Desde o início de novembro que andam salpicando pelos streamings as novas produções natalinas pelas quais aguardamos pacientemente o ano inteiro. Aos pouquinhos elas vão aparecendo – algumas novidades, outras, são continuação de sucessos anteriores. É o surpreendente caso de ‘A Família Noel 2’, sequência do controverso filme anterior, de 2020, e que chegou há pouco tempo na plataforma da Netflix, ficando no Top 10 da plataforma por dias seguidos.
Depois de ter aprendido as responsabilidades de ser Papai Noel e o quanto isso implica para sua própria família, Jules (Mo Bakker) começa a se preparar com a proximidade do fim do ano, pois sabe que ficará um tempão lendo cartinhas e arrumando os presentes com seu avô, Noël Claus (Jan Decleir). Porém, quando sai da recém-inaugurada loja de cookies de sua mãe (Bracha van Doesburgh), Jules encontra a pequena Marie (Jasmina Fall) sozinha na rua, e ela lhe conta que todo dia espera o pai ali porque ele e a mãe estão tão brigados, que ela fica do lado de fora da casa da mãe esperando o pai ir buscá-la, de modo que os dois não se encontrem. Então, ela deixa cair uma cartinha muito especial para o Papai Noel: nesse Natal ela gostaria que seus pais voltassem a ficar juntos. Ao contar o pedido para o avô, Noël diz que é o tipo de pedido impossível de realizar, porém Jules não se dará por vencido e fará de tudo para realizar o desejo de Marie, mesmo que isso lhe custe abrir mão de ser Papai Noel.
Com um protagonista mais crescido agora, ‘A Família Noel 2’ também amadurece seu argumento. Se antes a história girava em torno da jornada individual de Jules descobrindo-se da linhagem de Noel, nesse novo filme, de 2021, o personagem vai ter que lidar com os pedidos sinceros, porém inviáveis, que muitas crianças pedem nessa época do ano, tais como juntar os pais separados, trazer um familiar de volta, etc. Nesse sentido, o roteiro de Elke de Gezelle e Ruben Vandenborre acerta em trazer para o centro do enredo uma realidade bastante comum para muitas crianças – a separação dos pais. Entretanto, o roteiro erra em construir o argumento em cima de uma criança negra que é deixada sozinha na rua à espera do pai, que mora dentro do shopping e, ainda por cima, coloca o protagonista (um rapaz branco) totalmente obcecado em ajudar a menina, reproduzindo a “síndrome do branco salvador”; isso é um ponto muito sensível para ser reproduzido em um filme infantil. Por outro lado, o fato de Jules cismar que é possível ajudar a garota e não dar ouvidos ao avô também não deixa de ser um retrato da rebeldia juvenil. Ou seja, um roteiro problemático.
Com menos foco no materialismo dos brinquedos, o filme de Ruben Vandenborre é mais bonito que o filme anterior, especialmente nos ambientes da loja de cookies e do shopping, que é onde a maior parte da trama se desenrola. Para quem pretende assistir a ‘A Família Noel 2’, a dica é ver o longa dublado, pois as vozes em português dão uma suavizada no tom duro falado originalmente pelos atores em holandês. Ah, e vai ter continuação…