No dia 27 de março irá ao ar mais uma cerimônia do Oscar, a nonagésima quarta edição, para ser mais preciso. O Oscar segue como a premiação mais importante do mundo da sétima arte mundial, e também a mais antiga e tradicional. A diferença para os outros prêmios é que tanto os escolhidos para indicações quanto os vitoriosos são selecionados pelos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográfica dos EUA, formada por mais de 7 mil membros – entre eles pessoas da área, como diretores, atores, produtores e parte da equipe em todas as funções da produção de um filme. É claro que nem sempre concordamos com os indicados ou até mesmo os vencedores, mas tudo faz parte de um sistema democrático, onde o voto da maioria é o eleito.
Com a proximidade da maior festa do cinema mundial, os cinéfilos ficam ansiosos. Afinal, o Oscar ainda é sinônimo de qualidade. E seus mais de 90 anos de estrada guardam bastante história, fatos e curiosidades. Recentemente, por exemplo, escrevi sobre os únicos 12 atores (mais atrizes na verdade, com 9 dos 12 sendo mulheres) a receberem indicações duplas (ator principal e coadjuvante) na mesma noite – matéria que você pode conferir abaixo. A cada ano, novos recordes são criados ou quebrados. É sempre interessante percebê-los. E para os amantes do cinema, aqui vai mais uma matéria sobre um recorde no Oscar. Embora seja raro, situações onde um ator foi indicado duas vezes pelo mesmo personagem na sequência de um filme ocorreram. Ou seja, o fato demonstra que a Academia não despreza ou possui desdém por continuações de filmes.
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Confira abaixo as únicas 6 vezes em que um ator recebeu indicação ao Oscar ao viver um personagem, e depois repetiu a dose na continuação ao dar vida ao mesmo personagem – mesmo muitos anos depois. Leia e comente.
Sylvester Stallone
O que?! Sim, é isso mesmo. Abrimos a lista com o grande Sylvester Stallone. Embora muitos desmereçam o ator, o classificando apenas como um troglodita da década de 80/90, Sylvester Stallone é um nome importantíssimo para o cinema entretenimento como o conhecemos hoje. Em partes é por causa dele que temos os filmes da Marvel hoje. Porém, Stallone não é apenas um herói de ação. O que muitos podem não saber, é que o astro começou a carreira como ator sério, em papeis dramáticos. Rocky – Um Lutador (1976) é um deles! É difícil ter uma perspectiva separada das inúmeras continuações, mas o primeiro filme é totalmente diferente do que a franquia se tornaria depois. O primeiro Rocky é um forte e dramático estudo de personagem, mais em sintonia com o cinema autoral da década de 70.
O longa é considerado um dos melhores (ou quem sabe o melhor) filmes de esporte do cinema, foi escrito por Stallone, e rendeu ao ator indicações como melhor roteirista e melhor ator protagonista – eventualmente levando a estatueta de melhor filme. O que Stallone conquista aqui é algo sem precedentes. Isso porque depois desta sua indicação ao Oscar, o ator viria a interpretar Rocky Balboa mais cinco vezes (de 1979 a 2006). Mas seria só na sexta vez, no derivado Creed – Nascido para Lutar (2015), que a Academia voltaria a olhar com carinho para o ator (é claro que nesse ele fez por merecer), o indicando desta vez como ator coadjuvante. Com o feito, Stallone se tornou o ator com maior hiato entre as indicações pelo mesmo papel – um total de 39 anos entre os filmes. E nunca iremos esquecer a derrota do ator para Mark Rylance. Aquele Oscar era de Stallone!
Cate Blanchett
A musa australiana Cate Blanchett precisa ser respeitada. Um pouco sumida de papeis significativos desde sua última indicação ao Oscar por Carol (2015), Blanchett está em cartaz atualmente nos cinemas com O Beco do Pesadelo, de Guillermo del Toro, que está indicado ao Oscar de melhor filme. A única mulher da lista, indicada duas vezes pelo mesmo papel, Cate Blanchett também apareceu na outra matéria citada por mim no início, como uma das 12 artistas indicadas ao Oscar duas vezes na mesma noite (como atriz principal e coadjuvante). Aqui, falamos do papel que revelou o talento de Blanchett ao mundo, o drama épico e biográfico Elizabeth (1998), no qual a atriz interpreta uma jovem e inexperiente Elizabeth I, Rainha da Inglaterra, durante os primeiros anos de seu reinado, ainda aprendendo a difícil arte de reinar como uma monarca.
