sexta-feira, abril 26, 2024

Conheça JOGO JUSTO e mais 6 Envolventes Suspenses Eróticos

Subgênero do cinema e literatura, o suspense erótico teve os seus dias de glórias na década de 1980 e 1990, chegando até o início dos anos 2000 com alguns bons títulos de importantes diretores. Contudo, a categoria acabou perdendo espaço para uma nova onda de filmes apelidados de romances apimentados ou soft porno, como os insossos Cinquenta Tons de Cinza (2015), After (2019) e 365 Dias (2020) , nos quais os personagens são inverossímeis — além de obtusos — e as tramas irrisórias com apelo ao sexo, mas sem sensualidade. 

Considerado um dos grandes mestres do erotismo do século XX, o diretor Adrian Lyne pareceu ter perdido a mão ao apresentar o modorrento Águas Profundas (2022), com Ben Affleck e Ana das Armas. O mesmo ocorreu com Paul Verhoeven e o controverso Benedetta (2021). O cineasta holandês recorreu à trama sexual lésbica e religiosa, mas deixou o suspense de lado e deu espaço para uma escrachada comédia erotizada.

Graças a Jogo Justo, da estreante Chloe Domont, lançado em 20 de outubro na Netflix, o subgênero aparenta ter fôlego para sobreviver e despertar o interesse das novas gerações. Na lista abaixo, o CinePOP apresenta essa e outras seis envolventes obras do subgênero a serem relembradas e conferidas. Vamos à lista?

Jogo Justo (2023), de Chloe Domont

Com um olhar mais feminista, a diretora estadunidense consegue construir uma dinâmica de casal intrigante e recheada de simbolismo de emancipação feminina. Dentro do ganancioso mundo financeiro recheado de jogadas inescrupulosas e mistérios, a  protagonista deixa de ser objeto de desejo na trama e passa a ser sujeito desejante. De quebra, o filme discute masculinidade tóxica intrínseca à sociedade patriarcal. 

Leia também: Crítica | ‘Jogo Justo’ – EXCELENTE thriller psicosexual da Netflix na pegada ‘Instinto Selvagem’

Além de um roteiro intrigante e uma ambientação sedutora, Chloe Domont coloca em evidência cenas originais e ousadas no cinema norte-americano, como uma relação sexual no período menstrual, símbolo de um desejo latente entre os amantes que não permite barreiras e tabus. A postura altiva de Phoebe Dynevor (da série Bridgerton) para viver a ambiciosa e apaixonada Emily é um salto na sua carreira.

Infidelidade (2002), de Adrian Lyne 

Depois de quase 20 anos como o rei inquestionável do thriller erótico, Adrian Lyne produziu uma dos últimos exemplares de alta qualidade do subgênero em um grande estúdio. Infelizmente, ele decidiu sair da aposentadoria com o fraquíssimo  — já mencionado  — Águas Profundas, lançado diretamente na Prime Video

Na pele da dona de casa nova iorquina Connie Sumner, Diane Lane transmite toda a exaustão e afetação da sua personagem entre a luxúria e a culpa. Grande parte da trama é a entrada acidental do artista francês Paul Martel (Olivier Martinez) no casamento aparentemente exemplar entre Connie e Edward (Richard Gere). Entregue a nova paixão, Connie esquece do filho de 8 anos (Erik Per Sullivan, da série Malcolm in the Middle), do marido e não hesita em mudar o seu cotidiano em busca do prazer recém-descoberto. 

Não deixe de assistir:

As cenas de sexo são genuinamente quentes e as imagens da atriz extasiada e corada do seus encontros “pegaminosos” transportam os espectadores para dentro de suas sensações. As sutilezas dos detalhes metafóricos, como fogo e combustão, além do final ambíguo fazem de Infidelidade um prazeroso [e culposo] exercício de cumplicidade tanto com a personagem de Diane Lane quanto a de Richard Gere

Instinto Selvagem (1992), de Paul Verhoeven

Desprezados por muitos pela tensão erótica amarrada ao suspense de romances policiais, a cruzada de pernas de Sharon Stone já é um inegável clássico do cinema. Dirigido por Paul Verhoeven, Instinto Selvagem é chocantemente violento e ao mesmo tempo genuinamente quente. O balanço desses elementos pode ser atribuído ao poder de Stone sobre a câmera e os espectadores. 

Na trama, a romancista policial Catherine Tramell (Sharon Stone) torna-se suspeita quando é ligada à morte brutal de uma estrela do rock. Investigada pelo detetive de homicídios Nick Curran (Michael Douglas), Catherine o seduz em um intenso relacionamento sexual. Enquanto isso, o caso de assassinato se torna cada vez mais complicado quando ocorrem mais mortes aparentemente conectadas. Sedução explosiva em tela e assassinatos com um picador de gelo, como não se entregar nessa busca de quem é a vítima e o algoz? 

