sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | 4ª temporada de ‘Stranger Things’ mergulha na nostalgia do horror clássico e psicológico

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Quando pensamos em Stranger Things, somos imediatamente transportados para um mundo nostálgico e mergulhado em uma familiar narrativa de fantasia, amizade e aventuras arrepiantes. Em sua estreia, ainda em 2016, fomos levados à pequena cidadezinha de Hawkins, Indiana, em que o pacato cotidiano de seus moradores foi abalado pelo desaparecimento de um menino e a chegada de uma poderosa e desorientada jovem – lançando um grupo de amigos em uma jornada de tirar o fôlego pelos perigos do Mundo Invertido, uma realidade paralela controlada por criaturas medonhas e sedentas pelo caos.

Seis anos depois do début oficial da produção, os Irmãos Duffer, responsáveis pela supervisão da narrativa e da condução de cada arco, perceberam que precisavam investir esforços em certas mudanças que acompanhassem a evolução dos protagonistas e coadjuvantes, bem como a crescente densidade da atmosfera e dos acontecimentos. Não é à toa que as expectativas para a vindoura 4ª temporada, que chega na próxima sexta-feira ao catálogo da Netflix, estivessem lá em cima – e garanto para vocês que, apesar dos pontuais deslizes estruturais da nova leva de episódios, o resultado é exatamente o que esperávamos dentro da proposta apresentada, ou seja, uma mixórdia de emoções e revelações que se infiltram na mitologia que nos envolveu desde o episódio piloto. E, enquanto alguns podem pensar que Eleven (Millie Bobby Brown) é a única a roubar os holofotes, garanto que o restante do elenco se rende a performances aplaudíveis e a rendições que trazem o melhor o drama, do terror e da comédia à tona.



Talvez o aspecto mais interessante da obra em si seja o fato de termos acompanhado o amadurecimento não só dos personagens, mas também dos atores e das atrizes. O grupo mirim formado por Brown, Finn Wolfhard, Gaten Matarazzo, Sadie Sink, Noah Schnapp e Caleb McLaughlin transpõe uma verdade inexorável de que a fantasia e a ingenuidade com que tratavam o mundo à volta não pode existir sem a dura veracidade que enfrentam como, agora, adolescentes renegados cuja única preocupação é se encaixar dentro de uma comunidade que não os aceita. E isso não é tudo: o enredo lida com um constante trauma que causa efeitos diversos, seja na recusa de Max (Sink), na apatia induzida de Lucas (McLaughlin) ou no escapismo saudosista de Mike (Wolfhard) e Dustin (Matarazzo); Eleven, por sua vez, luta para se encaixar dentro de um microcosmos que nunca fez parte de seu passado, experimentando pela primeira vez o bullying e não tendo ninguém a recorrer – nem mesmo a Mike, seu namorado.

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Mas eles não são únicos a enfrentar problemas: os explosivos adolescentes também devem transpor inúmeros obstáculos que apenas aumentam uma complexidade que achávamos perdida há tempos. Nancy (Natalie Dyer) continua a seguir seu sonho ao se apropriar do jornal da escola, mas percebe que o relacionamento com um afastado Jonathan (Charlie Heaton) pode prejudicar um futuro que já escrevera para si própria; Jonathan, por sua vez, é arrastado em uma espiral de decisões iminentes refletidas pela mudança repentina da família para a Califórnia e para o desejo de não agradar a ninguém, e sim apenas a si – achando uma válvula entorpecente ao lado do divertido Argyle (Eduardo Franco), um bem-vindo alívio cômico aos novos capítulos. Robin (Maya Hawke) e Steve (Joe Keery) desenvolvem ainda mais a amizade que nutrem um pelo outro, permitindo que suas fraquezas fortaleçam os laços e abram espaço para que se ajudem.

