Apesar de ter poucos filmes no currículo, o diretor Pascal Laugier causou um grande impacto no gênero com ‘Mártires‘, considerado um dos filmes mais brutais dos últimos tempos, e também um dos melhores – principalmente por usar sua violência a favor da história, e não ao contrário. Com ‘A Casa do Medo: Incidente em Ghostland‘, o diretor se esforça para chocar o público, e até consegue nos manter retorcidos com sequências repletas de tensão, mas tem dificuldades no desenvolvimento de um roteiro raso.
Na trama, uma mãe de duas crianças herda uma casa de sua tia e na primeira noite, é atacada por invasores violentos, tendo que lutar pela vida das filhas. 16 anos depois, as garotas, já crescidas e afastadas, retornam ao lugar e se deparam com estranhos acontecimentos…
Apesar de ter sido recebido de forma mista pelos críticos, o que mais chamou atenção foram as polêmicas em torno do filme. Durante as gravações, a jovem atriz Taylor Hickson ficou gravemente ferida ao atravessar uma porta de vidro, e o seu rosto ficou desfigurado. Posteriormente, a atriz chegou a processar a produtora do filme. Além disso, Pascal Laugier foi acusado de misoginia e transfobia por causa de alguns elementos usados como artifício no desenvolvimento da trama. Considerando o histórico do diretor e todas as polêmicas envolvendo a produção, era inevitável esperar por algo absolutamente chocante. O mais surpreendente, no entanto, é que ‘A Casa do Medo: Incidente em Ghostland‘ não passa de um filme de terror comum.
Laugier usa suas habilidades para construir um filme atmosférico, tenso e extremamente brutal. A primeira metade da produção é, de longe, a mais interessante da longa. O mistério por trás dos acontecimentos consegue deixar os espectadores tensos, sem saber o que acontecerá a seguir. Então, somos pegos de surpresa com uma reviravolta absolutamente cruel, que nos atinge como um soco no estômago. Apesar de efetivo, o filme nunca mais consegue se recuperar após esse momento, e vai definhando com o passar do tempo.
O roteiro perde o fôlego na segunda metade, e segue por um caminho mais “tradicional”. Em comparação com a primeira parte, parecem dois filmes diferentes. ‘A Casa do Medo: Incidente em Ghostland‘ não é um filme ruim, mas quem for assisti-lo com altas expectativas irá se decepcionar – principalmente quem estiver esperando algo no nível de ‘Mártires‘. Com o roteiro raso, a violência parece gratuita, e a reviravolta frágil, apesar de eficiente no calor do momento, perde a força (e o sentido) no decorrer da história, sem capacidade de sustentar a trama sozinha. Como dito anteriormente, não é um filme ruim; é apenas um filme comum.