quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | 2ª temporada de ‘Good Omens’ é ainda mais ÁCIDA e divertida que a primeira

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Contrariando as nossas expectativas, o Prime Video anunciou a 2ª temporada de Good Omens, baseado no romance ‘Belas Maldições’, de Neil Gaiman e Terry Pratchett, no ano passado – algo que veio com grande surpresa para o público. Afinal, o projeto havia sido confirmado como uma minissérie; entretanto, o sucesso entre os fãs foi tamanho que Gaiman não teve outra opção a não ser dar continuidade a esse universo fantástico e extremamente ácido. Quatro anos depois do ciclo de estreia, Gaiman e John Finnemore uniram forças para explorar ainda mais esse cosmos quase impecável e entregaram episódios que superam a primeira iteração em quase todos os quesitos.

Os capítulos inéditos seguem os passos dos anteriores, mas funcionam como uma história independente que dá continuidade à vivida pelos protagonistas e coadjuvantes. De novo, somos entregues a uma amálgama de temáticas religiosas que, de modo bem-humorado e sarcástico na medida certa, são recriadas a fim de nos levar a refletir sobre dogmas que regem nossa sociedade desde sempre. No centro dos holofotes, temos o demônio Crowley (David Tennant) e o anjo Aziraphale (Michael Sheen), ambos taxados como traidores e destituídos de seus cargos no Inferno e no Paraíso, respectivamente: mesmo mantendo seus incríveis poderes, eles agora vivem entre os humanos e formam laços de amizade improváveis que os unem em uma missão em comum – garantir que o equilíbrio e a paz continuem.



Todavia, as coisas viram de cabeça para baixo quando os protagonistas recebem a visita inusitada do Arcanjo Gabriel (Jon Hamm), que, por um triz, não os destruiu nos eventos da temporada predecessora. Mas agora Gabriel não sabe quem é e não tem ideia do que foi fazer ao visitá-los – ora, ele nem ao menos os conhece. E, contrariando o que sua intuição lhe diz, Aziraphale resolve ajudá-lo (e não comentar com os dirigentes do Inferno ou do Céu que o encontrou), ainda mais por ele prenunciar um acontecimento terrível que não é nos revelado em momento algum e aumenta o enervante suspense arquitetado pelo roteiro. A narrativa mergulha de cabeça em um mistério cômico que traz ares de recentes títulos como ‘Entre Facas e Segredos’ e ‘Poker Face’, prezando pela irreverência e garantindo que os espectadores se interessem pelo que está sendo dito.

Tennant e Sheen fazem um trabalho espetacular que amplia o relacionamento complicado entre Crowley e Aziraphale: os atores nutrem de uma química invejável, irradiando uma delineação apaixonante e apaixonada que nos leva a torcer para que o que quer que esteja acontecendo entre eles dê certo. Aziraphale posa com uma presença imponente e leve ao mesmo tempo, tentando fazer com que a bondade prevaleça e tentando arrancar um pouco de luz de Crowley; o demônio, por sua vez, é mais explosivo e deixa suas emoções falarem mais alto do que deveriam – sobretudo quando se trata do anjo.

Hamm também entrega uma performance memorável como Gabriel, aproveitando um timing cômico digno de outras atuações que já entregou no passado, como em ‘Mad Men’, mas é Miranda Richardson que comanda cada sequência em que aparece. A icônica atriz havia aparecido como Madame Tracy na temporada de estreia apenas para consagrar o papel do demônio Shax – mostrando-se estar do lado de Crowley quando, na verdade, apenas conspirava para atacá-lo por esconder Gabriel e cooperar com um anjo. Richardson demonstra uma afinidade gigantesca com seus colegas de cena, garantindo que sua presença seja notada e que perpasse tanto momentos de quebra de expectativa quanto impulsos de terror e raiva que nos fazem relembrar de sua condição como serva do submundo.

A estética do segundo ciclo se vale de espectros teatrais e de uma fantasia nostálgica, propositalmente marcada pelo exagero e pelo contraste entre os efeitos visuais e os cenários construídos em estúdio – denotando uma linha de continuidade com a temporada anterior. Tanto a cronologia presente quanto os constantes flashbacks são movidos por uma afeição pelo expressionismo, incluindo os estranhos ângulos de enquadramento, o uso intenso de cores e até mesmo a construção de arquétipos de personagens (a luta do bem contra o mal). Todos os elementos se aglutinam em uma explosão inescapável e incansável de eventos que nos impedem de desviar os olhos das telinhas – mesmo com pontuais deslizes de ritmo acontecendo aqui e ali.

