domingo , 22 dezembro , 2024

‘Contágio’ | Filme sobre pandemia é mais atual do que há 9 anos

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O Dom da Premonição

O Coronavírus é uma preocupação global. Além do home office para muitos, as pessoas têm como uma das distrações assistir a filmes e séries das mais variadas formas. E uma curiosidade ocorreu logo no início do surto, lá quando ninguém imaginava a proporção que tomaria: o filme Contágio (2011), de Steven Soderbergh, voltou ao topo como um dos mais vistos na plataforma iTunes.

Ironicamente, o filme fez sua estreia mundial no Festival de Veneza, na Itália, no dia 3 de setembro de 2011. Nos EUA, o longa estreava seis dias depois. No Brasil, a primeira exibição foi durante o Festival do Rio, em 6 de outubro do mesmo ano, e a estreia em circuito ocorreu no dia 28 do mesmo mês.



Assim como havia feito em Traffic (2000) – filme vencedor de 4 Oscar -, Steven Soderbergh aborda um problema bem real, focando em diferentes subtramas que descortinam novos olhares sobre o tema. Ao invés das drogas ilícitas, o foco é uma pandemia mundial. Soderbergh é um dos cineastas norte-americanos mais prestigiados da história da sétima arte. Oriundo do cinema independente, logo em seu primeiro longa, viu seu nome se tornar sinônimo de sucesso com Sexo, Mentiras e Videotape (1989), saindo com a indicação ao Oscar de melhor roteiro original. Depois disso, recebeu uma honraria dividida apenas com o icônico Michael Curtiz (Casablanca) em toda a história dos prêmios da Academia (datando de 1929); foi indicado como melhor diretor duas vezes no mesmo ano: por Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento e Traffic, ambos de 2000. E o único a vencer por uma das duas (Traffic), já que Curtiz saiu de mãos abanando da dupla indicação por Anjos de Cara Suja e Quatro Filhas, ambos de 1938.

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Contágio é tido por especialistas como uma das superproduções Hollywoodianas mais precisas sobre a ciência do assunto que retrata. Ou talvez a mais precisa. Um dos colaboradores da equipe, o Dr. Ian Lipkin, professor de epidemiologia da Universidade de Columbia, disse que o vírus no filme foi baseado em algumas características do vírus Nipah, originário da Malásia na década de 1990, que era passado de porcos para os fazendeiros. Um artigo na revista New Scientist afirma que “É difícil encontrar superproduções investidas no realismo da ciência como Contágio. Apesar de não ser infalível, afinal não se trata de um documentário, Contágio checa bem seus dados e fatos de forma rara. Poucas produções retratam de forma tão realística o processo da ciência, em ambos o sucesso e as frustrações. Isso faz de Contágio algo único”.

É perturbador assistir a Contágio hoje, no meio do furacão do Coronavírus. É ver de forma premonitória há 9 anos, exatamente o que estamos vivendo hoje. O filme vai até mais longe, e mostra as consequências de uma epidemia difícil de ser contida e reflexo social de uma população assustada e paranoica. Os efeitos negativos que isso causaria.

Na trama, assim como na realidade, o vírus sai da China, e é levado aos EUA através da personagem de Gwyneth Paltrow (vencedora do Oscar por Shakespeare Apaixonado, 1999) – insira sua piada aqui. O papel, aliás, quase ficou nas mãos de outra vencedora do Oscar, Jennifer Connelly (Uma Mente Brilhante, 2002). Contágio é repleto de astros participando das subtramas, muitos não dividindo a cena, mas dando o peso e credibilidade a este drama desesperador. São cinco vencedores do Oscar, além de Paltrow e o diretor Soderbergh, Matt Damon (Gênio Indomável), Kate Winslet (O Leitor) e Marion Cotillard (Piaf); e outros cinco indicados: Laurence Fishburne (Tina), Elliott Gould (Bob, Carol, Ted & Alice), John Hawkes (Inverno da Alma), Jude Law (O Talentoso Ripley e Cold Mountain) e Bryan Cranston (Trumbo).

Por falar em O Talentoso Ripley (1999), Contágio marca a reunião no elenco dos três protagonistas de tal suspense, com Damon, Law e Paltrow, apesar de pouco ou quase nada contracenarem aqui. Não existe um protagonista definido no filme, este é o que podemos chamar de ensemble cast – um elenco onde todos são peças importantes para a construção da narrativa. O personagem de Damon, por exemplo, representa a visão do homem comum que se encontra no meio do turbilhão e serve como nossos olhos perante a um evento desta magnitude. Ele faz o que pode para poupar a vida da filha adolescente, mesmo que esta não compreenda totalmente a dimensão, após ter perdido a esposa e o filho pequeno.

