sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica 2 | Fantasia Barrino DOMINA as telonas com a potente adaptação de ‘A Cor Púrpura’

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Em 2005, a clássica história A Cor Púrpura, baseada no romance homônimo de Alice Walker, chegava aos palcos da Broadway e se consagrava como uma das maiores produções teatrais da década, encantando o público e a crítica através de uma pungente e necessária narrativa que ressoa até os dias de hoje. Quase duas décadas depois, a versão cinematográfica do musical chegou aos cinemas brasileiros – e, mesmo com alguns deslizes pontuais, emergiu como uma das produções mais aclamadas da temporada de premiações, guiada por um elenco estelar, canções espetaculares e uma condução fílmica impecável cortesia de Blitz Bazawule (mesmo nome por trás de Black Is King, que co-dirigiu com Beyoncé).

A história é centrada em duas irmãs, Celie e Nettie, interpretadas por Phylicia Pearl Mpasi e Halle Bailey, respectivamente, como suas versões mais novas. Vivendo no litoral da Geórgia em 1909, as irmãs têm uma perspectiva única sobre o mundo e acreditam que, caso estejam juntas, podem enfrentar quaisquer dificuldades – seja em relação à sociedade em que vivem ou ao duro pai, Alfonso (Deon Cole), que as trata como se fossem apenas meios para um fim. Entretanto, as coisas mudam da noite para o dia quando Alfonso decide dar a mão de Celie, filha que encara como uma criatura feia, mas que trabalha duro, a Albert “Mister” Johnson (Colman Domingo), um pai solteiro que age como o “macho alfa” da pequena comunidade onde vivem e que apenas aceita a jovem menina para tratá-la como serviçal, obrigando-a a fazer todas as tarefas domésticas, a cuidar de seus três filhos bastardos e a ficar confinada à sua propriedade.



Pouco depois, Nettie foge de casa ao quase ser assediada pelo próprio pai, tendo a permissão de Mister para morar lá ao lado da irmã. Todavia, o fazendeiro, que tinha como desejo colocar as mãos em Nettie, tenta violentá-la e, ao recusar os avanços do homem, ela é expulsa da casa e foge para algum lugar. Desde então, décadas se passam sem que as irmãs se comuniquem, levando Celie a acreditar que sua única família talvez tenha morrido – e que ela se vê sozinha em um lugar a que não pertence. Constantemente abusada por Mister e sem qualquer prospecto de sair de uma vida a que foi arremessada, ela percebe que tem o que é necessário para se desvencilhar dos problemas que a cercam, munindo-se de amigos que podem ajudá-la e de uma força de vontade que lhe dá os elementos necessários para dar a volta por cima.

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A princípio, é preciso comentar sobre a sólida direção de Bazawule. Diferente de outras produções musicais lançadas nos últimos anos, como ‘Wonka’, ‘O Rei do Show’ e ‘O Retorno de Mary Poppins’, por exemplo, o cineasta tenta se afastar ao máximo da espetacularização imagética, construindo sequências mais críveis e que refletem o cenário em que a história se desenrola. Levando os espectadores às vibrantes e quentes terras do sul dos Estados Unidos, décadas antes das políticas segregativas dominarem a sociedade norte-americana, ele preza por uma arquitetura amarelada – indicando a jornada de amadurecimento pela qual Celie irá passar -, em contraste com uma celebração do blues, do jazz e do gospel que permeiam cada uma das soberbas tracks. Além disso, é notável como Bazawule emula clássicos do gênero, como ‘Cantando na Chuva’ e ‘Chicago’, sem abandonar sua original identidade e as mensagens a que se propõe a entregar.

No centro dessa incrível trama, temos Fantasia Barrino como a versão mais velha de Celie, entregando-se de corpo e alma a uma performance arrebatadora que deveria ter lhe rendido uma indicação ao Oscar. Em sua estreia no circuito cinematográfico, a vencedora do American Idol nos conquista desde o primeiro momento em que aparece nas telonas, delineando um arco bem claro de sua personagem – que passa de uma sofrida mulher negra a uma poderosa empresária que sabe que pode trilhar, sozinha, um caminho para o sucesso. Ao lado dela, temos Danielle Brooks encarnando Sofia, voltando aos holofotes em mais uma interpretação irretocável; e Taraji P. Henson como Shug Avery, uma sedutora mulher que deixou sua cidade natal, a contragosto do pai religioso, para se tornar uma famosa cantora de blues e uma das pessoas que ajudam Celie a se livrar de um tormento infindável.

Domingo é outra potência a agraciar o elenco do longa-metragem: ao viver Mister, o ator rende-se a um dos melhores trabalhos de sua carreira – que foi esquecido pela academia, ainda que ele tenha sido indicado por ‘Rustin’ – e nos faz odiá-lo nas telonas. À medida que ele percebe o modo como tratou Celie e como o “carma não falha”, ele passa por uma espécie de arco de redenção que culmina em um ótimo final feliz em que tudo o que a protagonista desejava acabou se tornando realidade – incluindo sua reunião com a irmã e com uma família que ela jamais imaginou ter.

