As produções do gênero terror estão vivendo um novo momento no Brasil. Depois dos mestres Zé do Caixão e Walter Hugo Khouri, que contribuíram tão significativamente para que tivéssemos opções de terror e horror por aqui, na última década o cinema nacional vem alargando seus horizontes, apostando em expandir o gênero para múltiplas abordagens e produzindo filmes dos mais variados subgêneros. É nessa trajetória que chega à Amazon Prime o longa independente ‘A Gruta’.
Jesus (Arthur Vinciprova) é o único sobrevivente de um desabamento ocorrido numa gruta, onde estava com a esposa, Ana (Nayara Justino), a guia de turismo (Luciene Martes) e um casal de amigos, Laura (Jhenifer Emerick) e Caio (Fábio Soares). Mas Jesus é encontrado em estado de alucinação, e, por isso, a policial Marina (Monica Izidoro) pede ajuda à irmã Helena (Carolina Ferraz), pois Jesus balbucia coisas sobre maldições e possessão. Porém, o que Helena não imaginava era que o que assombrou os jovens naquela gruta iria persegui-la também.
Quando tem pouca colaboração externa uma história corre o risco de ter seu entendimento restrito a apenas o imaginário de seu criador. E ‘A Gruta’ foi escrito, dirigido e estrelado por Arthur Vinciprova, de modo que o contexto geral passa ao espectador a sensação de que há algo mais na história que não está sendo dito ali – e não é dito mesmo. A subjetividade da trama impede a fácil compreensão do enredo, que se alterna entre o núcleo do passado (o que aconteceu na gruta) e o presente (com a tentativa de ajuda e investigação da irmã Helena); esses núcleos, por suas vezes, também intercalam momentos de lucidez e de alucinação, e tal mistura proporciona uma experiência truncada para o espectador.
Apesar da história pouco elucidativa, tem destaque as atuações de Jhenifer Emerick, cuja tensão na tal gruta é convincente, e Carolina Ferraz, desprendendo-se das Helenas televisivas e entregando uma freira cuja própria fé encontra-se vulnerável. Ver Carolina Ferraz se propor a um papel tão diferente ao que o grande público está acostumado a vê-la fazer (um desafio que ela começou a se propor em ‘A Glória e a Graça’, de 2017) é o ponto mais atrativo nesse ‘A Gruta’.
Assim, em ‘A Gruta’ temos dois planos fundamentais: o dos personagens da atualidade e os da dita assombração do passado – e, neste plano, há uma intenção de jogar luz sobre as injustiças raciais cometidas anteriormente nas quais os então personagens buscam revanche. Só que isso gera a problemática de tentar entrelaçar esses dois mundos com uma motivação plausível – que, cercada pela baixa captação do áudio, a falta de iluminação dentro do ambiente cavernoso e uma insegura construção do suspense, não alcança a expectativa do fã de filmes de terror.
Hoje, com as redes sociais e a tecnologia, os cinéfilos têm a oportunidade de acompanhar o início e a maturação da carreira de muitos cineastas brasileiros e, para vê-los melhorarem e prosperarem, é preciso darmos hoje uma oportunidade ao que eles e elas estão produzindo. ‘A Gruta’ é um terrorzinho experimental de baixo orçamento com uma boa intenção e pouco susto, mas vale para ficar de olho nos passos do elenco promissor, que tem potencial para ser lapidado para o futuro.