Law é tratado como o vilão do filme – um jornalista especializado em desmascarar conspirações governamentais e as expor ao público. Assim como o caso de Edward Snowden, este tipo de comportamento era muito visto como problemático pelos americanos, ou talvez ainda seja. O principal elemento negativo desta ação é despertar o pânico demasiado e por vezes desnecessário na população, coisa que os governos tratam com precaução. Afinal, não existe nada mais agravante do que uma massa descontrolada de pessoas ignorantes. O filme ainda mostra Law como uma espécie de celebridade da internet, com um público de “2 milhões de visitantes diários” como seu personagem afirma diversas vezes, que não consegue vender seus artigos para um “jornal sério” e termina por pregar a “desinformação”. Um estereotipo que cresceu muito ao longo destes quase dez anos, e talvez tenha sido mais abraçado hoje.

O personagem mais íntegro e heroico do filme é provavelmente o médico vivido por Laurence Fishburne. Apesar de privilegiar a esposa com a cura (Sanaa Lathan), ele igualmente a leva para o filho do faxineiro de seu consultório (John Hawkes). Fechando o elenco principal, Kate Winslet filmou suas cenas em 10 dias, no papel de uma especialista em infecção, que é designada com a ingrata tarefa de ser uma agente de campo. Seu destino é um dos mais cruéis e o desfecho de sua personagem é assombroso, a la Laura Palmer na série Twin Peaks – dentro de um saco plástico. Já a médica de Marion Cotillard, membro da Associação Mundial, termina sequestrada na China e negociada em troca de vacinas para um vilarejo, uma boa causa na qual a própria se vê desnorteada pelo resultado.

Como dito pelos especialistas, Contágio não é idêntico a nada que vivemos, estamos vivendo ou viveremos (assim esperamos). O vírus no filme, embora seja transmitido através do contato e do ar, é letal para todos e não somente aos idosos e grupos de risco. Uma vez infectados, também faz suas vítimas em poucos dias, ou horas, dependendo da gravidade. Com estas diferenças cruciais, o filme de Steven Soderbergh se torna um assustador, porém, muito necessário conto cautelar e um alerta preventivo que merece atenção. Afinal, sabemos que a realidade sobressai à ficção a cada novo dia. Infelizmente.

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Ironicamente, o filme fez sua estreia mundial no Festival de Veneza, na Itália, no dia 3 de setembro de 2011. Nos EUA, o longa estreava seis dias depois. No Brasil, a primeira exibição foi durante o Festival do Rio, em 6 de outubro do mesmo ano, e a estreia em circuito ocorreu no dia 28 do mesmo mês.

Assim como havia feito em Traffic (2000) – filme vencedor de 4 Oscar -, Steven Soderbergh aborda um problema bem real, focando em diferentes subtramas que descortinam novos olhares sobre o tema. Ao invés das drogas ilícitas, o foco é uma pandemia mundial. Soderbergh é um dos cineastas norte-americanos mais prestigiados da história da sétima arte. Oriundo do cinema independente, logo em seu primeiro longa, viu seu nome se tornar sinônimo de sucesso com Sexo, Mentiras e Videotape (1989), saindo com a indicação ao Oscar de melhor roteiro original. Depois disso, recebeu uma honraria dividida apenas com o icônico Michael Curtiz (Casablanca) em toda a história dos prêmios da Academia (datando de 1929); foi indicado como melhor diretor duas vezes no mesmo ano: por Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento e Traffic, ambos de 2000. E o único a vencer por uma das duas (Traffic), já que Curtiz saiu de mãos abanando da dupla indicação por Anjos de Cara Suja e Quatro Filhas, ambos de 1938.

Contágio é tido por especialistas como uma das superproduções Hollywoodianas mais precisas sobre a ciência do assunto que retrata. Ou talvez a mais precisa. Um dos colaboradores da equipe, o Dr. Ian Lipkin, professor de epidemiologia da Universidade de Columbia, disse que o vírus no filme foi baseado em algumas características do vírus Nipah, originário da Malásia na década de 1990, que era passado de porcos para os fazendeiros. Um artigo na revista New Scientist afirma que “É difícil encontrar superproduções investidas no realismo da ciência como Contágio. Apesar de não ser infalível, afinal não se trata de um documentário, Contágio checa bem seus dados e fatos de forma rara. Poucas produções retratam de forma tão realística o processo da ciência, em ambos o sucesso e as frustrações. Isso faz de Contágio algo único”.

