Nada melhor do que a história real para assombrar as noites das pessoas, certo? Porque por mais que a ficção tente criar cenários mirabolantes, é sempre o real, a possibilidade de algo acontecer com você, com sua casa, com sua família, que verdadeiramente assusta as pessoas. Essa é uma das razões pelas quais a onda de true crime está rendendo tanto nas produções: as pessoas simplesmente não conseguem parar de querer mais e mais histórias sobre crime reais que ocorreram por aí – e assim chegamos ao longa ‘A Garota da Vez’, filme estadunidense que marca a estreia da atriz Anna Kendrick na direção e que terá sessões de exibição no Festival do Rio 2024.
Estamos em 1978. A jovem aspirante a atriz Sheryl (Anna Kendrick, de ‘A Escolha Perfeita’) se sente frustrada por não conseguir nenhum papel para trabalhar, apesar de ter se mudado para a Califórnia atrás do seu sonho. Quando está prestes a desistir, sua agente lhe consegue uma pequena participação em um programa de auditório, onde deverá aparecer como uma jovem indecisa que deve decidir entre três candidatos que irão disputar sua atenção ao vivo. O que ela não poderia imaginar era que dentre os três pretendentes estivesse Rodney (Daniel Zovatto, de ‘O Homem nas Trevas‘), um charmoso e hipnotizante serial killer.
Apesar de termos contado assim, não é bem assim que a história de ‘A Garota da Vez’ se desenrola. E apesar do título em português (e em inglês, ‘Woman of the Hour’), o grande lance do filme na verdade não é a tal garota (que é a protagonista da trama, interpretada por Anna Kendrick, que também dirige o filme), pois esta tal garota tem uma vida comum como tantas outras na história; o grande lance do filme é o tal do serial killer, e é aí que o roteiro e a direção se embolam.
Baseado em eventos reais ocorridos na década de 1970 nos Estados Unidos e escrito por Ian McDonald, o roteiro tem como sua bula principal a vida do assassino em série Rodney. O filme começa com ele e uma moça no meio do deserto, e já aí vemos a primeira morte, em 1978. Em seguida, conhecemos Sheryl e sua vida comum; voltamos para Rodney, em outro ano, com outra garota; voltamos para Sheryl; voltamos para Rodney, em outro cenário… e assim vamos. Então vamos entendendo que eventualmente esses dois personagens vão se cruzar, e esperamos para ver como será isso e o que acontece depois.
Idas e vindas no tempo não é exatamente um problema no roteiro, é uma escolha; talvez a grande frustração seja o fato de ele não linkar tudo que está contando com a veia principal, deixando a sensação de que vamos acompanhando duas histórias paralelas que se cruzam e seguem por caminhos diferentes depois, tendo sido a tal ‘A Garota da Vez’ a pessoa mais pseudo-famosa que cruzou o caminho desse serial killer.
Não deixe de assistir:
Para uma primeira direção de alguém que já tem bastante experiência em outros campos do cinema, Anna Kendrick entrega um bom trabalho, orientando bem seu elenco de apoio com camadas de personalidade e escolhendo uma estética colorida e vibrante para contar a história bem cara-de-pau desse serial killer narcisista que apareceu na televisão em um programa de namoro, tendo ele matado mais de cem mulheres. ‘A Garota da Vez’ entretém como filme, mas, para quem curte desvendar mistérios, fica a sensação de ter faltando algumas peças nesse quebra-cabeças.