domingo , 22 dezembro , 2024

Conheça o elogiado TERROR sobrenatural brasileiro que está no catálogo da Netflix

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Há quem ainda diga que o cinema brasileiro não consegue se reinventar. Que nossa cinematografia está presa apenas ao convencional e que o publico não consome o diferente. Ainda existe aqueles que desacreditam no potencial de fazer um filme de gênero nacional. É para esses então que As Boas Maneiras surge e traz junto de si uma narrativa completamente nova, um frescor em meio a tantas tentativas fracassadas de replicar o que vimos lá fora.

O misto de drama com horror, dirigido por Juliana Rojas e Marco Dutra, começa de forma interessante, apresentando uma canção doce que perpetua por toda a obra. Na trama, sem entregar muitos spoilers, Clara (Isabél Zuaa) é uma enfermeira que mora na periferia de São Paulo, contratada para ser a babá do filho que Ana (Marjorie Estiano) está esperando. Uma noite de lua cheia provoca uma inesperada mudança de planos e Clara assume a maternidade de uma criança diferente das outras.



Essa premissa intrigante é apresentada por um roteiro bem construído, que começa desenvolvendo um típico drama do cotidiano em todo seu primeiro ato, com pequenos toques de estranheza guiados por uma sutil canção que destoa daquele mundo comum. Sabemos que algo está errado naquele apartamento e nossa curiosidade é levada ao extremo. Marjorie Estiano é a peça chave desse ato e brilha com uma atuação dedicada, sua personagem é cômica e ao mesmo tempo misteriosa e sensual, e apesar do lado sobrenatural, Estiano encara com naturalidade seu papel.

Assista também:
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Com uma virada brusca no tom, o segundo ato apresenta a real intenção do filme, um novo horizonte se abre, mesmo que demore um certo tempo para que você compre a nova trama, há uma beleza narrativa incrível, o drama abre espaço para seu lado obscuro e místico, com toques de terror e suspense. E é a vez de Isabél Zuaa mostrar todo o seu talento. Sua personagem se mantém contida e expressiva durante todo o começo, porém, nesse ponto de virada, Clara assume seu posto de protagonista e convence como mãe dedicada, além de participar de uma cena musical muito especial, aliás, as canções assinadas pela dupla Guilherme e Gustavo Garbato são muito pontuais e surgem em momentos certos, muito semelhantes as delicadas canções do compositor Danny Elfman nos filmes de Tim Burton.

Assista ao trailer:

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E por falar em inspirações, há um toque trash e macabro de O Bebê de Rosemary com passagens do ótimo ‘Possuída’ (‘Ginger Snaps’), além de toda a fábula, que apesar de se situar na zona do horror, lembrar o tom obscuro, porém, mágico, também dos filmes do Tim Burton, até mesmo São Paulo é diferente, sempre ao fundo com uma névoa mística. Mesmo com tantas referências, o longa consegue se manter original à premissa de fazer “um filme de monstro” e insere festividades nacionais na tentativa de não perder sua brasilidade. Um toque inteligente do roteiro.

Por se tratar de uma obra que circula entre o enigmático e o mundo real, a fotografia do português Rui Poças agrega o ar esotérico que a trama necessita, abusando de belos tons neutros no começo, que vão ficando mais azulados e escuros conforme o filme amadurece, criando uma atmosfera sombria e envolvente. E se tinha algo que poderia dar errado, sem dúvida, era o visual computadorizado da criatura, que acaba sendo satisfatório, passando medo, por ser animalesco, mas também expressando encanto e bondade, outro ponto positivo para o cinema brasileiro, que pouco se envolve e se arrisca em criar efeitos visuais desse porte.

Talvez sejam os excessos o único defeito do longa, que mescla horror com drama, fantasia com mundo real, e ainda encontra espaço para cenas musicais e (perfeitas!) LGBT’s. Mesmo que tudo tenha seu devido espaço e encanto, alguns momentos há muito para se processar, o que leva o seu ritmo a sofrer uma queda que pode atrapalhar um envolvimento mais profundo.