O filme foi o divisor de águas na carreira da atriz, mas lembrar desta fatídica noite é sempre difícil. Isso porque foi nesta edição do prêmio, que ambas Blanchett e nossa Fernandona Montenegro (por Central do Brasil) perderam para a insossa Gwyneth Paltrow por Shakespeare Apaixonado. Seja como for, 9 anos mais tarde, Blanchett repetiria a dobradinha com a sequência do drama épico: Elizabeth – A Era de Ouro (2007), agora vivendo a mesma personagem em uma fase diferente de sua vida e reinado, mais experiente e no fim de seus anos como regente. Assim como Stallone, Blanchett não levou nenhuma das vezes, mas no mesmo ano do segundo, era que receberia sua indicação dupla, também como coadjuvante por viver o músico Bob Dylan em Não Estou Lá. Ao contrário de Stallone, no entanto, a australiana já tem não um, mas dois Oscar de atuação (coadjuvante por O Aviador e atriz protagonista por Blue Jasmine).
Al Pacino
Um dos maiores injustiçados da história dos prêmios da Academia – fato que foi satirizado na comédia de Adam Sandler, Cada um tem a Gêmea que Merece (2011) – Al Pacino é considerado um dos maiores atores de todos os tempos. O astro possui nada menos do que 9 nomeações ao Oscar, e apenas uma estatueta – de melhor ator por Perfume de Mulher (1992). Isso que é esnobada. E você achava que o Leonardo DiCaprio era o injustiçado. A prova do talento de Pacino é incontestável, e justamente por esta intensidade, o ator também apareceu entre os 12 a receber duas indicações como ator na mesma noite. E aqui, novamente em nossa lista faz parte ainda de outro recorde do Oscar. Pacino está entre os 6 atores nomeados pelo mesmo papel em filmes diferentes. É claro que falamos do clássico absoluto O Poderoso Chefão (1972), uma das melhores produções de todos os tempos.
O épico de crime atemporal recebeu 11 indicações e levou a de melhor filme, roteiro e protagonista para Marlon Brando. Fora isso, indicou além de Pacino, outros dois coadjuvantes: James Caan e Robert Duvall. E aí é que começa a confusão. Pacino se recusou a ir na citada cerimônia por acusação de fraude. Segundo Pacino, por ter mais tempo de tela que o colega Brando, ele deveria ser o protagonista e não o contrário. Bem, este tipo de polêmica sobre protagonista e coadjuvante segue no Oscar até hoje. Seja como for, dois anos depois e Pacino voltaria a ser indicado pelo papel de Michael Corleone na continuação O Poderoso Chefão 2 (1974), deste vez corretamente como protagonista. Assim, Pacino se tornava, na época, o terceiro ator com tal honraria de indicações pelo mesmo personagem.
Paul Newman
Um dos maiores astros que Hollywood já fez, o veterano Paul Newman nos deixou em 2008, aos 83 anos de idade. Um verdadeiro galã no melhor e maior sentido da palavra, Newman também não era estranho às esnobadas da Academia – tendo sido indicado um total de 10 vezes, e recebido apenas uma estatueta. O ator é outro que consta em nossa seleta lista de duas indicações pelo mesmo personagem. No caso de Newman, um personagem responsável por sua segunda nomeação da carreira. Falamos de ‘Fast’ Eddie Felson, protagonista do clássico da década de 60, Desafio à Corrupção (The Hustler). Então com 36 anos, Newman interpretou o arrogante jogador de bilhar, envolvido num jogo de alto risco com um perigoso e corrupto campeão. O filme, baseado num livro, recebeu diversas indicações ao Oscar (9 no total), incluindo melhor filme e ator para Newman.
Num dos fatos curiosos do cinema, quase 30 anos depois do original, ninguém menos do que o grande Martin Scorsese resolveu levar às telas a continuação daquele livro, com o filme A Cor do Dinheiro (1986). Agora com 61 anos de idade, ‘Fast’ Eddie pode não ser tão rápido como antes. Desta vez ele é o jogador experiente, que se depara com um jovem jogador arrogante – que o lembra muito de si mesmo (papel de um certo Tom Cruise, você conhece?). E não por menos, a Academia resolveu repetir a dose indicando Newman uma segunda vez pelo papel. Mas não apenas isso, Newman venceria dessa vez, levando seu único Oscar da carreira por atuação. O ator se tornava o quarto a receber a honraria de duas indicações no mesmo papel, e então matinha o recorde como o maior hiato entre os filmes – quebrado por Stallone em Creed.