A Piscina (1968), de Jacques Deray

Tensões sexuais, ciúmes e crimes em torno de uma piscina na Riviera Francesa. Com esse argumento e um elenco hipnótico, Jacques Deray criou uma armadilha aos olhos. Com Alain Delon, Romy Schneider, Maurice Ronet e a jovial Jane Birkin, A Piscina é o cenário envolvente de vibrações sensuais à beira d’água sob um sol escaldante.

Grande parte do filme francês é sobre tensões pessoais e brincadeiras de corpos exuberantes ao brilho do suor até um afogamento ocorrer no local. O mistério do enredo não é sobre o assassinato e o roteiro não se preocupa em manter o espectador em dùvida, mas a questão em evidência é o choque e guerra de libidos e egos durante todo o tempo somente naquela redoma d’água.

A Criada (2016), de Park Chan-wook

Se os norte-americanos não entregam atualmente filmes de suspense eróticos de qualidade, da Coreia do Sul vem umas das mais estonteantes tramas de luxúria, mistério e poder da última década. Com aprovação de 96% da crítica no Rotten Tomatoes  — só para dar uma ideia do grau de aceitação e maestria do diretor sul-coreano Park Chan-wook  —, A Criada é um quebra-cabeça estimulante, no qual até o design de produção é voluptuoso. 

Adaptado do romance britânico Na Ponta dos Dedos, de Sarah Waters, a trama sul coreana conta de forma elegante e erótica a trajetória do plano de um vigarista coreano (Ha Jung-woo), com a ajuda de um batedor de carteiras órfão (Kim Tae-ri), para seduzir e roubar a herança de uma mulher japonesa (Kim Min-hee). No fim das contas, o espectador termina zonzo e completamente inebriado pelo despudor e astúcia sedutora dos atores em cena.

Swimming Pool – À Beira da Piscina (2003), de François Ozon

Poucos cineastas modernos são tão hábeis em capturar a promessa inebriante do sexo como François Ozon. Os mistérios eróticos são temas recorrentes na obra do diretor francês, como os recentes Verão de 85 (2020) e Peter von Kant (2022). Porém, nenhum de seus filmes é tão carregado de erotismo quanto este.

Leia mais: Crítica | Verão de 85 – François Ozon apresenta pulsões de amor e morte em cenário nostálgico dos anos 80

A escritora de romances policiais Sarah Morton (Charlotte Rampling) vai passar as férias numa vila no sul da França e divide a casa com a jovem e sexy filha de seu editor (Ludivine Sagnier). Julie, entretanto, tem uma vida sexual plenamente ativa com diversos parceiros e a relação das duas torna-se um perplexo voyeurismo em conjunto com o espectador. 

Se você assistiu A Piscina (1968) — já apresentado acima nesta lista — reconhecerá paralelos na sedutora história de sexo, assassinato e fantasia desenvolvida na narrativa. Swimming Pool – À Beira da Piscina possui um final ambíguo entre realidade e imaginação literária, possivelmente não agradável a todos o público, mas de qualquer forma é estimulante em sua proposta.

Lua de Fel (1992), de Roman Polanski 

Se você cresceu nos anos 1990, o canal SBT reprisou várias vezes essa pérola do [persona non grata] Roman Polanski na sua sessão Fim de Noite nas madrugadas de sábado para domingo. Com cenas de pura luxúria, Lua de Fel constrói sua narrativa por meio de um homem cadeirante (Peter Coyote) a contar suas experiências sexuais com a sua esposa Mimi (Emmanuelle Seigner) a um jovem aristocrata britânico, enquanto estão presos em um cruzeiro.

Considerado como um jogo de perversão e libido, o velho homem diverte-se a se gabar das peripécias amorosas, enquanto coloca o espectador e o seu interlocutor em cena em um estado de êxtase e desconforto. Deveríamos estar escutando aquelas histórias (e as vendo através de sua narrativa)? Elas são verdadeiras ou apenas uma divertida emulação para o personagem recatado vivido por Hugh Grant [ainda antes da fama de Quatro Casamentos e um Funeral (1994)]? 

A dinâmica entre os atores e principalmente as atrizes Kristin Scott Thomas e Emmanuelle Seigner fazem o filme uma bela montagem merecedora de visualização, além da apaixonante trilha sonora composta, por exemplo, de Fever, de Peggy Lee; Sweet Dreams (Are Made Of This), de Eurythmics; e Slave To Love, de Bryan Ferry.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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