E é claro que não posso deixar de mencionar a magnífica presença do elenco adulto – reiterando que, não importa o quão “experiente” você seja, os medos e as inseguranças sempre irão existir. Winona Ryder se mantém fiel às peculiaridades adoráveis de Joyce, compreendendo que sua jornada está longe de acabar ao receber uma mensagem vinda da Rússia e garantindo que Jim Hopper (David Harbour) sobreviveu à explosão do reator nuclear e foi capturado por soldados russos, sendo tratado como um espião e uma espécie de prisioneiro de guerra; dentro desse espectro, também é preciso citar a presença pungente de Brett Gelman como Murray Bauman, que, enfim, tem seu merecido protagonismo e salva o dia da maneira mais inesperada possível.

Não são apenas as atuações que exalam beleza extraordinária nas telinhas, mas a sagacidade com a qual o roteiro é conduzido. A ideia aqui não é revolucionar o modo de se contar histórias, e sim encontrar uma forma de usar as fórmulas para um determinado propósito – que é nos conduzir em um conto amalgamado entre épica e drama, em que os Irmãos Duffer e seu competente time criativo entrevem uma multiplicidade de cronologias que se amarram logo nos últimos minutos do episódio final do primeiro volume. Afinal, o principal antagonista da temporada, apelidado pela memorialística alcunha de Vecna (em alusão ao jogo ‘Dungeons & Dragons’), não é apenas uma das culminações do Mundo Invertido, mas está intimamente atado às tragédias de Hawkins, preso ao perigoso universo espelhado da cidade e coletando vítimas para aumentar seus poderes.

A ambientação segue uma linha lógica bastante funcional que brinca com as paletas de cores não só na comparação entre as duas realidades, mas conforme as reviravoltas ganham corpo e se transformam em impactos irreversíveis no andamento da narrativa – reiterando a predileção dos showrunners em emular incursões de nomes como Steven Spielberg, Stephen King e H.P. Lovecraft dentro de uma mistura de terror clássico e suspense psicológico. É claro que, com o término dessa leva inicial, não podemos deixar de ficar ainda mais animados para a conclusão da temporada – e esperar, com a ansiedade a mil, para o desfecho de uma das grandes séries da atualidade.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Quando pensamos em Stranger Things, somos imediatamente transportados para um mundo nostálgico e mergulhado em uma familiar narrativa de fantasia, amizade e aventuras arrepiantes. Em sua estreia, ainda em 2016, fomos levados à pequena cidadezinha de Hawkins, Indiana, em que o pacato cotidiano de seus moradores foi abalado pelo desaparecimento de um menino e a chegada de uma poderosa e desorientada jovem – lançando um grupo de amigos em uma jornada de tirar o fôlego pelos perigos do Mundo Invertido, uma realidade paralela controlada por criaturas medonhas e sedentas pelo caos.

Seis anos depois do début oficial da produção, os Irmãos Duffer, responsáveis pela supervisão da narrativa e da condução de cada arco, perceberam que precisavam investir esforços em certas mudanças que acompanhassem a evolução dos protagonistas e coadjuvantes, bem como a crescente densidade da atmosfera e dos acontecimentos. Não é à toa que as expectativas para a vindoura 4ª temporada, que chega na próxima sexta-feira ao catálogo da Netflix, estivessem lá em cima – e garanto para vocês que, apesar dos pontuais deslizes estruturais da nova leva de episódios, o resultado é exatamente o que esperávamos dentro da proposta apresentada, ou seja, uma mixórdia de emoções e revelações que se infiltram na mitologia que nos envolveu desde o episódio piloto. E, enquanto alguns podem pensar que Eleven (Millie Bobby Brown) é a única a roubar os holofotes, garanto que o restante do elenco se rende a performances aplaudíveis e a rendições que trazem o melhor o drama, do terror e da comédia à tona.