É claro que lidamos com alguns problemas de ritmo e de estrutura cinematográfica que devem ser mencionados – como uma estética de montagem que, por vezes, quebra a magia evocada pela história, ou certas emulações cansativas. Não obstante os breves equívocos, A Cor Púrpura é uma potente obra que faz jus ao legado de Alice Walker e à narrativa que eternizou tantos anos atrás – colocando em foco um time de artistas que merece ser glorificado.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Em 2005, a clássica história A Cor Púrpura, baseada no romance homônimo de Alice Walker, chegava aos palcos da Broadway e se consagrava como uma das maiores produções teatrais da década, encantando o público e a crítica através de uma pungente e necessária narrativa que ressoa até os dias de hoje. Quase duas décadas depois, a versão cinematográfica do musical chegou aos cinemas brasileiros – e, mesmo com alguns deslizes pontuais, emergiu como uma das produções mais aclamadas da temporada de premiações, guiada por um elenco estelar, canções espetaculares e uma condução fílmica impecável cortesia de Blitz Bazawule (mesmo nome por trás de Black Is King, que co-dirigiu com Beyoncé).

A história é centrada em duas irmãs, Celie e Nettie, interpretadas por Phylicia Pearl Mpasi e Halle Bailey, respectivamente, como suas versões mais novas. Vivendo no litoral da Geórgia em 1909, as irmãs têm uma perspectiva única sobre o mundo e acreditam que, caso estejam juntas, podem enfrentar quaisquer dificuldades – seja em relação à sociedade em que vivem ou ao duro pai, Alfonso (Deon Cole), que as trata como se fossem apenas meios para um fim. Entretanto, as coisas mudam da noite para o dia quando Alfonso decide dar a mão de Celie, filha que encara como uma criatura feia, mas que trabalha duro, a Albert “Mister” Johnson (Colman Domingo), um pai solteiro que age como o “macho alfa” da pequena comunidade onde vivem e que apenas aceita a jovem menina para tratá-la como serviçal, obrigando-a a fazer todas as tarefas domésticas, a cuidar de seus três filhos bastardos e a ficar confinada à sua propriedade.

Pouco depois, Nettie foge de casa ao quase ser assediada pelo próprio pai, tendo a permissão de Mister para morar lá ao lado da irmã. Todavia, o fazendeiro, que tinha como desejo colocar as mãos em Nettie, tenta violentá-la e, ao recusar os avanços do homem, ela é expulsa da casa e foge para algum lugar. Desde então, décadas se passam sem que as irmãs se comuniquem, levando Celie a acreditar que sua única família talvez tenha morrido – e que ela se vê sozinha em um lugar a que não pertence. Constantemente abusada por Mister e sem qualquer prospecto de sair de uma vida a que foi arremessada, ela percebe que tem o que é necessário para se desvencilhar dos problemas que a cercam, munindo-se de amigos que podem ajudá-la e de uma força de vontade que lhe dá os elementos necessários para dar a volta por cima.

A princípio, é preciso comentar sobre a sólida direção de Bazawule. Diferente de outras produções musicais lançadas nos últimos anos, como ‘Wonka’, ‘O Rei do Show’ e ‘O Retorno de Mary Poppins’, por exemplo, o cineasta tenta se afastar ao máximo da espetacularização imagética, construindo sequências mais críveis e que refletem o cenário em que a história se desenrola. Levando os espectadores às vibrantes e quentes terras do sul dos Estados Unidos, décadas antes das políticas segregativas dominarem a sociedade norte-americana, ele preza por uma arquitetura amarelada – indicando a jornada de amadurecimento pela qual Celie irá passar -, em contraste com uma celebração do blues, do jazz e do gospel que permeiam cada uma das soberbas tracks. Além disso, é notável como Bazawule emula clássicos do gênero, como ‘Cantando na Chuva’ e ‘Chicago’, sem abandonar sua original identidade e as mensagens a que se propõe a entregar.

No centro dessa incrível trama, temos Fantasia Barrino como a versão mais velha de Celie, entregando-se de corpo e alma a uma performance arrebatadora que deveria ter lhe rendido uma indicação ao Oscar. Em sua estreia no circuito cinematográfico, a vencedora do American Idol nos conquista desde o primeiro momento em que aparece nas telonas, delineando um arco bem claro de sua personagem – que passa de uma sofrida mulher negra a uma poderosa empresária que sabe que pode trilhar, sozinha, um caminho para o sucesso. Ao lado dela, temos Danielle Brooks encarnando Sofia, voltando aos holofotes em mais uma interpretação irretocável; e Taraji P. Henson como Shug Avery, uma sedutora mulher que deixou sua cidade natal, a contragosto do pai religioso, para se tornar uma famosa cantora de blues e uma das pessoas que ajudam Celie a se livrar de um tormento infindável.

Domingo é outra potência a agraciar o elenco do longa-metragem: ao viver Mister, o ator rende-se a um dos melhores trabalhos de sua carreira – que foi esquecido pela academia, ainda que ele tenha sido indicado por ‘Rustin’ – e nos faz odiá-lo nas telonas. À medida que ele percebe o modo como tratou Celie e como o “carma não falha”, ele passa por uma espécie de arco de redenção que culmina em um ótimo final feliz em que tudo o que a protagonista desejava acabou se tornando realidade – incluindo sua reunião com a irmã e com uma família que ela jamais imaginou ter.

É claro que lidamos com alguns problemas de ritmo e de estrutura cinematográfica que devem ser mencionados – como uma estética de montagem que, por vezes, quebra a magia evocada pela história, ou certas emulações cansativas. Não obstante os breves equívocos, A Cor Púrpura é uma potente obra que faz jus ao legado de Alice Walker e à narrativa que eternizou tantos anos atrás – colocando em foco um time de artistas que merece ser glorificado.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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