quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica 2 | Back to Black – Cinebiografia de Amy Winehouse Faz Recorte Generoso da Conturbada Vida da Cantora

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Amy Winehouse foi um foguete que alçou voo e explodiu em um intervalo muito curto de tempo. Mesmo quem não acompanhou a carreira dela de perto ouviu suas músicas ou ficou sabendo pela mídia sobre sua vida caótica. A contragosto, a vida pessoal de Amy Winehouse ofuscou muitas vezes o seu talento, que era fora do comum, e concorreu de perto com as manchetes dos jornais. Tudo sobre Amy era intenso, imprevisível, profundo, passional, e esse furor que chega a partir dessa semana nos cinemas brasileiros com a cinebiografia ficcional ‘Back to Black’.

 Amy Winehouse, Back to Black



Amy (Marisa Abela, em seu primeiro papel grande) não tinha nem dezoito anos e já cantava muito. Sua voz encantava principalmente à sua família – seu pai Mitch (Eddie Marsan, de ‘Downton Abbey’) e Nan (Lesley Manville, de ‘Sra. Harris Vai a Paris’) –, e acaba chamando a atenção de empresários, dispostos a lançá-la mundialmente. Apesar de gostar de cantar e sentir a necessidade de compor, Amy não tinha nenhum interesse por fama ou estrelato, e começa a encontrar dificuldades para performar do modo como seus empresários esperam. No meio disso tudo, conhece casualmente a Blake (Jack O’Connell, de ‘O Amante de Lady Chatterley’), e imediatamente se apaixona perdidamente por ele, mesmo o rapaz tendo uma namorada. Começava ali a grande e tóxica história de amor entre os dois, que levaria à composição do mais famoso álbum de Amy, ‘Back to Black’.

Matt Greenhalgh até então tivera trabalhos pouco expressivos como roteirista, mas ficou a cargo do roteiro de ‘Back to Black’, o que já levanta a desconfiança. Para a cinebiografia de uma personalidade tão caótica quanto Amy, Matt faz um recorte interessante sobre a vida da biografada: começa na adolescência ingênua da jovem Amy, percorre o início de carreira e concentra sua narrativa no relacionamento (pro bem e pro mal) dela com Blake, nos impactos que teve na sua vida pessoal e artística, e finaliza dando pouca luz ao auge da carreira da cantora. Ou seja, constrói uma jornada da pureza ao luto, ao fundo do poço que fez com que a cantora compusesse o ‘Back to Black’. Ao optar por demonstrar os eventos pessoais que se conectam com as canções, o filme acaba fazendo um recorte seletivo da vida da biografada, colocando Blake como o grande vilão e deixando a família e os empresários como mero espectadores da vida de Amy. Um problema crucial é a passagem de tempo (o filme abraça um período de cerca de dez anos), que não fica clara com o desenrolar dos eventos e confunde muitas vezes sobre a sequência dos fatos.

 Amy Winehouse, Back to Black

Sam Taylor-Johnson (que dirigiu ‘Cinquenta Tons de Cinza’) faz planos interessantes para usar a luz em favor do rosto de sua protagonista, dando ênfase às tomadas de perfil e de cima, que acentuam o nariz e os cabelos da personagem. Ao mesmo tempo, faz uma escolha consciente de não retratar a decadência (física, psicológica, emocional) de Amy, permitindo que os únicos detalhes da caracterização que indicam o caos na vida da biografada fossem um cabelo bagunçado e uma maquiagem escorrida. A realização de uma produção positiva sobre Amy (que opta por não dar ênfase às inúmeras crises emocionais, às cenas de consumo de drogas, às múltiplas violências sofridas e causadas por Amy), que resume seus problemas à dependência alcoólica e a codependência tóxica por seu marido Blake suaviza o que de fato foi o turbilhão vertiginoso chamado Amy Winehouse.

Marisa Abela se dedica ao papel, mas por muitas vezes não nos desconectamos da realidade de que estamos vendo um filme (o que, para uma cinebiografia, é prejudicial, pois o ideal é você esquecer do ator e focar no biografado). Isso ocorre nas cenas de canto, nas cenas dela mais jovem, nas cenas sóbrias, mas Marisa fica realmente boa no cerne da produção, que é sua interação com Jack O’Connell.