Good Omens retorna com uma segunda temporada que beira a impecabilidade, garantindo que as polêmicas que certos conservadores destacaram ganhem mais visibilidade e continuem a se provar como parte intrínseca da história. As linhas entre o bem e o mal, creditadas como bem definidas entre si, fundem em uma renegação ao maniqueísmo e reiteram uma discussão importância sobre como as coisas não são “preto-e-branco” como muitos aparentam acreditar.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Os capítulos inéditos seguem os passos dos anteriores, mas funcionam como uma história independente que dá continuidade à vivida pelos protagonistas e coadjuvantes. De novo, somos entregues a uma amálgama de temáticas religiosas que, de modo bem-humorado e sarcástico na medida certa, são recriadas a fim de nos levar a refletir sobre dogmas que regem nossa sociedade desde sempre. No centro dos holofotes, temos o demônio Crowley (David Tennant) e o anjo Aziraphale (Michael Sheen), ambos taxados como traidores e destituídos de seus cargos no Inferno e no Paraíso, respectivamente: mesmo mantendo seus incríveis poderes, eles agora vivem entre os humanos e formam laços de amizade improváveis que os unem em uma missão em comum – garantir que o equilíbrio e a paz continuem.

Todavia, as coisas viram de cabeça para baixo quando os protagonistas recebem a visita inusitada do Arcanjo Gabriel (Jon Hamm), que, por um triz, não os destruiu nos eventos da temporada predecessora. Mas agora Gabriel não sabe quem é e não tem ideia do que foi fazer ao visitá-los – ora, ele nem ao menos os conhece. E, contrariando o que sua intuição lhe diz, Aziraphale resolve ajudá-lo (e não comentar com os dirigentes do Inferno ou do Céu que o encontrou), ainda mais por ele prenunciar um acontecimento terrível que não é nos revelado em momento algum e aumenta o enervante suspense arquitetado pelo roteiro. A narrativa mergulha de cabeça em um mistério cômico que traz ares de recentes títulos como ‘Entre Facas e Segredos’ e ‘Poker Face’, prezando pela irreverência e garantindo que os espectadores se interessem pelo que está sendo dito.

Tennant e Sheen fazem um trabalho espetacular que amplia o relacionamento complicado entre Crowley e Aziraphale: os atores nutrem de uma química invejável, irradiando uma delineação apaixonante e apaixonada que nos leva a torcer para que o que quer que esteja acontecendo entre eles dê certo. Aziraphale posa com uma presença imponente e leve ao mesmo tempo, tentando fazer com que a bondade prevaleça e tentando arrancar um pouco de luz de Crowley; o demônio, por sua vez, é mais explosivo e deixa suas emoções falarem mais alto do que deveriam – sobretudo quando se trata do anjo.

Hamm também entrega uma performance memorável como Gabriel, aproveitando um timing cômico digno de outras atuações que já entregou no passado, como em ‘Mad Men’, mas é Miranda Richardson que comanda cada sequência em que aparece. A icônica atriz havia aparecido como Madame Tracy na temporada de estreia apenas para consagrar o papel do demônio Shax – mostrando-se estar do lado de Crowley quando, na verdade, apenas conspirava para atacá-lo por esconder Gabriel e cooperar com um anjo. Richardson demonstra uma afinidade gigantesca com seus colegas de cena, garantindo que sua presença seja notada e que perpasse tanto momentos de quebra de expectativa quanto impulsos de terror e raiva que nos fazem relembrar de sua condição como serva do submundo.

A estética do segundo ciclo se vale de espectros teatrais e de uma fantasia nostálgica, propositalmente marcada pelo exagero e pelo contraste entre os efeitos visuais e os cenários construídos em estúdio – denotando uma linha de continuidade com a temporada anterior. Tanto a cronologia presente quanto os constantes flashbacks são movidos por uma afeição pelo expressionismo, incluindo os estranhos ângulos de enquadramento, o uso intenso de cores e até mesmo a construção de arquétipos de personagens (a luta do bem contra o mal). Todos os elementos se aglutinam em uma explosão inescapável e incansável de eventos que nos impedem de desviar os olhos das telinhas – mesmo com pontuais deslizes de ritmo acontecendo aqui e ali.

Good Omens retorna com uma segunda temporada que beira a impecabilidade, garantindo que as polêmicas que certos conservadores destacaram ganhem mais visibilidade e continuem a se provar como parte intrínseca da história. As linhas entre o bem e o mal, creditadas como bem definidas entre si, fundem em uma renegação ao maniqueísmo e reiteram uma discussão importância sobre como as coisas não são “preto-e-branco” como muitos aparentam acreditar.

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