terça-feira, março 19, 2024

Crítica | A Cinco Passos de Você – Adolescentes Doentes se Apaixonam, Choram e Fim

Você já viu essa história antes: dois adolescentes se encontram, a rebeldia de um chama a atenção do outro e eles se apaixonam. A questão é que nessa idade basta ter um rosto bonito e o coração já acelera. O ingrediente a mais de A Cinco Passos de Você (Five Feet Apart) é que ambos protagonistas têm uma doença crônica pulmonar, fibrose cística. Ou seja, eles não vivem, mas sobrevivem todos os dias à base de medicamentos e tubos de ar.

Baseado no livro homônimo, o filme conta com o carisma de Haley Lu Richardson (Quase 18 e Fragmentado) e o charme de Cole Sprouse (da série Riverdale) para carregar a história. Apesar do casal protagonista ser adorável, eles não são suficientes para nos distrair do acúmulo de clichês, principalmente na terceira parte do filme, na qual se espremer sai lágrimas de tanto chororô, com um mistura de luto, grandes gestos e declarações de amor eternas.

Cinco Passos de Voce

Voltado totalmente para o público adolescente, o longa tem acertos e consegue conduzir um romance juvenil entre as paredes de um hospital. O objetivo do livro, assim como do filme – imagino eu -, era chamar atenção para uma doença séria e trazer esperança para todos aqueles que estão em semelhante situação a espera de um transplante, mas acaba navegando longe das agruras da doença e foca totalmente nas ações privadas e pouco críveis dos personagens adolescentes.

O início cumpre bem a sua função, Stella (Haley Lu Richardson) mantém um diário no YouTube sobre o seu tratamento de forma bem-humorada e otimista, mesmo tendo que viver em hospital. Logo depois, a menina conhece Will (Cole Sprouse) que possui a mesma doença, mas uma bactéria mais perigosa. Contrariando a metódica menina, ele é desligado, não segue o protocolo e acredita que não há sentido em viver enclausurado no hospital.

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Desde a primeira cena entre os jovens, sabemos que eles vão se apaixonar e a diversão do gênero é exatamente saber como isso será desenvolvido. A Cinco Passos de Você tem bons diálogos, cenas românticas, contudo, a história não consegue decolar mais do que já é dado no início. Quando Stella, sempre determinada e otimista, aparenta certo receio de fazer uma operação, Will aparece para animá-la e fazê-la sentir-se especial com presentes graciosos.

Dado o interesse mútuo, o empecilho dos dois é a doença que os mantém a seis passos de distância para que eles não tenham contato com as bactérias um do outro. O mesmo ocorre entre Stella e o seu amigo desde a infância Poe (Moises Arias), também acometido pela doença. O personagem de Poe funciona com anjo da guarda do casal e um pequeno alívio cômico, assim como Isaac (Nat Wolff) em A Culpa é das Estrelas (2014), para Hazel (Shailene Woodley) e Gus (Ansel Elgort).

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Não deixe de assistir:

Aliás, é impossível não traçar um paralelo entre a obra de John Green e esta por conta da ameaça de morte entre jovens apaixonados. A Culpa é das Estrelas, entretanto, é uma história bem melhor desenvolvida com um enredo mais pomposo e atraente. Confinados no ambiente hospitalar, os roteiristas até tentam fazer do local um resort, mas não conseguem expandir o universo limitado dos pacientes.

Vale lembrar do telefilme David e Lisa (1998), com Brittany Murphy, Lukas Haas e Sidney Poitier, que se passava em uma clínica psiquiátrica e conseguiu ter uma amplitude bem maior do romance entre os pacientes. Voltando ao simples A Cinco Passos de Você, o ponto alto do filme é quando Stella resolve o dilema de aproximação dos dois com um taco de sinuca que representa cinco passos. Desse modo, ela ganha um passo de aproximação e um elo entre eles.

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A imagem deles buscando se tocar através de um pedaço de madeira é uma representação bonita de um obstáculo – quase – intransponível. Tal como o livro, o argumento do longa se sustenta na pergunta se é possível amar sem tocar uma pessoa. É uma questão singela, mas pouco explorada em sua amplitude, já que Stella tem situações de perdas de entes queridos em sua vida, os quais ela não pode mais tocar. Porém, o foco é no romance, não em assuntos mais filosóficos.

Ver Haley Lu Richardson e Cole Sprouse em cena é animador, pois ambos têm boas performances e estreiam como protagonistas de um romance. O último grande sucesso do jovem no cinema foi como o filho de Adam Sandler na comédia O Paizão (1999). Lembra do pequeno Julian? O menino loirinho cresceu, tingiu o cabelo e faz muito mais sucesso com o público adolescente agora. Assim como, Haley tem talento para ganhar papéis mais importantes e exigentes.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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