Existe um perfil de cinéfilo que simplesmente gosta de ser surpreendido na sala de cinema. É aquela pessoa que muitas vezes compra o ingresso sem ver o trailer ou sem saber do que se trata um filme, mas que se sentiu atraído pelo título, pelo pôster ou por qualquer outro motivo mais simples – qualquer desculpa é suficiente para entrar na sala de cinema. Esse nicho específico de cinéfilo apenas gosta de sair da mesmice, gosta de ver algo diferente dos moldes padrões hollywoodianos, gosta de ser desafiado por outras formas narrativas, outras estéticas. Pensando nesse público, estreia essa semana nos cinemas brasileiros a comédia belga ‘A Estrela Cadente’.

 A Estrela Cadente

Boris (Dominique Abel) é um antigo ativista que cometera atos terroristas no passado, mas hoje trabalha como bartender no boteco ‘A Estrela Cadente’, cuja dona é Kayoko (Kaori Ito) e cujo segurança é Tim (Philippe Martz). Certo dia um cliente entra armado no boteco, Georges (Bruno Romy), e tenta matá-lo. Isso acende o alerta no grupo de algo precisa ser feito, e quando conhecem Dom (Dominique Abel), o grupo decide fazer com que Dom troque de lugar com Boris, para o caso de o assassino voltar ao bar. Só que essa decisão desestabilizará o grupo, e fará com que Fiona (Fiona Gordon), ex-esposa de Dom e que é detetive particular, passe a investigar o caso, em busca da verdade.

Em pouco mais de uma hora e meia, ‘A Estrela Cadente’ se mostra como o típico caso de um filme “diferentão” – e aqui o “diferentão” entra em muitos aspectos: no estético, na narrativa, na proposta, na sua realização. Uma informação interessante é que de certa forma o filme dialoga com projetos anteriores da dupla Dominique Abel-Fiona Gordon, tai como ‘La fée’ e ‘Perdidos em Paris’, em que ambos, por exemplo, Dominique interpreta um personagem chamado Dom, tal qual em ‘A Estrela Cadente’.

 A Estrela Cadente

Em ‘A Estrela Cadente’ a proposta é misturar dois gêneros opostos – o suspense noir e a comédia – o que acaba transformando o filme num noir colorido. Enquanto o suspense vai se desenrolando (quem é o culpado? Fiona descobrirá a verdade? O trio conseguirá escapar?), a construção desse suspense vai fazendo uso dos elementos da comédia para contar a história, em especial a comédia clássica dos anos 1920/1930, com toque chaplinianos e de Buster Keaton; para a linguagem brasileira, é algo similar aos ‘Trapalhões’. O roteiro escrito pela dupla Dominique Abel-Fiona Gordon cria cenas interessantemente cômicas, como um balé para vestir o corpo de Dom sedado, cuja coreografia se assemelha às técnicas da dança contemporânea, dando um show de sincronia para realizar a cena.

A dupla, que também compartilha a direção, também acerta o tom da produção de arte, com objetos de cena, sets e figurinos muito vibrantes que acompanham o contraste da história. Mas o que se destaca mesmo é a fotografia, muito muito interessante, filmando as cenas de absurdo com um olhar curioso que oferece algo de diferente ao público, como, por exemplo, na cena de Boris e Kayoko pedalando na cama como se estivessem fugindo – cena esta que é recuperada no final do filme, em outro contexto.

A Estrela Cadente’ traz frescor à mesmice hollywoodiana e oferece uma história meio sem pé nem cabeça mas que entretém e faz rir pela estética do absurdo em sua explosão de cores.

 A Estrela Cadente