É perturbador assistir a Contágio hoje, no meio do furacão do Coronavírus. É ver de forma premonitória há 9 anos, exatamente o que estamos vivendo hoje. O filme vai até mais longe, e mostra as consequências de uma epidemia difícil de ser contida e reflexo social de uma população assustada e paranoica. Os efeitos negativos que isso causaria.

Na trama, assim como na realidade, o vírus sai da China, e é levado aos EUA através da personagem de Gwyneth Paltrow (vencedora do Oscar por Shakespeare Apaixonado, 1999) – insira sua piada aqui. O papel, aliás, quase ficou nas mãos de outra vencedora do Oscar, Jennifer Connelly (Uma Mente Brilhante, 2002). Contágio é repleto de astros participando das subtramas, muitos não dividindo a cena, mas dando o peso e credibilidade a este drama desesperador. São cinco vencedores do Oscar, além de Paltrow e o diretor Soderbergh, Matt Damon (Gênio Indomável), Kate Winslet (O Leitor) e Marion Cotillard (Piaf); e outros cinco indicados: Laurence Fishburne (Tina), Elliott Gould (Bob, Carol, Ted & Alice), John Hawkes (Inverno da Alma), Jude Law (O Talentoso Ripley e Cold Mountain) e Bryan Cranston (Trumbo).

Por falar em O Talentoso Ripley (1999), Contágio marca a reunião no elenco dos três protagonistas de tal suspense, com Damon, Law e Paltrow, apesar de pouco ou quase nada contracenarem aqui. Não existe um protagonista definido no filme, este é o que podemos chamar de ensemble cast – um elenco onde todos são peças importantes para a construção da narrativa. O personagem de Damon, por exemplo, representa a visão do homem comum que se encontra no meio do turbilhão e serve como nossos olhos perante a um evento desta magnitude. Ele faz o que pode para poupar a vida da filha adolescente, mesmo que esta não compreenda totalmente a dimensão, após ter perdido a esposa e o filho pequeno.

Law é tratado como o vilão do filme – um jornalista especializado em desmascarar conspirações governamentais e as expor ao público. Assim como o caso de Edward Snowden, este tipo de comportamento era muito visto como problemático pelos americanos, ou talvez ainda seja. O principal elemento negativo desta ação é despertar o pânico demasiado e por vezes desnecessário na população, coisa que os governos tratam com precaução. Afinal, não existe nada mais agravante do que uma massa descontrolada de pessoas ignorantes. O filme ainda mostra Law como uma espécie de celebridade da internet, com um público de “2 milhões de visitantes diários” como seu personagem afirma diversas vezes, que não consegue vender seus artigos para um “jornal sério” e termina por pregar a “desinformação”. Um estereotipo que cresceu muito ao longo destes quase dez anos, e talvez tenha sido mais abraçado hoje.

O personagem mais íntegro e heroico do filme é provavelmente o médico vivido por Laurence Fishburne. Apesar de privilegiar a esposa com a cura (Sanaa Lathan), ele igualmente a leva para o filho do faxineiro de seu consultório (John Hawkes). Fechando o elenco principal, Kate Winslet filmou suas cenas em 10 dias, no papel de uma especialista em infecção, que é designada com a ingrata tarefa de ser uma agente de campo. Seu destino é um dos mais cruéis e o desfecho de sua personagem é assombroso, a la Laura Palmer na série Twin Peaks – dentro de um saco plástico. Já a médica de Marion Cotillard, membro da Associação Mundial, termina sequestrada na China e negociada em troca de vacinas para um vilarejo, uma boa causa na qual a própria se vê desnorteada pelo resultado.

Como dito pelos especialistas, Contágio não é idêntico a nada que vivemos, estamos vivendo ou viveremos (assim esperamos). O vírus no filme, embora seja transmitido através do contato e do ar, é letal para todos e não somente aos idosos e grupos de risco. Uma vez infectados, também faz suas vítimas em poucos dias, ou horas, dependendo da gravidade. Com estas diferenças cruciais, o filme de Steven Soderbergh se torna um assustador, porém, muito necessário conto cautelar e um alerta preventivo que merece atenção. Afinal, sabemos que a realidade sobressai à ficção a cada novo dia. Infelizmente.

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