quinta-feira, junho 20, 2024

Crítica | A Filha do Palhaço – Filme Aborda com Sensibilidade Relação Paternal Não Convencional

Desde que o mundo é mundo, os seres vivos riem e choram. Os gregos conceituaram a tragédia e a comédia, justamente para distinguir os dois polos de atuação no teatro – e na vida. Da comédia, a clássica figura do palhaço é recorrente e permanece ao longo da história, participando dos grandes impérios do mundo como modo de entretenimento, inclusive, em momentos de tensão. A função do palhaço é fazer rir, mas quase ninguém se pergunta sobre os sentimentos por trás da máscara do palhaço: quem é aquela pessoa? Tem família? Está bem? Sofre? Passa dificuldades? Faz isso porque quer? Nos últimos tempos tem havido um olhar mais empático com relação a essa figura clássica, questionando justamente esses temas. Nessa pegada, chega aos cinemas brasileiros esta semana o longa ‘A Filha do Palhaço’.

A Filha do Palhaço

Joana (Lis Sutter, em seu primeiro trabalho) é uma jovem de quatorze anos que foi passar uns dias na casa de seu pai, Renato (Demick Lopes, de ‘Greta’) em um bairro perto da praia em Fortaleza. Ela nunca teve antes contato com esse pai, que a abandonara com a mãe quando ainda era pequena. Ao chegar de surpresa, Renato fica meio desconcertado, num misto de felicidade de ter a filha junto pela primeira vez, e, ao mesmo tempo, confuso sobre o que fazer. Aos poucos Joana e Renato vão se conhecendo melhor, ganhando a confiança um do outro, e Joana descobre a verdadeira profissão do pai: ele é, na verdade, uma drag queen que entretém as pessoas se apresentando nas noites de Fortaleza.

Dois temas superimportantes direcionam o caminhar de ‘A Filha do Palhaço’: a ausência paterna (que acontece com cerca de 5% da população brasileira) e a não-convencionalidade dessa família, uma vez que a história trata de uma mãe separada com uma filha adolescente e um pai ausente, que é, na verdade, drag queen. Dois temas atuais, relevantes e tratados com muita sensibilidade não só pelo roteiro quanto pelos atores que encarnam esses personagens.

A Filha do Palhaço

Jesuíta Barbosa faz uma breve participação como um palhaço de teatro contemporâneo, mas suas cenas são poucas. O destaque mesmo fica para o par de protagonistas que vai construindo uma relação de confiança quase perceptível aos olhos do espectador: ela, descobrindo como amar esse pai diferente, ele, descobrindo como ser pai de repente. Para chegar a esse ponto, o roteiro de Michelline Helena, Amanda Pontes e Pedro Diogenes parte do respeito para construir cenas e diálogos possíveis e verdadeiros.

Da mesma forma, o diretor Pedro Diogenes faz uma imersão no mundo ordinário de Fortaleza, de bares, festinhas, lojas de varejo e pessoas comuns traçando uma crônica cotidiana de um recorte social pouco conhecido fora do eixo Rio-SP: o das noites cearenses, comumente preenchidas pelo humor de personas e personagens como Silvanelly, mesmo numa sociedade que odeia pessoas como ela. O termo palhaço, aqui, é metáfora para a crítica e para essa população do ódio, que gosta de rir de drag queens mas não as admite como pessoas. Como terceira margem nessa dicotomia, entra Joana, a esperança de uma nova geração mais empática, tolerante e aberta às diversas formas de relação interpessoal.

A Filha do Palhaço’ é sensível, fofo e bastante humano. É um longa de drama que não pesa a mão: mais que isso, humaniza e ressignifica a figura do palhaço com esperança e afeto.

A Filha do Palhaço

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