UMA BOA APOSTA
O mercado financeiro não é uma pessoa cheia de vontades, mas o resultado das ações de várias pessoas. Esta é a perspectiva adotada pelo filme A Grande Aposta (The Big Short), desde a primeira sequência. Abordando a crise financeira de 2008, o diretor Adam McKay conta a história real de investidores que farejaram a crise anos antes dela acontecer e saíram lucrando apostando que o castelo das hipotecas iria ruir.
O filme retrata 4 grupos de investidores que apostaram que o boom imobiliário nos Estados Unidos era, na verdade, uma bolha. Ou seja, fizeram uma especulação. É curioso que o roteiro de McKay e de Charles Randolph, conscientemente ou não, coloque especuladores como figuras simpáticas ao público. Esta perspectiva pode ser fruto apenas do material de origem, um livro-reportagem sobre especuladores que previram o desastre. De qualquer forma, o filme segue os passos desses homens, a começar por Michael Burry (Christian Bale), um sujeito estranho e de difícil socialização que, após analisar milhares de dados, conclui que a crise estava próxima.
Com um tema tão árido, A Grande Aposta poderia ser pesado e cerebral. Que nada! Roteiro e direção conseguem produzir um filme leve, ágil, próximo do tom da comédia. Digo próximo porque são poucos os instantes nos quais é possível gargalhar – na minha sessão escutei risos, mas não gargalhadas.
Sabendo das dificuldades, o roteiro mastiga os conceitos básicos necessários para que o público entre na narrativa. Para que as explicações mais básicas não soassem estranhas numa conversa entre profissionais da área, o filme usa narradores e não tem vergonha de quebrar a quarta parede – quando o personagem olha e conversa diretamente com o espectador. Em certos momentos, eles pedem uma ajudinha de algum famoso para explicar conceitos mais complexos – o auxílio da atriz Margot Robbie é inesquecível!
A montagem do filme é ágil, dando um tom mais leve à narrativa. Em vários pontos, as sequências são compostas por cortes secos (jump cuts) e montagens paralelas. Em certos trechos, o plano é intercalado por uma série de imagens, aparentemente aleatórias, que comentam e dão novos significados às situações que acabamos de ver. O impecável trabalho de som tanto mantém esse ritmo, quanto fornecer novos significados para o que está na tela, fugindo do lugar comum da simples reiteração.
Esses elementos criam um filme ágil e envolvente, fazendo com que o público embarque na adrenalina dos protagonistas. Indo um passo além, o roteiro inclui a seguinte sequência: em um momento de euforia de Charlie Geller (John Magaro) e Jamie Shipley (Finn Wittrock), após fazerem uma aposta realmente arriscada, o parceiro deles, Ben Rickert (Brad Pitt), interrompe a festa e os chama para a realidade: para eles ganharem, a econômica americana precisa quebrar e as pessoas perderem seus empregos e patrimônios.
E eis um dos maiores méritos do diretor: usar a técnica cinematográfica para colocar o espectador na mesma posição daqueles especuladores, para, em seguida, fazê-lo percebe que a cegueira e a ganância que contribuíram para a crise não são privilégios de mega investidores, mas produtos que qualquer mortal tem acesso.
E, ai, o que achou? Vamos, comente, diga o que achou sobre o filme e curta nossas redes sociais:
http://www.facebook.com/georgenor.franco
http://www.facebook.com/sitecinepop