‘Cobra Kai’ é um tremendo sucesso. A essa altura nem precisa ser dito, afinal é fácil imaginar que uma série que chega à sua sexta temporada tenha tido uma boa audiência. Nos tempos que vivemos de ofertas infinitas, é difícil selecionar o que assistir. Assim, a luta por audiência se torna ainda mais acirrada, para o desespero dos produtores. Muitos acabam caindo pelo caminho – como as séries azaradas que terminam canceladas logo após sua temporada de estreia (comentamos sobre algumas no link). Justamente por isso, precisamos reconhecer quando um programa segue em frente e consegue tirar do papel uma temporada depois da outra.
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O mais legal de ‘Cobra Kai’ é que possui bastante material, introduzindo a cada temporada parte do rico universo criado ainda na década de 1980, nos filmes da franquia ‘Karatê Kid’. Aliás, a ideia que motivou a criação do programa é por si só curiosa e muito divertida. Acontece que ‘Karatê Kid’ é um destes filmes icônicos da década de 80, que são renovados em sua popularidade com as novas gerações, sem nunca irem embora de fato da cultura popular – como se passados de pai para filho. E há um tempinho surgiu online uma teoria de fãs que dizia que na verdade Daniel (Ralph Macchio) é quem provocou e fez bullying com Johnny (William Zabka).
Sabemos que a teoria é absurda, afinal é só assistir ao filme original de 1984 para perceber o “pão que o diabo amassou” que o protagonista sofre nas mãos de Johnny e sua turminha de covardes. Acontece que Daniel não se acovarda, e muitas vezes devolve na mesma moeda. Mas a teoria não deixa de ser curiosa e divertida, afinal Daniel, o rapaz novo chegado no colégio, se interessa por Ali (Elisabeth Shue), que por sua vez era namorada de Johnny, mesmo que a relação dos dois estivesse estremecida. Johnny estava tentando voltar para sua amada, até Daniel se intrometer. É uma maneira de olhar.
Foi dessa teoria que surgiu a ideia de ‘Cobra Kai’, a continuação do ‘Karatê Kid’ original 34 anos depois. A série surgiu também em meio a uma tendência de Hollywood em realizar continuações tardias, vinte ou trinta anos depois, por exemplo. No programa, que exibiu sua primeira temporada em 2018 no YouTube Red (uma tentativa da plataforma em criar seu próprio streaming), encontrávamos Johnny pela primeira vez desde 1984, agora um sujeito falido e fracassado, ainda preso aos anos 80. No passado, Johnny era o “playboyzinho” e Daniel, o menino vindo de família humilde, morando em um conjunto habitacional. Após o confronto entre os dois no campeonato de caratê, a vida de Daniel deslanchou, e agora o homem de meia idade é um bem-sucedido dono de concessionária de automóveis. Já a de Johnny só retrocedeu. É a partir dessa subversão que a história de ‘Cobra Kai’ tem seu ponto de partida, com Johnny agora protegendo um menino que sofre bullying, já que está ao lado dos párias, enquanto Daniel não sabe que dentro de casa cria filhos mimados e que agora são os valentões do colégio.
No final da primeira temporada nos deparávamos com promessa do retorno de John Kreese (Martin Kove), o treinador sem compaixão da academia Cobra Kai – que era o verdadeiro vilão do filme. E assim, ao longo das temporadas íamos matando a saudade deste universo particular e seus personagens. Uma das graças de ‘Cobra Kai’ se tornou justamente ver quem eles iriam trazer a seguir. Infelizmente a maior ausência não remediada foi a do saudoso Noriyuki ‘Pat’ Morita, o eterno Sr. Miyagi, um dos mestres mais queridos da cultura pop mundial. O ator faleceu em 2005, mas sua presença é sentida ao longo de todas as temporadas, já que é constantemente mencionado e homenageado.
Além de William Zabka, Ralph Macchio e Martin Kove (que entrou para o elenco fixo da série na segunda temporada), ‘Cobra Kai’ trouxe de volta em seu elenco Randee Heller (a mãe de Daniel, Lucille), a indicada ao Oscar Elisabeth Shue (Ali), Ron Thomas e o falecido Rob Garrison (os amigos de Johnny), Yuji Okumoto (Chozen, o vilão do segundo filme), Tamlyn Tomita (Kumiko, a mocinha do segundo filme) e finalmente Thomas Ian Griffith, o vilão caricato do terceiro filme, Terry Silver – que retornou, atendendo o desejo dos fãs, na quarta temporada. A quebra de expectativa sobre esses personagens, como a forma em que Silver aparece e é construído, é um dos elementos que faz ‘Cobra Kai’ ser tão legal.
Com a quinta temporada, lançada em setembro de 2022, a expectativa era que continuássemos a acompanhar as falcatruas de Terry Silver, e que novos rostos do passado também ressurgissem. E mais uma vez os produtores não decepcionaram. Abaixo iremos comentar algumas das referências mais legais da quinta temporada, enquanto aguardamos ansiosos pela estreia da sexta e última – como vem sendo anunciada – em algum momento deste ano. Mas não se preocupem, pois os produtores já anunciaram um novo ‘Karatê Kid’ para os cinemas, que deve levar o programa de TV para as telonas, assim esperamos.
