domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | ‘A Ilha da Fantasia’ é uma simples e divertida aventura da Blumhouse

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A Ilha da Fantasia é um dos seriados mais conhecidos do final dos anos 1970 e começo dos anos 1980 – e estendeu-se ao longo de mais de 150 episódios divididos em seis temporadas. O drama de fantasia era estrelado por Ricardo Montalbán como Sr. Roarke, um excêntrico e misterioso magnata que prometia realizar os desejos mais íntimos de seus visitantes – sem mencionar certas reviravoltas na trama. O sucesso da produção foi tamanho que gerou um revival catorze anos mais tarde e, neste ano, uma adaptação comedida que transformou o próprio título em um terror gore interessante, ainda que oscilante. No final das contas, o longa-metragem, produzido pelo famoso estúdio Blumhouse, foi massacrado pela crítica internacional – mas será que ele é tão ruim assim?

A história segue a mesma premissa que a arquitetura narrativa original: um grupo de visitantes chega em um aeroplanador para uma ilha remota, isolada da civilização, com a promessa de ver ao vivo e em cores seus sonhos se tornarem realidade. Temos, de um lado, a presença de Maggie Q como uma retraída empresária chamada Gwen Olsen, que quer voltar no passado e aceitar a proposta de casamento de um antigo amor que se perdeu com o passar dos anos; temos Austin Stowell como Patrick Sullivan, um ex-oficial de polícia cujo objetivo é honrar a memória do falecido pai e se alistar no exército para trazer uma espécie de “honra tardia” ao nome que carrega; e temos Lucy Hale interpretando a protagonista Melanie Cole, cujos desejos não se mostram claros logo de cara, mas guiam-na através de uma série de aventuras místicas tentando descobrir o que se esconde naquele paradisíaco refúgio.



Para essa nova versão, o diretor e roteirista Jeff Wadlow, que se reúne com a Blumhouse após o terror Verdade ou Desafio?’, resolver se afastar do melodrama novelesco de ponta da produção seriada e investir em uma perspectiva única, talvez como modo de revitalizar os exageros e as fórmulas do gênero de terror que tanto foram utilizadas nos últimos anos. Entretanto, talvez a fria recepção por parte dos especialistas e até mesmo pelo público tenha sido resultado de expectativas muito maiores do que esse remake poderia entregar – afinal, pelo enganoso trailer, era de se esperar que Wadlow abrisse portas para uma possível franquia de horror ou para uma metafísica exploração dos impulsos humanos. Mas, na verdade, estamos lidando com algo bastante diferente: a ideia principal é entregar o público uma jornada simples e convincente o bastante para nos manter interessados do começo ao fim, por mais que o caminho se mostra um tanto quanto turbulento.

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Acompanhado do costumeiro minimalismo fonográfico da trilha sonora, A Ilha da Fantasia já se inicia com uma construção atmosférica típica do suspense a que se destina, apresentando de forma categórica os personagens enquanto divide-os cada qual para seus “cenários”; Melanie é a primeira a perceber que há algo errado quando, ficando cara a cara com a valentona que atormentou sua infância, Sloane (Portia Doubleday), descobre que os pedidos feitos ao Sr. Roarke (encarnado pelo carisma sem igual de Michael Peña) não são o que parecem e vem com um custo altíssimo – neste caso, sacrifícios humanos que permitem que as entidades sobrenaturais da ilha possam se manter vivas. O problema é que a mitologia em questão é apresentada de modo raso demais para gerar tramas subsequentes, exigindo que os espectadores se mantenham firmes apenas àquilo que veem nas telonas – ou seja, sem abrir espaço para incursões futuras.

Não podemos tirar crédito de Wadlow em tentar fornecer mais do que consegue – mas também deve-se dizer que essas inflexões desnecessárias são o que afastam a produção do que ela poderia ser. No final das contas, o resultado é aprazível o suficiente quando o encaramos como peripécias circunstanciais que dizem exatamente aquilo que querem, longe de cultivar terrenos ambíguos e que vão para além do óbvio. Porém, quando essa obviedade é pincelada com incidências profundas, o tom da obra perde-se em meio a sequências vazias que beiram um preciosismo pedante que não tem (ou ao menos não poderia ter) qualquer espaço. Ademais, alguns pontos dramáticos servem como respaldo psicológico para os personagens – com ênfase em Gwen, cujas intenções se transmutam em um arco de redenção e de altruísmo à medida que compreende seu lugar na ilha.

O conflito entre múltiplas temáticas, como as supracitadas e até mesmo o escape cômico materializado pelos meios-irmãos Brax (Jimmy O. Yang) e J.D. Weaver (Ryan Hansen), também seria mais bem utilizado caso não fosse tão previsível – mas é inegável dizer que ambos servem como uma adição divertida para o escopo do filme. Eventualmente, descobrimos que as distintas personalidades se unem em uma traumática experiência que traz como catalisadora a persona de Melanie, uma jovem bastante problemática que enterrou seus traumas para livrar-se deles de uma vez por todas do modo mais emblemático possível – e, por mais que o twist resolutivo seja sólido, ficamos com um gostinho agridoce de “quero mais” que é premeditado pela insurgência de Brax como Tattoo (o braço-direito de Roarke na série).