Em suma, ‘Back to Black’ faz uma jornada emocional sobre um dos maiores álbuns musicais do século XXI e mostra uma Amy Winehouse como ela gostaria de ser vista e lembrada – mas não exatamente como ela foi de fato. Aliás, é com esta frase que o filme começa. É um filme irregular, mas, ainda assim, um bom filme.

 Amy Winehouse, Back to Black

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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 Amy Winehouse, Back to Black

Amy (Marisa Abela, em seu primeiro papel grande) não tinha nem dezoito anos e já cantava muito. Sua voz encantava principalmente à sua família – seu pai Mitch (Eddie Marsan, de ‘Downton Abbey’) e Nan (Lesley Manville, de ‘Sra. Harris Vai a Paris’) –, e acaba chamando a atenção de empresários, dispostos a lançá-la mundialmente. Apesar de gostar de cantar e sentir a necessidade de compor, Amy não tinha nenhum interesse por fama ou estrelato, e começa a encontrar dificuldades para performar do modo como seus empresários esperam. No meio disso tudo, conhece casualmente a Blake (Jack O’Connell, de ‘O Amante de Lady Chatterley’), e imediatamente se apaixona perdidamente por ele, mesmo o rapaz tendo uma namorada. Começava ali a grande e tóxica história de amor entre os dois, que levaria à composição do mais famoso álbum de Amy, ‘Back to Black’.

Matt Greenhalgh até então tivera trabalhos pouco expressivos como roteirista, mas ficou a cargo do roteiro de ‘Back to Black’, o que já levanta a desconfiança. Para a cinebiografia de uma personalidade tão caótica quanto Amy, Matt faz um recorte interessante sobre a vida da biografada: começa na adolescência ingênua da jovem Amy, percorre o início de carreira e concentra sua narrativa no relacionamento (pro bem e pro mal) dela com Blake, nos impactos que teve na sua vida pessoal e artística, e finaliza dando pouca luz ao auge da carreira da cantora. Ou seja, constrói uma jornada da pureza ao luto, ao fundo do poço que fez com que a cantora compusesse o ‘Back to Black’. Ao optar por demonstrar os eventos pessoais que se conectam com as canções, o filme acaba fazendo um recorte seletivo da vida da biografada, colocando Blake como o grande vilão e deixando a família e os empresários como mero espectadores da vida de Amy. Um problema crucial é a passagem de tempo (o filme abraça um período de cerca de dez anos), que não fica clara com o desenrolar dos eventos e confunde muitas vezes sobre a sequência dos fatos.

 Amy Winehouse, Back to Black

Sam Taylor-Johnson (que dirigiu ‘Cinquenta Tons de Cinza’) faz planos interessantes para usar a luz em favor do rosto de sua protagonista, dando ênfase às tomadas de perfil e de cima, que acentuam o nariz e os cabelos da personagem. Ao mesmo tempo, faz uma escolha consciente de não retratar a decadência (física, psicológica, emocional) de Amy, permitindo que os únicos detalhes da caracterização que indicam o caos na vida da biografada fossem um cabelo bagunçado e uma maquiagem escorrida. A realização de uma produção positiva sobre Amy (que opta por não dar ênfase às inúmeras crises emocionais, às cenas de consumo de drogas, às múltiplas violências sofridas e causadas por Amy), que resume seus problemas à dependência alcoólica e a codependência tóxica por seu marido Blake suaviza o que de fato foi o turbilhão vertiginoso chamado Amy Winehouse.

Marisa Abela se dedica ao papel, mas por muitas vezes não nos desconectamos da realidade de que estamos vendo um filme (o que, para uma cinebiografia, é prejudicial, pois o ideal é você esquecer do ator e focar no biografado). Isso ocorre nas cenas de canto, nas cenas dela mais jovem, nas cenas sóbrias, mas Marisa fica realmente boa no cerne da produção, que é sua interação com Jack O’Connell.

Em suma, ‘Back to Black’ faz uma jornada emocional sobre um dos maiores álbuns musicais do século XXI e mostra uma Amy Winehouse como ela gostaria de ser vista e lembrada – mas não exatamente como ela foi de fato. Aliás, é com esta frase que o filme começa. É um filme irregular, mas, ainda assim, um bom filme.

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