Bing Crosby
Ator e cantor da era clássica de Hollywood, o icônico Bing Crosby começou sua carreira em 1930, e atuou até o início da década de 1970 – vindo a falecer aos 74 anos de idade, em 1977. Recentemente, na matéria sobre os 12 atores indicados na mesma noite como protagonistas e coadjuvantes, eu citei o controverso caso envolvendo o ator Barry Fitzgerald indicado nas duas categorias… pelo MESMO FILME! Mas agora, começamos a entender melhor o caso e a manobra do estúdio e da Academia. Acontece que o filme em questão é O Bom Pastor (Going My Way), de 1944, que deu também a primeira indicação ao Oscar para Bing Crosby, seguida de vitória como protagonista. Na trama, Crosby interpreta um padre novato chegando numa nova paróquia, sem conseguir se adaptar aos costumes antiquados do padre veterano (papel de Fitzgerald).
Como este ainda era o período da fatídica Segunda Guerra Mundial, O Bom Pastor foi muito vendido como um “filme para você se sentir melhor”, com bons sentimentos e enfatizando velhos costumes. Ou seja, era uma comédia leve e positiva, para levantar os espíritos da população. Não por menos, fez um enorme sucesso para a Paramount Pictures, além de conter canções bem memoráveis para a época. Vendo por este lado, é fácil notar como Fitzgerald também foi considerado um protagonista, mas acabou levando por coadjuvante para não sair de mãos abanando. No ano seguinte, ano de 1945 (quando acabou a Guerra), os produtores trataram de lançar a sequência Os Sinos de Santa Maria, agora centrando a história numa escola católica. A nova aventura do Padre O’Malley (Crosby) o coloca em colisão desta vez com a freira Benedict, papel de nenhuma outra senão Ingrid Bergman, de Casablanca (1942). Os Sinos de Santa Maria recebeu mais uma pá de indicações, incluindo melhor filme, ator para Crosby e atriz para Bergman. Assim, Crosby se tornava o primeiro ator da história a ser indicado no Oscar duas vezes pelo mesmo papel em filmes diferentes.
Peter O’Toole
Finalizamos a lista com o segundo ator a receber a honraria de ser indicado duas vezes pelo mesmo papel em filmes diferentes. Trata-se do britânico Peter O’Toole, sempre lembrado pelo lendário Lawrence da Arábia, que o rendeu sua primeira indicação ao Oscar como ator em 1963. Na segunda, é onde o ator ganharia seu ingresso para adentrar nesta seletíssima lista. O’Toole recebia sua segunda nomeação ao Oscar por Becket – O Favorito do Rei (1964), no qual interpreta o Rei da Inglaterra Henrique II. A trama gira em torno do Rei indicando seu colega da corte Thomas Beckett (Richard Burton) como Arcebispo de Cantebury, acreditando que seu amigo seria um “espião” em sua guerra contra a igreja, porém, o sujeito termina por descobrir sua verdadeira vocação com o chamado de Deus. Quatro anos depois e Peter O’Toole voltaria ao radar do Oscar para sua terceira indicação – novamente vivendo o Rei Henrique II, no filme O Leão no Inverno. A trama desta vez fala sobre os três filhos do rei, assim como sua mulher, conspirando pelo trono do regente. O’Toole não levou por nenhuma das duas, e de fato, numa das maiores injustiças da Academia, num total de 8 indicações, faleceu em 2013 aos 81 anos sem uma vitória, apenas uma estatueta honorária.
OUTRA CURIOSIDADE
Ainda falando em curiosidades e recordes, mais difícil ainda do que receber indicações pelo mesmo personagem é o fato de duas atrizes receberem indicações pelo mesmo papel no mesmo filme. Recorde este que acabou de ser aumentado com as indicações de 2022. Neste ano, Olivia Colman e Jessie Buckley somaram duas das três indicações que o drama A Filha Perdida recebeu (a outra sendo melhor roteiro adaptado para a diretora Maggie Gyllenhaal) interpretando a mesma personagem, a protagonista Leda, em fases diferentes da vida. Antes da dupla, o recorde era da ótima Kate Winslet e suas colegas em dois filmes. Por incrível que pareça, a primeira vez que um caso assim ocorreu no Oscar foi só em 1997, com o mega sucesso Titanic (1997). Pelo filme, Winslet e a veterana Gloria Stuart foram indicadas ao Oscar, vivendo o mesmo papel de Rose Dewitt. Anos mais tarde, e Winslett repetiria a façanha com o drama Íris (2001), ao dividir a personagem com a veterana Judi Dench. Resultado: ambas saíram com indicações do projeto.