Meu Primo Vinny
Como se não bastassem as inúmeras referências e participações em ‘Cobra Kai’ do universo de ‘Karatê Kid’, ainda ganhamos uma brincadeira muito boa com um filme que não faz parte da franquia, mas que teve participação de Ralph Macchio e é um dos longas mais marcantes de sua carreira fora de ‘Karatê Kid’. Essa é uma referência que os mais novos provavelmente não pegaram. Na cena em que Daniel e Johnny vão visitar Kreese na cadeia com a promessa de tirá-lo de lá ao contratarem um advogado para ele, caso ele colabore com a derrocada de Terry Silver, o vilão encarcerado diz para Daniel: “não quero que chame um de seus primos ensebados”. Muitos podem ter ficado boiando com a diálogo, mas trata-se de uma brincadeira com ‘Meu Primo Vinny’, sucesso de 1992 no qual Macchio interpreta um rapaz preso injustamente por um assassinato, recorrendo à ajuda de seu primo, papel de Joe Pesci, um sujeito malandro. Apesar do tema sério, o filme é uma comédia, que contou ainda com a participação de Marisa Tomei – a atriz levou o Oscar de melhor coadjuvante pelo longa.
O “garoto mau” do caratê
‘Karatê Kid 3’ pode ser considerado o mais fraco da “trilogia”, mas é um filme que passava tanto na Sessão da Tarde da Globo, que muitos que viveram essa geração se afeiçoaram ao longa, quase como um prazer culposo. É daquele tipo de filme que de tão exagerado, chega a ser divertido. Tudo é amplificado na potência máxima, e os vilões são tão maus que chegam a ser caricatos. Além de Terry Silver (o “Kreese” da vez), temos um novo “Johnny” nas formas de Mike Barnes (Sean Kanan), apelidado o “bad boy do caretê” (é claro). O sujeito é mau que nem o Pica-Pau e comete as maiores atrocidades, como tentar matar Daniel pendurado num penhasco a não ser que ele assine para participar do campeonato, e até mesmo chutar uma menina na barriga. Pode ter certeza que Barnes retornou na quinta temporada. Mas, novamente subvertendo as expectativas, seu personagem tem uma guinada interessante, e agora possui uma loja de móveis.
A Paixão Platônica
Além de Mike Barnes, o bad boy do caratê, outro retorno esperado do terceiro filme era o da ruivinha Jessica Andrews, a nova paixão de Daniel no terceiro filme. A fórmula dos filmes ‘Karatê Kid’ era sempre repetida e os personagens que adentravam tal universo seguiam a mesma linha: um rival, o mestre do rival e um interesse amoroso. O curioso é que no terceiro filme, Jessica Andrews, papel Robyn Lively, foi a única que não caiu nos “encantos” de Daniel. Ou seja, a relação dos dois não passou da “Friendzone”. Isso porque quando fez o terceiro filme, Ralph Macchio, que é “gato”, já tinha quase 30 anos, enquanto sua colega de cena Lively ainda era menor de idade com 17 aninhos apenas. Mas serviu para a trama, já que 33 anos depois foi explicado que Jessica é prima Amanda (Courtney Henggeler), a esposa de Daniel, e foi ela quem apresentou o casal.
Onde está Julie Pierce?
A última grande participação que ‘Cobra Kai’ precisa trazer ao seu universo é a de Julie Pierce, protagonista do quarto e obscuro filme da franquia ‘Karatê Kid’, lançado sem a participação de Ralph Macchio, dez anos depois do original. Acontece que em ‘Karatê Kid 4 – A Nova Aventura’, o Sr. Miyagi decide treinar um novo aluno. Na verdade uma nova aluna, já que como diz o título original “The Next Karatê Kid’, ou ‘A próxima Karatê Kid’ é na verdade uma menina, a tal Julie Pierce. Isso é muito importante para a franquia pois Julie é a única outra personagem que conheceu o querido mestre tão bem quanto Daniel, e teve a honra de ser treinada por ele. Tudo bem que na época do lançamento ninguém deu 10 centavos por ‘Karatê Kid 4’, definindo o longa como o famoso “tirar leite de pedra”. Mas hoje, com o sucesso de ‘Cobra Kai’, seria uma adição bem-vinda ao mesmo universo. Ainda mais se levarmos em conta que no papel de Julie tivemos ninguém menos do que a atriz duas vezes vencedora do Oscar Hilary Swank, em seu primeiro papel de destaque no cinema, aos 20 aninhos de idade.
O prestígio de Swank, com duas estatuetas do Oscar debaixo do braço, poderia deixar os produtores receosos sobre o convite. Mas a verdade é que Swank poderia demonstrar que é legal, voltando ao papel que abriu as portas para ela em Hollywood. Fora isso, as últimas produções da estrela não tem sido, por assim dizer, grandes sucessos – com sua última investida em uma série de TV, ‘Alasca: Em Busca da Notícia’ (2022), sendo cancelada após uma única temporada. Dessa forma seria igualmente bom para a carreira de Swank fazer parte de um sucesso de audiência – ainda mais fechando o seriado com chave de ouro em sua última temporada. Já pensou o encontro entre Daniel e Julie para falar sobre Miyagi. Existe algum fã que não acharia épico?