mullally (da série Will & Grace), Nick Offerman (Família do Bagulho), Mary Kay Place (O Reencontro), Kyle Gallner (A Hora do Pesadelo), e a bela Mackenzie Davis (Breath In). O roteiro e a direção pertencem a James Ponsoldt, um nome para acompanharmos de perto, já que esse ano o cineasta entregou o elogiadíssimo The Spectacular Now.

Terror na Ilha

DOCE PESADELO

Exibido em festivais de cinema (como Sundance e Londres), Terror na Ilha é o segundo filme dirigido pela atriz, roteirista e cineasta independente Katie AseltonBlack Rock (Rocha Negra, em seu título original) foi igualmente criado pela diretora, com o roteiro desenvolvido por Mark Duplass, diretor e roteirista de filmes como Cyrus (2010) e Jeff e as Armações do Destino (2012), e ator de filmes como A Irmã da Sua Irmã (2012), Sem Segurança Nenhuma (2012) e A Hora Mais Escura (2012). Duplass é também o marido da diretora Aselton, e com ela forma uma dupla de talento do cinema indie americano.

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A trama criada pelo casal apresenta três amigas de infância, agora na casa dos 30 anos, com a missão de passar um fim de semana numa remota e pequena ilha na costa do Maine. O local tem pedigree, já que é onde se passam quase todas as histórias do escritor Stephen King, morador do estado. O primeiro problema é que Sarah, vivida por Kate Bosworth (a Lois Lane de Superman – O Retorno, 2006), força o encontro de Abby (a diretora Aselton) e Lou (Lake Bell, de Jogo de Amor em Las Vegas, 2008), sem que elas saibam. As duas estavam brigadas há anos devido a uma traição de relacionamento. Sarah tenta reaproximar suas duas melhores amigas de forma brusca, e sentimentos intensos voarão pela ilha ao longo do fim de semana na natureza.

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Como se não bastasse, o trio precisa lidar com o aparecimento de três caçadores no local. Para a sorte das mocinhas, um deles é um velho amigo de juventude. Ou será? A situação dá uma guinada para o pior, e logo as três se veem lutando por sobrevivência, nesse verdadeiro teste de força e coragem. Terror na Ilha não exibe nada que já não tenhamos visto antes dezenas de vezes, em filmes melhores, sendo o principal deles Amargo Pesadelo (1972) –  filme que estereotipou para sempre os caipiras. O que chama a atenção é a qualidade da diretora, que utiliza uma ótima trilha sonora e fotografia (principalmente noturna), e a entrega das protagonistas.

Os diálogos naturais, e situações tensas entre as duas ex-amigas, exalam veracidade. A primeira metade de Terror na Ilha consegue criar um clima autêntico, que por pouco não é estragado pela caricatura apresentada pelo elenco masculino. Acreditamos no trio como amigas, porque provavelmente o são, e deixam transparecer em suas atuações. Em determinado momento, Aselton e Bell chegam a ficar nuas na floresta, para não congelarem com roupas molhadas no frio. Mas tudo possui uma razão de ser. O fato citado apenas exibe o comprometimento das artistas com a obra. Lake Bell também se tornou uma diretora independente esse ano, com o elogiado In a World…, sobre o universo dos dubladores. Se o tipo de filme não for a sua praia, saiba pelo menos que a produção possui uma das melhores mortes (ou piores) e mais inusitadas do ano.

As Loucuras de Charlie

SÃO AS ÁGUAS DE MARÇO…

Conhecido por aqui como o filme em que Charlie Sheen canta “Águas de Março” em português, As Loucuras de Charlie teve seu lançamento direto em vídeo no Brasil. O filme marca o primeiro trabalho na direção de Roman Coppola (que também escreveu o roteiro), filho de Francis, e irmão mais velho de Sofia. A obra apresenta uma alucinada viagem pela mente do personagem título, vivido pelo controverso Charlie Sheen. Devemos nos atrever? Essa era realmente a proposta aqui. Visando lucrar em cima da recente surtada de mais um astro de Hollywood, o filme parece planejado para capitalizar o status do astro, um dos mais promissores de sua geração, parte de uma família de artistas, assim como o próprio diretor Coppola.

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Realidade se mescla com ficção ao conhecermos Charlie Swan III, um sujeito mulherengo, rico, bêbado e drogado. Ele perde o grande amor de sua vida, e arrependido tenta de todas as formas reconquistar a bela Ivana (grande chance para a belíssima Katheryn Winnick – de Almas à Venda). É como se Coppola com o aval e ajuda de Sheen, tentasse dar mais uma chance ao querido ator. Já reformado, ele pede perdão. Esse é um filme pequeno, mas com um bom elenco, e muitos talentos envolvidos. Nos EUA, foi lançado nos cinemas de forma restrita, e logo depois distribuído no sistema de vídeo demanda. As Loucuras de Charlie consiste numa série de situações surreais definidas pela tal “olhada na mente” do protagonista. O sujeito refaz os passos para tentar compreender o que deu errado em seu relacionamento, assim ganhamos vislumbres do passado, ao mesmo tempo em que o personagem de Sheen fantasia quase todas as situações mostradas na produção.

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Coppola é um usual colaborador do cineasta Wes Anderson, e com ele escreveu os roteiros de Viagem a Darjeeling Moonrise Kingdom. O diretor de primeira viagem pega para si alguns traços do amigo Anderson, para criar personagens estranhos e situações bizarras. As Loucuras de Charlie foi produzido pela A24, empresa recém formada que vem financiando bons projetos independentes americanos. Iniciada esse ano, a produtora lançou Spring Breakers – Garotas Perigosas (de Harmony Korine), Bling Ring – A Gangue de Hollywood (de Sofia Coppola), Ginger & Rosa (de Sally Potter), e o elogiado The Spectacular Now (de James Ponsoldt). Ano que vem a A24 já tem agendado os lançamentos de Under the Skin (de Jonathan Glazer, com Scarlett Johansson), The Rover (de David Michod, com Guy Pearce e Robert Pattinson), Enemy (de Denis Villeneuve, com Jake Gyllenhaal, Mélanie Laurent e Sarah Gadon), e Locke (de Steven Knight, com Tom Hardy).

As Loucuras de Charlie é um grande filme entorpecente, onde nada faz muito sentido, mas sentimentos são expostos de forma honesta. É bom ver o ator de volta ao jogo. Aqui, ele tem o apoio de Bill Murray, que interpreta seu contador e amigo, além de Patricia Arquette (sua irmã), Jason Schwartzman (primo do diretor, que interpreta seu melhor amigo), e das jovens talentosas e promissoras Mary Elizabeth Winstead e Aubrey Plaza.