Dois homens com um amor em comum pelos animais se juntaram para dedicarem suas vidas a ajudar cães e gatos a encontrarem um lar. O que começou como um ato de amor diante de uma situação extrema – o número de animais abandonados e perdidos após a devastação pelo furacão Katrina – logo tomou o lugar principal na vida de Ron Danta e Danny Robertshaw.
Localizada na pequena cidade de Cadmen, na Carolina no Sul – Estados Unidos, a ONG dirigida pelo casal, intitulada ‘Danny and Ron’s Recue’ no momento das gravações contava com 71 cachorros dentro de casa. Tudo bem que a propriedade – onde na verdade funciona um centro de treinamento de cavalos e de equitação – seja razoavelmente grande, mas o local onde os cachorros dormem, são tratados, tomam banho etc é tudo dentro de casa. O resultado? Há quinze anos, desde que iniciaram o projeto, Danny e Ron não têm nenhum tipo de privacidade, e literalmente afirmam que ‘A Casa é dos Cachorros’.
A pauta da adoção animal é extremamente importante, e quanto mais for levantada para o debate, melhor. Para se ter uma ideia, de acordo com o próprio documentário, só nos Estados Unidos 6,5 milhões da animais são abandonados por ano, mas apenas 2,5 milhões encontram um lar. Não é preciso ser expert em matemática para concluir que mais de 4 milhões de animais sofrem eutanásia anualmente – e parte desse problema gira em torno do fato de 90% desses animais abandonados não serem castrados.
A pauta é importante, sim, porém, enquanto produto audiovisual, o documentário ‘A Casa é dos Cachorros’ está mais para um vídeo empresarial. Em 1 hora e 23 minutos, o roteiro dá muito mais visibilidade à vida pessoal dos homens da empresa do que nos cachorros em si. Quer dizer, é claro que é legal saber um pouco da vida desses anjos que doam suas vidas a ajudar os animais em apuros, maaas, se um espectador pega esse documentário para ver, a pessoa provavelmente está mais interessada em conhecer os bichinhos, né? O que o roteiro poderia ter feito para tornar o produto final menos promocional e mais carismático talvez fosse acompanhar um ou dois animaizinhos, desde sua chegada à ONG e ir desenrolando a luta para encontrar um lar para eles, ao mesmo tempo em que conta a história de Danny e Ron – e não o contrário. Em ‘A Casa é dos Cachorros’ o espectador conhece o projeto da ONG, mas não cria vínculo com os animais – passo fundamental em qualquer tipo de adoção.
O diretor Ron Davis parece ter querido prestar uma bela homenagem a dois homens de alma generosa que ajudaram a mais de 10 mil cachorros a encontrarem uma família, mas não se preocupou tanto em tornar o documentário atraente para o espectador comum que não conhece os biografados. Vale o alerta, inclusive, na altura do minuto 56, em que aparecem cenas bastante fortes, um bocado desnecessárias para um documentário que deveria ter um tom mais positivo sobre a coisa.
‘A Casa é dos Cachorros’ é um filme que mostra toda a generosidade e as dificuldades que dois homens enfrentam para conseguir ajudar ao maior número possível de cachorros ao redor do mundo. Em tempos de distanciamento social, vimos que o número de adoções de animais aumentou consideravelmente, uma vez que as pessoas buscaram nos animais conforto e companhia dentro de casa. Vamos torcer para que essas adoções sejam permanentes, e que documentários como ‘A Casa é dos Cachorros’ abram os olhos dos amantes dos animais de que algo precisa ser feito por eles também.