domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | 7ª temporada de ‘Grace and Frankie’ conclui com esmero uma série incrível e necessária

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Quando Grace and Frankie chegou ao catálogo da Netflix, ninguém poderia imaginar o estrondoso sucesso que faria – nem sequer a durabilidade que teria. Afinal, o ciclo de estreia não teve uma recepção relativamente boa por parte dos especialistas internacionais, apesar de ter encantado o público. Felizmente, com o passar dos anos, os criadores Marta Kauffman e Howard J. Morris construíram uma belíssima história de amizade, aceitação, empatia e união que transformaria a comédia em um dos títulos mais adorados da gigante do streaming.

A produção não se tornou uma das queridinhas do público por qualquer motivo – e, no topo dessa mixórdia de sentimentos, temos a química inegável e apaixonante de Jane Fonda e Lily Tomlin como as personagens titulares, respectivamente. Outrora inimigas, Grace e Frankie foram arrastadas a um ponto de convergência quando seus maridos revelaram ser gays e as deixaram depois de décadas de casamento, impulsionando-as a deixar tudo para trás e recomeçar em plena terceira idade. Agora, chegando ao ciclo final, nossas adoradas protagonistas nos dão adeus ao longo de dezesseis episódios emocionantes e hilários que entregam exatamente o que esperaríamos de uma obra como esta.



A principal ideia da série sempre foi trazer ao mainstream temas que não são tratados com a naturalidade necessária – como os anseios e as preocupações dos idosos, a mudança repentina de vida, a compreensão de que nunca é tarde para seguir seus sonhos, os desejos sexuais dos mais velhos, os problemas enfrentados por idosos LGBTQIA+ (estes dois temas mostrando uma realidade que não é “bem-vinda” no cenário do entretenimento, em virtude de pensamentos tradicionalistas e retrógrados), a desconstrução da estrutura engessada da família e vários outros. E Kauffman e Morris, navegando entre enredos complexos e que quebram uma retórica estereotipada, permanecem fortes no jogo que constroem e gestam uma das melhores temporadas da série e ótimo final que deixará saudades e que, mesmo com os convencionalismos, é funcional, prática e bem envolvente.

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Aqui, as duas amigas começam a se despedir e a enfrentar os últimos obstáculos de sua jornada: Grace parece desestabilizada com a chegada de Nick (Peter Gallagher) à casa de praia, ainda mais depois de ter sido preso por sonegação de impostos. Enquanto Grace se sente presa a um casamento de fachada que já acabou há muito tempo, Frankie também lida com um sentimento controverso que vem à tona todas as vezes que Nick aparece em sua frente, como um lembrete agridoce de que ele quase levou Grace embora para sempre e a arremessou em uma espiral de mentiras e conluios. Mas isso não é tudo: Nick tem um papel importante para que ambas recobrem a importância dos laços que detém entre si, entretanto, é logo deixado de lado para que outros eventos de magnitude exemplar dominem as telas.

Como é de se esperar, Fonda e Tomlin fazem um trabalho magnânimo ao revisitarem as personagens uma última vez, destilando personalidades conflitantes em diálogos frenéticos e extremamente engraçados e dramáticos que culminam em uma última dança de ressentimentos e nostalgia. Grace ainda tenta “recuperar o tempo perdido” e dar continuidade ao Rise-Up, mesmo sem a ajuda de Frankie – que lida com a iminência da morte depois que uma vidente prevê um trágico acontecimento em sua vida e a perda de habilidades motoras que a impedem de fazer o que mais ama (pintar). É nessa conflituosa e instigante linha narrativa que atravessamos um sagaz coming-of-age que se afasta dos costumeiros personagens adolescentes e jovens-adultos e mostra que, até na fase final da vida, lidamos com preocupações e crises existenciais.

É claro que a dinâmica da dupla rouba o centro dos holofotes; todavia, isso não impede que os outros personagens não mereçam conclusões tão dignas quanto. Robert (Martin Sheen) se vê obrigado a deixar a paixão pelo teatro de lado quando enfrenta problemas de memória e percebe que está à beira do abismo do Alzheimer; Sol (Sam Waterston) faz de tudo para ajudá-lo e, aceitando um destino inescapável, se lança em uma missão para criar novas memórias que ajudem ele e seu marido a passarem por uma situação muito difícil; Brianna (June Diane Raphael) perde a única coisa que sempre estimou, o controle, ao se ver numa situação com a irmã e com o noivo e se afundar em um processo de transformação radical; Mallory (Brooklyn Decker) percebe as falcatruas do mundo corporativo ao se tornar alvo de chacota de sua chefe, dando início a uma emblemática batalha consigo mesma; e por aí vamos.

