sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | ’13 Reasons Why’ 2ª TEMPORADA: O peso do silêncio e a perpetuidade do descaso

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Os anos se renovam e novos ciclos nascem, dando a sensação de que com eles mudanças virão. No entanto, a troca das estações – que se revela na beleza que nos cerca – nem sempre é sinônimo de transformação. Em uma era onde o bullying ganha rostos e detalhes sórdidos, a série 13 Reasons Why não é apenas um produto de entretenimento para “acalmar a mente” ou aplacar certos sentimentos. Em meio a uma sucessão de gerações de jovens e adolescentes emocionalmente doentes, a produção original da Netflix é o tiro no escuro que nos pega de surpresa, escandaliza aqueles que não querem polemizar e causa um incômodo tremendo. Assim se apresenta a segunda temporada, que começa a passos lentos, mas mostra a que veio ao se tornar um farol que pode nos guiar rumo a uma genuína alvorada.



Após seu estrondoso sucesso, que se iniciou como uma espécie de manifesto da cultura pop, surgiu o desespero. Subitamente, os densos e profundos diálogos sobre depressão, rejeição, negligência parental e estudantil, suicídio e bullying cederam espaço para uma discussão profunda sobre até que ponto a série poderia ser considerada positiva. Acusada por banalizar e incitar comportamentos suicidas, os produtores se adiantaram, retomando a história não finalizada de Hannah com uma conversa íntima e particular sobre os efeitos que poderiam reverberar da produção. Assumindo para si o papel documental de canalizar abusos e assédios reais em vidas fictícias, a Netflix entendeu que muito mais que fomentar uma rede de proteção, é preciso trabalhar a prevenção. E com uma narrativa que visa ir além do último suspiro da nossa até então narradora, somos levados para o centro do efeito dominó que uma repentina e desavisada morte pode gerar.

Embora o final da primeira temporada tenha nos dado uma breve sensação de encerramento, as aceitáveis pontas soltas propositalmente deixadas ganharam vida e aqui são tratadas pela ótica de todos os protagonistas centrais. Diante do temido julgamento de Hannah, todos aqueles que exerceram algum impacto em sua vida e, consequentemente, foram relatados em suas fitas, têm a oportunidade de recontar a narrativa, mostrando novas camadas até então não vistas. Com uma trama que se desenvolve a partir disso, revelações também se tornam extensões sobre o contexto social opressivo que cerca essas figuras, à medida que vamos nos aprofundando em uma série de rachaduras escondidas por fachadas. O medo do confronto, a omissão de professores e gestores e a profunda negação ganham novas formas, revelando muito mais que uma história fictícia, se apresentando também como uma enorme ferida aberta no sistema educacional norte-americano (e porque não mundial?).

Nos levando a uma complexa reflexão e compreensão sobre os efeitos do suicídio pós tragédia, a nova temporada amplia sua dimensão sobre a dor da perda, ao mostra um leque de perspectivas distintas, que envolve outras vítimas de abuso sexual e os conflitos emocionais que tantos de nós carregamos, mas calamos por medo. Crescendo vertiginosamente a partir do oitavo episódio, a série pega o espectador pelas mãos em seus primeiros capítulos, conduzindo-o a um entendimento precoce e – futuramente – equivocado, tanto sobre as motivações dos personagens, bem como sobre seus comportamentos. Como uma audiência que se considera astuta demais a ponto de se achar capaz de decifrar cada uma dessas figuras com facilidade, o roteiro bem alinhado nos confunde, ao nos levar a construir conceitos para, com o passar dos capítulos, desconstruí-los. Essa abordagem proposital é um presente para o público, que passa a dimensionar a série com mais maturidade, ao naturalmente perceber que nenhum ser humano é simplista demais para ser totalmente compreendido tão rapidamente. Por mostrar as nuances oscilantes do temperamento juvenil e dos traumas vividos por eles, 13 Reasons Why novamente nos leva a indagar os ambientes e pessoas que nos rodeiam.

Será que estamos oblíquos demais em relação àqueles que nos cercam? Estamos vendo as pessoas além dos sorrisos amarelados que escondem dores inaudíveis? Perguntas como essas geram aquele mesmo desconforto que a primeira temporada nos trouxe, nos incentivando a continuar abrindo o diálogo, a fim de tratar daqueles assuntos que o mundo tentou calar por tempo demais. Ao cutucar o sistema estudantil burocrático, que enxerga alunos como números e peões, com gestores manipulados por pressões políticas e distanciamento emocional, a Netflix também projeta um enorme holofote para o grau de profundidade das falhas das escolas. Estendendo esse mesmo incômodo para todas as redes educacionais, ela confronta o papel dos professores dentro e fora da sala de aula e que tipo de impacto temos gerado na sociedade como cidadãos. Dando um chacoalhão em todos que decidem seguir adiante com a produção, a gigante do streaming estende a morte de Hannah Baker para um novo patamar, fazendo um mapeamento metafórico do abuso e assédio sexual, buscando novas Hannahs que ainda sofrem em silêncio, com um terrível questionamento existencial pesando em suas almas.

Fazendo uma referência realista e dolorosa ao movimento #MeToo, 13 Reasons Why não exita em continuar chocando e incomodando as audiências, sem adoçar a narrativa com suavidades que poderiam muito bem desviar o foco de um problema genuíno no mundo. Com uma direção simples, que se destaca nas incríveis atuações de jovens atores promissores, vemos uma segunda temporada alinhavada e costurada com cuidado, trazendo outros níveis do bullying, disposta a comprar uma briga que promete gerar ainda mais polêmica por seu final. Deixando uma enorme brecha aberta, a Netflix ainda não está preparada para encerrar o assunto e promete trazer um terrível déjà vu de uma história que, infelizmente, nós conhecemos. Tiros em Columbine e Elefante, de Gus Van Sant, ainda vão se encontrar nessa trágica e tão importante narrativa.