A Ilha da Fantasia passa longe de ser tão ruim como resenhas críticas vem dizendo – e aqui está a pegadinha: quando encarada como uma construção metafórica, o longa falha em praticamente todos os aspectos; quando vista com o simplismo que Wadlow e Jason Blum tentaram imprimir, a ambiência é convidativa e divertida dentro de seus limites para aqueles que queiram espairecer a mente e esquecer dos problemas.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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A história segue a mesma premissa que a arquitetura narrativa original: um grupo de visitantes chega em um aeroplanador para uma ilha remota, isolada da civilização, com a promessa de ver ao vivo e em cores seus sonhos se tornarem realidade. Temos, de um lado, a presença de Maggie Q como uma retraída empresária chamada Gwen Olsen, que quer voltar no passado e aceitar a proposta de casamento de um antigo amor que se perdeu com o passar dos anos; temos Austin Stowell como Patrick Sullivan, um ex-oficial de polícia cujo objetivo é honrar a memória do falecido pai e se alistar no exército para trazer uma espécie de “honra tardia” ao nome que carrega; e temos Lucy Hale interpretando a protagonista Melanie Cole, cujos desejos não se mostram claros logo de cara, mas guiam-na através de uma série de aventuras místicas tentando descobrir o que se esconde naquele paradisíaco refúgio.

Para essa nova versão, o diretor e roteirista Jeff Wadlow, que se reúne com a Blumhouse após o terror Verdade ou Desafio?’, resolver se afastar do melodrama novelesco de ponta da produção seriada e investir em uma perspectiva única, talvez como modo de revitalizar os exageros e as fórmulas do gênero de terror que tanto foram utilizadas nos últimos anos. Entretanto, talvez a fria recepção por parte dos especialistas e até mesmo pelo público tenha sido resultado de expectativas muito maiores do que esse remake poderia entregar – afinal, pelo enganoso trailer, era de se esperar que Wadlow abrisse portas para uma possível franquia de horror ou para uma metafísica exploração dos impulsos humanos. Mas, na verdade, estamos lidando com algo bastante diferente: a ideia principal é entregar o público uma jornada simples e convincente o bastante para nos manter interessados do começo ao fim, por mais que o caminho se mostra um tanto quanto turbulento.

Acompanhado do costumeiro minimalismo fonográfico da trilha sonora, A Ilha da Fantasia já se inicia com uma construção atmosférica típica do suspense a que se destina, apresentando de forma categórica os personagens enquanto divide-os cada qual para seus “cenários”; Melanie é a primeira a perceber que há algo errado quando, ficando cara a cara com a valentona que atormentou sua infância, Sloane (Portia Doubleday), descobre que os pedidos feitos ao Sr. Roarke (encarnado pelo carisma sem igual de Michael Peña) não são o que parecem e vem com um custo altíssimo – neste caso, sacrifícios humanos que permitem que as entidades sobrenaturais da ilha possam se manter vivas. O problema é que a mitologia em questão é apresentada de modo raso demais para gerar tramas subsequentes, exigindo que os espectadores se mantenham firmes apenas àquilo que veem nas telonas – ou seja, sem abrir espaço para incursões futuras.

Não podemos tirar crédito de Wadlow em tentar fornecer mais do que consegue – mas também deve-se dizer que essas inflexões desnecessárias são o que afastam a produção do que ela poderia ser. No final das contas, o resultado é aprazível o suficiente quando o encaramos como peripécias circunstanciais que dizem exatamente aquilo que querem, longe de cultivar terrenos ambíguos e que vão para além do óbvio. Porém, quando essa obviedade é pincelada com incidências profundas, o tom da obra perde-se em meio a sequências vazias que beiram um preciosismo pedante que não tem (ou ao menos não poderia ter) qualquer espaço. Ademais, alguns pontos dramáticos servem como respaldo psicológico para os personagens – com ênfase em Gwen, cujas intenções se transmutam em um arco de redenção e de altruísmo à medida que compreende seu lugar na ilha.

O conflito entre múltiplas temáticas, como as supracitadas e até mesmo o escape cômico materializado pelos meios-irmãos Brax (Jimmy O. Yang) e J.D. Weaver (Ryan Hansen), também seria mais bem utilizado caso não fosse tão previsível – mas é inegável dizer que ambos servem como uma adição divertida para o escopo do filme. Eventualmente, descobrimos que as distintas personalidades se unem em uma traumática experiência que traz como catalisadora a persona de Melanie, uma jovem bastante problemática que enterrou seus traumas para livrar-se deles de uma vez por todas do modo mais emblemático possível – e, por mais que o twist resolutivo seja sólido, ficamos com um gostinho agridoce de “quero mais” que é premeditado pela insurgência de Brax como Tattoo (o braço-direito de Roarke na série).

A Ilha da Fantasia passa longe de ser tão ruim como resenhas críticas vem dizendo – e aqui está a pegadinha: quando encarada como uma construção metafórica, o longa falha em praticamente todos os aspectos; quando vista com o simplismo que Wadlow e Jason Blum tentaram imprimir, a ambiência é convidativa e divertida dentro de seus limites para aqueles que queiram espairecer a mente e esquecer dos problemas.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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