Devo dizer que algumas inflexões promovidas pela iteração final não funcionam como deveriam, mas não têm força o suficiente para apagar a singela e humilde trama que se desenrola bem à frente dos nossos olhos. Há, inclusive, algumas pulsões do além-mundo e do brusco e certeiro fim da jornada humana no mundo terreno, bem como o entendimento da efemeridade da vida – apesar de não ir muito mais longe que a superfície; no final das contas, Grace and Frankie é uma despedida digna que já nos faz querer voltar ao episódio piloto e esquecer de tudo que aconteceu para nos encantarmos mais uma vez com uma das histórias mais honestas da televisão contemporânea.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Quando Grace and Frankie chegou ao catálogo da Netflix, ninguém poderia imaginar o estrondoso sucesso que faria – nem sequer a durabilidade que teria. Afinal, o ciclo de estreia não teve uma recepção relativamente boa por parte dos especialistas internacionais, apesar de ter encantado o público. Felizmente, com o passar dos anos, os criadores Marta Kauffman e Howard J. Morris construíram uma belíssima história de amizade, aceitação, empatia e união que transformaria a comédia em um dos títulos mais adorados da gigante do streaming.

A produção não se tornou uma das queridinhas do público por qualquer motivo – e, no topo dessa mixórdia de sentimentos, temos a química inegável e apaixonante de Jane Fonda e Lily Tomlin como as personagens titulares, respectivamente. Outrora inimigas, Grace e Frankie foram arrastadas a um ponto de convergência quando seus maridos revelaram ser gays e as deixaram depois de décadas de casamento, impulsionando-as a deixar tudo para trás e recomeçar em plena terceira idade. Agora, chegando ao ciclo final, nossas adoradas protagonistas nos dão adeus ao longo de dezesseis episódios emocionantes e hilários que entregam exatamente o que esperaríamos de uma obra como esta.

A principal ideia da série sempre foi trazer ao mainstream temas que não são tratados com a naturalidade necessária – como os anseios e as preocupações dos idosos, a mudança repentina de vida, a compreensão de que nunca é tarde para seguir seus sonhos, os desejos sexuais dos mais velhos, os problemas enfrentados por idosos LGBTQIA+ (estes dois temas mostrando uma realidade que não é “bem-vinda” no cenário do entretenimento, em virtude de pensamentos tradicionalistas e retrógrados), a desconstrução da estrutura engessada da família e vários outros. E Kauffman e Morris, navegando entre enredos complexos e que quebram uma retórica estereotipada, permanecem fortes no jogo que constroem e gestam uma das melhores temporadas da série e ótimo final que deixará saudades e que, mesmo com os convencionalismos, é funcional, prática e bem envolvente.

Aqui, as duas amigas começam a se despedir e a enfrentar os últimos obstáculos de sua jornada: Grace parece desestabilizada com a chegada de Nick (Peter Gallagher) à casa de praia, ainda mais depois de ter sido preso por sonegação de impostos. Enquanto Grace se sente presa a um casamento de fachada que já acabou há muito tempo, Frankie também lida com um sentimento controverso que vem à tona todas as vezes que Nick aparece em sua frente, como um lembrete agridoce de que ele quase levou Grace embora para sempre e a arremessou em uma espiral de mentiras e conluios. Mas isso não é tudo: Nick tem um papel importante para que ambas recobrem a importância dos laços que detém entre si, entretanto, é logo deixado de lado para que outros eventos de magnitude exemplar dominem as telas.

Como é de se esperar, Fonda e Tomlin fazem um trabalho magnânimo ao revisitarem as personagens uma última vez, destilando personalidades conflitantes em diálogos frenéticos e extremamente engraçados e dramáticos que culminam em uma última dança de ressentimentos e nostalgia. Grace ainda tenta “recuperar o tempo perdido” e dar continuidade ao Rise-Up, mesmo sem a ajuda de Frankie – que lida com a iminência da morte depois que uma vidente prevê um trágico acontecimento em sua vida e a perda de habilidades motoras que a impedem de fazer o que mais ama (pintar). É nessa conflituosa e instigante linha narrativa que atravessamos um sagaz coming-of-age que se afasta dos costumeiros personagens adolescentes e jovens-adultos e mostra que, até na fase final da vida, lidamos com preocupações e crises existenciais.

É claro que a dinâmica da dupla rouba o centro dos holofotes; todavia, isso não impede que os outros personagens não mereçam conclusões tão dignas quanto. Robert (Martin Sheen) se vê obrigado a deixar a paixão pelo teatro de lado quando enfrenta problemas de memória e percebe que está à beira do abismo do Alzheimer; Sol (Sam Waterston) faz de tudo para ajudá-lo e, aceitando um destino inescapável, se lança em uma missão para criar novas memórias que ajudem ele e seu marido a passarem por uma situação muito difícil; Brianna (June Diane Raphael) perde a única coisa que sempre estimou, o controle, ao se ver numa situação com a irmã e com o noivo e se afundar em um processo de transformação radical; Mallory (Brooklyn Decker) percebe as falcatruas do mundo corporativo ao se tornar alvo de chacota de sua chefe, dando início a uma emblemática batalha consigo mesma; e por aí vamos.

Devo dizer que algumas inflexões promovidas pela iteração final não funcionam como deveriam, mas não têm força o suficiente para apagar a singela e humilde trama que se desenrola bem à frente dos nossos olhos. Há, inclusive, algumas pulsões do além-mundo e do brusco e certeiro fim da jornada humana no mundo terreno, bem como o entendimento da efemeridade da vida – apesar de não ir muito mais longe que a superfície; no final das contas, Grace and Frankie é uma despedida digna que já nos faz querer voltar ao episódio piloto e esquecer de tudo que aconteceu para nos encantarmos mais uma vez com uma das histórias mais honestas da televisão contemporânea.

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