quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | ‘A Jornada de Vivo’ é uma previsível animação que não faz jus ao talento de Lin-Manuel Miranda

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Quando pensamos no nome Lin-Manuel Miranda, pensamos automaticamente em perfeição. Afinal, o prolífico artista é responsável por alguns dos musicais de maior sucesso da Broadway, incluindo Hamilton e ‘In the Heights’ (este levado aos cinemas sob o título de ‘Em Um Bairro de Nova York’, que conquistou o público ao redor do mundo). Como se não bastasse, Miranda também ficou responsável pela irretocável trilha sonora de ‘Moana’ e co-protagonizou o divertido O Retorno de Mary Poppins, ao lado de Emily Blunt. Não é surpresa, pois, que a vindoura animação A Jornada de Vivo tenha criado expectativas bem altas para os fãs, inclusive a este que vos fala.

A narrativa, bastante simples e destinada a uma audiência infanto-juvenil, nos leva para o vibrante mundo cubano, e gira em torno de Vivo (Miranda), um pequeno jupará apaixonado por música que se apresenta na praça central de Havana ao lado do dono, Andrés (Juan de Marcos González). A princípio, ambos têm uma vida bastante agradável e sem muitos problemas – isso é, até o momento em que Andrés recebe uma carta de um antigo amor, Marta (Gloria Estefan), famosa artista que está encerrando sua carreira musical e deseja cantar uma última vez nos palcos ao lado dele. Andrés sempre foi apaixonado por Marta e não teve oportunidade de revelar a ela seus sentimentos, decidindo cruzar o oceano e reencontrá-la em um espetacular clube latino em Miami. Vivo não fica muito contente com a decisão de deixar a casa que conhece para trás, mas depois da morte inesperada do dono, ele resolve cumprir esse último desejo.



No geral, o longa-metragem, que marca a primeira investida musical da Sony Pictures, tinha tudo para dar certo, ainda mais considerando a extensa cultura por trás do enredo. Entretanto, o resultado é muito aquém do esperado e se transforma numa amálgama cansativa de fórmulas vazias que não dizem nada além do óbvio. Aliás, nem mesmo as músicas, também compostas por Miranda, parecem fugir do óbvio como fizeram em produções anteriores: ao encarnar Vivo, o performer recorrer à mesma verborragia do rap, aliando-a a uma nada inspirada cúmbia e a uma salsa cubana que não tem espaço na história. Nem mesmo os momentos de maior emoção causam efeito no espectador – ou talvez causem em aqueles que procuram por algo tão mercadológico e sem identidade quanto qualquer outro título meia-boca da Netflix.

Nada parece se encaixar com fluidez aqui: a direção de Kirk DeMicco não tenta ousar um pouco mais, arquitetando uma melodramática e simplória emulação de Os Croods, animação pela qual ficou responsável em 2013. O roteiro não consegue encontrar brechas nas imitações que faz – e pega páginas emprestadas da clássica jornada do herói sem saber como desconstruí-las. Afinal, Vivo sai de sua zona de conforto em uma grandiosa missão, cruza caminho com vários personagens coadjuvantes esquecíveis e descartáveis, apenas para concluir o que já imaginávamos desde o princípio. No meio do caminho, nenhum dos obstáculos enfrentado por ele ou pela companheira humana, Gabi (Ynairaly Simo) é crível o suficiente para envolver o público.

Os antagonistas – se é que podemos chamá-los assim, já que não mudam em nada a trama – desperdiçam o talento de nomes como Estefan, Zoë Saldaña e Michael Rooker para personas tão unidimensionais que chegam a ser engraçadas. A própria estética da produção parece crua e inacabada – e isso lembrando que o lendário Roger Deakins fora contratado como supervisor visual: as expressões fora de lugar e a forçada catarse que o roteiro querem enfiar garganta abaixo culminam em uma circinal rendição que não diz nada além do que já esperávamos e que vale a pena pela fofura de Vivo (quando não tem provido de quaisquer diálogos).

O processo de montagem não vai muito fora da curva, tangenciando uma tentativa de dinamismo que fracassa em todos os quesitos. Em determinado momento, Vivo e Gabi estão atravessando um pântano recheado de crocodilos, cobras gigantes e uma tempestade torrencial, cantando para se esquecerem dos problemas e manterem a memória de Andrés viva. Erika Dapkewicz, responsável pela edição, almeja à espetacularização da superação às adversidades, criando encontros e desencontros que, eventualmente, só nos deixam mais exauridos do que antes e não revela qualquer valor artístico.

VIVO – (L-R) Lin-Manuel Miranda as Vivo and Ynairaly Simo as Gabi. ©2021 SPAI. All Rights Reserved.

