domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | 2ª temporada de ‘Modern Love’ apara alguns excessos, mas ainda fica no meio do caminho

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Parece que já faz uma eternidade desde que a 1ª temporada da divertida e simples antologia Modern Love estreou no catálogo da Amazon Prime Video. Lançada em 2018, a série reacendeu a chama envolvente dos dramas românticos, contando breves histórias de amor através de um elenco de ponta liderado por nomes como Anne Hathaway, Dev Patel, Tina Fey e muitos outros. Apesar de alguns problemas estruturais de roteiro e de mensagens um tanto quanto óbvias até mesmo dentro do espectro da modernidade líquida, as incríveis atuações foram o bastante para manter o público atento ao desenrolar das tramas – motivo pelo qual não poderíamos esperar mais para a chegada do segundo ciclo.

Renovando os nomes e mantendo a acalentadora honestidade que nos deslumbrou da primeira vez, a temporada da antologia veio acompanhada de oito episódios, cada qual circunscrito a determinados aspectos dos relacionamentos humanos – pincelados com temas como empatia, saudade, traição, nostalgia e companheirismo. Entretanto, mesmo com as ótimas intenções e com as atuações on point dos protagonistas e coadjuvantes, certas escolhas artísticas e reviravoltas nos enredos são um tanto quanto forçadas e não fazem jus ao potencial que já apresentou anteriormente – ainda que, no final das contas, a série foque mais nas mensagens sinestésicas do que em revolucionar um nicho tão explorado quanto esse.



As ambições do roteirista e diretor John Carney, que retorna para comandar os novos capítulos, são bastante claras e notáveis. Bem como a iteração predecessora, cada iteração parte de uma linha bastante compreensível e relacionável com qualquer um que já tenha se apaixonado por alguém – e tenha passado por todos os obstáculos intrínsecos ao firmamento de relações. Logo no primeiro episódio, por exemplo, temos a complexa história que envolve Zoe (Zoe Chao) e Jordan (Gbenga Akinnagbe). Pertencentes a dois mundos totalmente diferentes, Zoe sofre de uma síndrome que inverte todos os seus horários e a faz viver no misterioso e silencioso cenário noturno de Nova York, enquanto Jordan participa do vibrante e frenético escopo diurno; ao cruzarem caminho em um restaurante, cabe a eles decidirem como construirão e permanecerão unidos frente a tantas adversidades – motivo pelo qual queremos saber o desfecho da história.

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Aliás, são essas motivações talhadas com tanto esmero por Carney e por seu competente time criativo que nos despertam a curiosidade de conhecer ligações tão diferentes entre si e que, em paralelo, se convergem para uma análise cuidadosa de que o amor não é tão simples quanto parece – e demanda um longo trabalho que vale a pena por razões inexplicáveis. Em “Train”, facilmente a melhor entrada da temporada, Kit Harrington e Lucy Boynton tomam as rédeas de uma rom-com inteligente e que, afastando-se do fabulesco final feliz de tantas obras similares, deixa em aberto a conclusão e indica que o reencontro de Michael (Harrington) e Paula (Boynton) pode acontecer ou não.

Os melhores momentos de Modern Love ocorrem quando não há uma tentativa desesperada de gestar algo original – algo que, dentro das propostas da série, não é nenhum demérito. O público lida com tramas reais (afinal, o show é baseado em um premiado artigo do The New York Times) e deseja se identificar com as atribulações pelas quais os personagens passam; é por esse motivo que a autoreferenciável e satírica jornada de Michael e Paula funciona e nos deixa animados para ver o que acontecerá no futuro. Em outro momento, é o mesmo espectro que deixa a desejar em “In the Waiting Room of Estranged Spouses”, em que o proposital exagero do pitoresco é incrível demais para ser levado a sério, mesmo com a tour-de-force de Anna Paquin no papel de Isabelle.

Encontra-se um meio-termo um tanto quanto frustrante em “Am I Gay or Straight? Maybe This Fun Quiz Game Will Tell Me”, encabeçado pela atuação impecável de Lulu Wilson como Katie, uma adolescente que sempre se viu num espectro heteronormativo até descobrir mais sobre si mesma e se apaixonar por uma colega de classe – entrando em conflito com os ideais que defendia e com o que realmente quer da vida. Sua jornada de descobrimento e de superação dos próprios estigmas é soberba e dialoga com tantos membros mais jovens da comunidade LGBTQIA+ que não sabem lidar com os sentimentos; porém, quando justaposta à atmosfera que a circunda, o desenrolar da trama parece se esquecer dos importantes personagens que a acompanham, incluindo o par romântico. Em comparação, a similar trama de “How Do You Remember Me?”, disposta entre Ben (Marquis Rodriguez) e Robbie (Zane Pais), é inteligente, inovadora e angustiante do começo ao fim.