Talvez o aspecto mais interessante da obra em si seja o fato de termos acompanhado o amadurecimento não só dos personagens, mas também dos atores e das atrizes. O grupo mirim formado por Brown, Finn Wolfhard, Gaten Matarazzo, Sadie Sink, Noah Schnapp e Caleb McLaughlin transpõe uma verdade inexorável de que a fantasia e a ingenuidade com que tratavam o mundo à volta não pode existir sem a dura veracidade que enfrentam como, agora, adolescentes renegados cuja única preocupação é se encaixar dentro de uma comunidade que não os aceita. E isso não é tudo: o enredo lida com um constante trauma que causa efeitos diversos, seja na recusa de Max (Sink), na apatia induzida de Lucas (McLaughlin) ou no escapismo saudosista de Mike (Wolfhard) e Dustin (Matarazzo); Eleven, por sua vez, luta para se encaixar dentro de um microcosmos que nunca fez parte de seu passado, experimentando pela primeira vez o bullying e não tendo ninguém a recorrer – nem mesmo a Mike, seu namorado.

Mas eles não são únicos a enfrentar problemas: os explosivos adolescentes também devem transpor inúmeros obstáculos que apenas aumentam uma complexidade que achávamos perdida há tempos. Nancy (Natalie Dyer) continua a seguir seu sonho ao se apropriar do jornal da escola, mas percebe que o relacionamento com um afastado Jonathan (Charlie Heaton) pode prejudicar um futuro que já escrevera para si própria; Jonathan, por sua vez, é arrastado em uma espiral de decisões iminentes refletidas pela mudança repentina da família para a Califórnia e para o desejo de não agradar a ninguém, e sim apenas a si – achando uma válvula entorpecente ao lado do divertido Argyle (Eduardo Franco), um bem-vindo alívio cômico aos novos capítulos. Robin (Maya Hawke) e Steve (Joe Keery) desenvolvem ainda mais a amizade que nutrem um pelo outro, permitindo que suas fraquezas fortaleçam os laços e abram espaço para que se ajudem.

E é claro que não posso deixar de mencionar a magnífica presença do elenco adulto – reiterando que, não importa o quão “experiente” você seja, os medos e as inseguranças sempre irão existir. Winona Ryder se mantém fiel às peculiaridades adoráveis de Joyce, compreendendo que sua jornada está longe de acabar ao receber uma mensagem vinda da Rússia e garantindo que Jim Hopper (David Harbour) sobreviveu à explosão do reator nuclear e foi capturado por soldados russos, sendo tratado como um espião e uma espécie de prisioneiro de guerra; dentro desse espectro, também é preciso citar a presença pungente de Brett Gelman como Murray Bauman, que, enfim, tem seu merecido protagonismo e salva o dia da maneira mais inesperada possível.

Não são apenas as atuações que exalam beleza extraordinária nas telinhas, mas a sagacidade com a qual o roteiro é conduzido. A ideia aqui não é revolucionar o modo de se contar histórias, e sim encontrar uma forma de usar as fórmulas para um determinado propósito – que é nos conduzir em um conto amalgamado entre épica e drama, em que os Irmãos Duffer e seu competente time criativo entrevem uma multiplicidade de cronologias que se amarram logo nos últimos minutos do episódio final do primeiro volume. Afinal, o principal antagonista da temporada, apelidado pela memorialística alcunha de Vecna (em alusão ao jogo ‘Dungeons & Dragons’), não é apenas uma das culminações do Mundo Invertido, mas está intimamente atado às tragédias de Hawkins, preso ao perigoso universo espelhado da cidade e coletando vítimas para aumentar seus poderes.

A ambientação segue uma linha lógica bastante funcional que brinca com as paletas de cores não só na comparação entre as duas realidades, mas conforme as reviravoltas ganham corpo e se transformam em impactos irreversíveis no andamento da narrativa – reiterando a predileção dos showrunners em emular incursões de nomes como Steven Spielberg, Stephen King e H.P. Lovecraft dentro de uma mistura de terror clássico e suspense psicológico. É claro que, com o término dessa leva inicial, não podemos deixar de ficar ainda mais animados para a conclusão da temporada – e esperar, com a ansiedade a mil, para o desfecho de uma das grandes séries da atualidade.

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