 

Precisamos conversar sobre ’13 Reasons Why’, a série sobre SUÍCIDIO da Netflix 

’13 Reasons Why’: Psiquiatra faz ALERTA e diz que série pode encorajar o suicídio! 

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Após seu estrondoso sucesso, que se iniciou como uma espécie de manifesto da cultura pop, surgiu o desespero. Subitamente, os densos e profundos diálogos sobre depressão, rejeição, negligência parental e estudantil, suicídio e bullying cederam espaço para uma discussão profunda sobre até que ponto a série poderia ser considerada positiva. Acusada por banalizar e incitar comportamentos suicidas, os produtores se adiantaram, retomando a história não finalizada de Hannah com uma conversa íntima e particular sobre os efeitos que poderiam reverberar da produção. Assumindo para si o papel documental de canalizar abusos e assédios reais em vidas fictícias, a Netflix entendeu que muito mais que fomentar uma rede de proteção, é preciso trabalhar a prevenção. E com uma narrativa que visa ir além do último suspiro da nossa até então narradora, somos levados para o centro do efeito dominó que uma repentina e desavisada morte pode gerar.

Embora o final da primeira temporada tenha nos dado uma breve sensação de encerramento, as aceitáveis pontas soltas propositalmente deixadas ganharam vida e aqui são tratadas pela ótica de todos os protagonistas centrais. Diante do temido julgamento de Hannah, todos aqueles que exerceram algum impacto em sua vida e, consequentemente, foram relatados em suas fitas, têm a oportunidade de recontar a narrativa, mostrando novas camadas até então não vistas. Com uma trama que se desenvolve a partir disso, revelações também se tornam extensões sobre o contexto social opressivo que cerca essas figuras, à medida que vamos nos aprofundando em uma série de rachaduras escondidas por fachadas. O medo do confronto, a omissão de professores e gestores e a profunda negação ganham novas formas, revelando muito mais que uma história fictícia, se apresentando também como uma enorme ferida aberta no sistema educacional norte-americano (e porque não mundial?).

Nos levando a uma complexa reflexão e compreensão sobre os efeitos do suicídio pós tragédia, a nova temporada amplia sua dimensão sobre a dor da perda, ao mostra um leque de perspectivas distintas, que envolve outras vítimas de abuso sexual e os conflitos emocionais que tantos de nós carregamos, mas calamos por medo. Crescendo vertiginosamente a partir do oitavo episódio, a série pega o espectador pelas mãos em seus primeiros capítulos, conduzindo-o a um entendimento precoce e – futuramente – equivocado, tanto sobre as motivações dos personagens, bem como sobre seus comportamentos. Como uma audiência que se considera astuta demais a ponto de se achar capaz de decifrar cada uma dessas figuras com facilidade, o roteiro bem alinhado nos confunde, ao nos levar a construir conceitos para, com o passar dos capítulos, desconstruí-los. Essa abordagem proposital é um presente para o público, que passa a dimensionar a série com mais maturidade, ao naturalmente perceber que nenhum ser humano é simplista demais para ser totalmente compreendido tão rapidamente. Por mostrar as nuances oscilantes do temperamento juvenil e dos traumas vividos por eles, 13 Reasons Why novamente nos leva a indagar os ambientes e pessoas que nos rodeiam.

Será que estamos oblíquos demais em relação àqueles que nos cercam? Estamos vendo as pessoas além dos sorrisos amarelados que escondem dores inaudíveis? Perguntas como essas geram aquele mesmo desconforto que a primeira temporada nos trouxe, nos incentivando a continuar abrindo o diálogo, a fim de tratar daqueles assuntos que o mundo tentou calar por tempo demais. Ao cutucar o sistema estudantil burocrático, que enxerga alunos como números e peões, com gestores manipulados por pressões políticas e distanciamento emocional, a Netflix também projeta um enorme holofote para o grau de profundidade das falhas das escolas. Estendendo esse mesmo incômodo para todas as redes educacionais, ela confronta o papel dos professores dentro e fora da sala de aula e que tipo de impacto temos gerado na sociedade como cidadãos. Dando um chacoalhão em todos que decidem seguir adiante com a produção, a gigante do streaming estende a morte de Hannah Baker para um novo patamar, fazendo um mapeamento metafórico do abuso e assédio sexual, buscando novas Hannahs que ainda sofrem em silêncio, com um terrível questionamento existencial pesando em suas almas.

Fazendo uma referência realista e dolorosa ao movimento #MeToo, 13 Reasons Why não exita em continuar chocando e incomodando as audiências, sem adoçar a narrativa com suavidades que poderiam muito bem desviar o foco de um problema genuíno no mundo. Com uma direção simples, que se destaca nas incríveis atuações de jovens atores promissores, vemos uma segunda temporada alinhavada e costurada com cuidado, trazendo outros níveis do bullying, disposta a comprar uma briga que promete gerar ainda mais polêmica por seu final. Deixando uma enorme brecha aberta, a Netflix ainda não está preparada para encerrar o assunto e promete trazer um terrível déjà vu de uma história que, infelizmente, nós conhecemos. Tiros em Columbine e Elefante, de Gus Van Sant, ainda vão se encontrar nessa trágica e tão importante narrativa.

 

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