No fim, é o conjunto da obra que faz As Boas Maneiras ser tão peculiar e especial. Definitivamente um projeto arriscado, que surpreende por ser original e belo, e que merece todo o destaque que tem recebido mundo afora. Um acerto triunfal ao terror, emocionante e que vai te fazer refletir sobre diferenças e aceitação, tudo isso dentro de uma obra obscura de fantasia.

Ora ora… seria a inauguração do “pós-horror brasileiro”?

 

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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O misto de drama com horror, dirigido por Juliana Rojas e Marco Dutra, começa de forma interessante, apresentando uma canção doce que perpetua por toda a obra. Na trama, sem entregar muitos spoilers, Clara (Isabél Zuaa) é uma enfermeira que mora na periferia de São Paulo, contratada para ser a babá do filho que Ana (Marjorie Estiano) está esperando. Uma noite de lua cheia provoca uma inesperada mudança de planos e Clara assume a maternidade de uma criança diferente das outras.

Essa premissa intrigante é apresentada por um roteiro bem construído, que começa desenvolvendo um típico drama do cotidiano em todo seu primeiro ato, com pequenos toques de estranheza guiados por uma sutil canção que destoa daquele mundo comum. Sabemos que algo está errado naquele apartamento e nossa curiosidade é levada ao extremo. Marjorie Estiano é a peça chave desse ato e brilha com uma atuação dedicada, sua personagem é cômica e ao mesmo tempo misteriosa e sensual, e apesar do lado sobrenatural, Estiano encara com naturalidade seu papel.

Com uma virada brusca no tom, o segundo ato apresenta a real intenção do filme, um novo horizonte se abre, mesmo que demore um certo tempo para que você compre a nova trama, há uma beleza narrativa incrível, o drama abre espaço para seu lado obscuro e místico, com toques de terror e suspense. E é a vez de Isabél Zuaa mostrar todo o seu talento. Sua personagem se mantém contida e expressiva durante todo o começo, porém, nesse ponto de virada, Clara assume seu posto de protagonista e convence como mãe dedicada, além de participar de uma cena musical muito especial, aliás, as canções assinadas pela dupla Guilherme e Gustavo Garbato são muito pontuais e surgem em momentos certos, muito semelhantes as delicadas canções do compositor Danny Elfman nos filmes de Tim Burton.

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E por falar em inspirações, há um toque trash e macabro de O Bebê de Rosemary com passagens do ótimo ‘Possuída’ (‘Ginger Snaps’), além de toda a fábula, que apesar de se situar na zona do horror, lembrar o tom obscuro, porém, mágico, também dos filmes do Tim Burton, até mesmo São Paulo é diferente, sempre ao fundo com uma névoa mística. Mesmo com tantas referências, o longa consegue se manter original à premissa de fazer “um filme de monstro” e insere festividades nacionais na tentativa de não perder sua brasilidade. Um toque inteligente do roteiro.

Por se tratar de uma obra que circula entre o enigmático e o mundo real, a fotografia do português Rui Poças agrega o ar esotérico que a trama necessita, abusando de belos tons neutros no começo, que vão ficando mais azulados e escuros conforme o filme amadurece, criando uma atmosfera sombria e envolvente. E se tinha algo que poderia dar errado, sem dúvida, era o visual computadorizado da criatura, que acaba sendo satisfatório, passando medo, por ser animalesco, mas também expressando encanto e bondade, outro ponto positivo para o cinema brasileiro, que pouco se envolve e se arrisca em criar efeitos visuais desse porte.

Talvez sejam os excessos o único defeito do longa, que mescla horror com drama, fantasia com mundo real, e ainda encontra espaço para cenas musicais e (perfeitas!) LGBT’s. Mesmo que tudo tenha seu devido espaço e encanto, alguns momentos há muito para se processar, o que leva o seu ritmo a sofrer uma queda que pode atrapalhar um envolvimento mais profundo.

No fim, é o conjunto da obra que faz As Boas Maneiras ser tão peculiar e especial. Definitivamente um projeto arriscado, que surpreende por ser original e belo, e que merece todo o destaque que tem recebido mundo afora. Um acerto triunfal ao terror, emocionante e que vai te fazer refletir sobre diferenças e aceitação, tudo isso dentro de uma obra obscura de fantasia.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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