A segunda temporada de Modern Love apara alguns excessos e mantém o ritmo engajado da iteração anterior, mas continua a tropeçar em certas escolhas que não parecem fazer muito sentido ao que pretende transmitir aos espectadores. Enquanto o elenco volta a fazer um trabalho aplaudível, não podemos deixar de nos sentir em uma montanha-russa sacolejante em meio a tantas pressas e vontades de ser maior do que consegue.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Renovando os nomes e mantendo a acalentadora honestidade que nos deslumbrou da primeira vez, a temporada da antologia veio acompanhada de oito episódios, cada qual circunscrito a determinados aspectos dos relacionamentos humanos – pincelados com temas como empatia, saudade, traição, nostalgia e companheirismo. Entretanto, mesmo com as ótimas intenções e com as atuações on point dos protagonistas e coadjuvantes, certas escolhas artísticas e reviravoltas nos enredos são um tanto quanto forçadas e não fazem jus ao potencial que já apresentou anteriormente – ainda que, no final das contas, a série foque mais nas mensagens sinestésicas do que em revolucionar um nicho tão explorado quanto esse.

As ambições do roteirista e diretor John Carney, que retorna para comandar os novos capítulos, são bastante claras e notáveis. Bem como a iteração predecessora, cada iteração parte de uma linha bastante compreensível e relacionável com qualquer um que já tenha se apaixonado por alguém – e tenha passado por todos os obstáculos intrínsecos ao firmamento de relações. Logo no primeiro episódio, por exemplo, temos a complexa história que envolve Zoe (Zoe Chao) e Jordan (Gbenga Akinnagbe). Pertencentes a dois mundos totalmente diferentes, Zoe sofre de uma síndrome que inverte todos os seus horários e a faz viver no misterioso e silencioso cenário noturno de Nova York, enquanto Jordan participa do vibrante e frenético escopo diurno; ao cruzarem caminho em um restaurante, cabe a eles decidirem como construirão e permanecerão unidos frente a tantas adversidades – motivo pelo qual queremos saber o desfecho da história.

Aliás, são essas motivações talhadas com tanto esmero por Carney e por seu competente time criativo que nos despertam a curiosidade de conhecer ligações tão diferentes entre si e que, em paralelo, se convergem para uma análise cuidadosa de que o amor não é tão simples quanto parece – e demanda um longo trabalho que vale a pena por razões inexplicáveis. Em “Train”, facilmente a melhor entrada da temporada, Kit Harrington e Lucy Boynton tomam as rédeas de uma rom-com inteligente e que, afastando-se do fabulesco final feliz de tantas obras similares, deixa em aberto a conclusão e indica que o reencontro de Michael (Harrington) e Paula (Boynton) pode acontecer ou não.

Os melhores momentos de Modern Love ocorrem quando não há uma tentativa desesperada de gestar algo original – algo que, dentro das propostas da série, não é nenhum demérito. O público lida com tramas reais (afinal, o show é baseado em um premiado artigo do The New York Times) e deseja se identificar com as atribulações pelas quais os personagens passam; é por esse motivo que a autoreferenciável e satírica jornada de Michael e Paula funciona e nos deixa animados para ver o que acontecerá no futuro. Em outro momento, é o mesmo espectro que deixa a desejar em “In the Waiting Room of Estranged Spouses”, em que o proposital exagero do pitoresco é incrível demais para ser levado a sério, mesmo com a tour-de-force de Anna Paquin no papel de Isabelle.

Encontra-se um meio-termo um tanto quanto frustrante em “Am I Gay or Straight? Maybe This Fun Quiz Game Will Tell Me”, encabeçado pela atuação impecável de Lulu Wilson como Katie, uma adolescente que sempre se viu num espectro heteronormativo até descobrir mais sobre si mesma e se apaixonar por uma colega de classe – entrando em conflito com os ideais que defendia e com o que realmente quer da vida. Sua jornada de descobrimento e de superação dos próprios estigmas é soberba e dialoga com tantos membros mais jovens da comunidade LGBTQIA+ que não sabem lidar com os sentimentos; porém, quando justaposta à atmosfera que a circunda, o desenrolar da trama parece se esquecer dos importantes personagens que a acompanham, incluindo o par romântico. Em comparação, a similar trama de “How Do You Remember Me?”, disposta entre Ben (Marquis Rodriguez) e Robbie (Zane Pais), é inteligente, inovadora e angustiante do começo ao fim.

A segunda temporada de Modern Love apara alguns excessos e mantém o ritmo engajado da iteração anterior, mas continua a tropeçar em certas escolhas que não parecem fazer muito sentido ao que pretende transmitir aos espectadores. Enquanto o elenco volta a fazer um trabalho aplaudível, não podemos deixar de nos sentir em uma montanha-russa sacolejante em meio a tantas pressas e vontades de ser maior do que consegue.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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