Não posso deixar de comentar, porém, a belíssima intenção do filme em modelar uma narrativa sobre amizade, sacrifícios e amor que, quando destacada de tantos erros amadores, tinha potencial o suficiente para encantar espectadores de todas as idades. No final das contas, as promessas de A Jornada de Vivo ficam restritas ao mundo da imaginação, fugindo da realidade em detrimento das obviedades cinematográficas e da completa falta de originalidade.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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A narrativa, bastante simples e destinada a uma audiência infanto-juvenil, nos leva para o vibrante mundo cubano, e gira em torno de Vivo (Miranda), um pequeno jupará apaixonado por música que se apresenta na praça central de Havana ao lado do dono, Andrés (Juan de Marcos González). A princípio, ambos têm uma vida bastante agradável e sem muitos problemas – isso é, até o momento em que Andrés recebe uma carta de um antigo amor, Marta (Gloria Estefan), famosa artista que está encerrando sua carreira musical e deseja cantar uma última vez nos palcos ao lado dele. Andrés sempre foi apaixonado por Marta e não teve oportunidade de revelar a ela seus sentimentos, decidindo cruzar o oceano e reencontrá-la em um espetacular clube latino em Miami. Vivo não fica muito contente com a decisão de deixar a casa que conhece para trás, mas depois da morte inesperada do dono, ele resolve cumprir esse último desejo.

No geral, o longa-metragem, que marca a primeira investida musical da Sony Pictures, tinha tudo para dar certo, ainda mais considerando a extensa cultura por trás do enredo. Entretanto, o resultado é muito aquém do esperado e se transforma numa amálgama cansativa de fórmulas vazias que não dizem nada além do óbvio. Aliás, nem mesmo as músicas, também compostas por Miranda, parecem fugir do óbvio como fizeram em produções anteriores: ao encarnar Vivo, o performer recorrer à mesma verborragia do rap, aliando-a a uma nada inspirada cúmbia e a uma salsa cubana que não tem espaço na história. Nem mesmo os momentos de maior emoção causam efeito no espectador – ou talvez causem em aqueles que procuram por algo tão mercadológico e sem identidade quanto qualquer outro título meia-boca da Netflix.

Nada parece se encaixar com fluidez aqui: a direção de Kirk DeMicco não tenta ousar um pouco mais, arquitetando uma melodramática e simplória emulação de Os Croods, animação pela qual ficou responsável em 2013. O roteiro não consegue encontrar brechas nas imitações que faz – e pega páginas emprestadas da clássica jornada do herói sem saber como desconstruí-las. Afinal, Vivo sai de sua zona de conforto em uma grandiosa missão, cruza caminho com vários personagens coadjuvantes esquecíveis e descartáveis, apenas para concluir o que já imaginávamos desde o princípio. No meio do caminho, nenhum dos obstáculos enfrentado por ele ou pela companheira humana, Gabi (Ynairaly Simo) é crível o suficiente para envolver o público.

Os antagonistas – se é que podemos chamá-los assim, já que não mudam em nada a trama – desperdiçam o talento de nomes como Estefan, Zoë Saldaña e Michael Rooker para personas tão unidimensionais que chegam a ser engraçadas. A própria estética da produção parece crua e inacabada – e isso lembrando que o lendário Roger Deakins fora contratado como supervisor visual: as expressões fora de lugar e a forçada catarse que o roteiro querem enfiar garganta abaixo culminam em uma circinal rendição que não diz nada além do que já esperávamos e que vale a pena pela fofura de Vivo (quando não tem provido de quaisquer diálogos).

O processo de montagem não vai muito fora da curva, tangenciando uma tentativa de dinamismo que fracassa em todos os quesitos. Em determinado momento, Vivo e Gabi estão atravessando um pântano recheado de crocodilos, cobras gigantes e uma tempestade torrencial, cantando para se esquecerem dos problemas e manterem a memória de Andrés viva. Erika Dapkewicz, responsável pela edição, almeja à espetacularização da superação às adversidades, criando encontros e desencontros que, eventualmente, só nos deixam mais exauridos do que antes e não revela qualquer valor artístico.

VIVO – (L-R) Lin-Manuel Miranda as Vivo and Ynairaly Simo as Gabi. ©2021 SPAI. All Rights Reserved.

Não posso deixar de comentar, porém, a belíssima intenção do filme em modelar uma narrativa sobre amizade, sacrifícios e amor que, quando destacada de tantos erros amadores, tinha potencial o suficiente para encantar espectadores de todas as idades. No final das contas, as promessas de A Jornada de Vivo ficam restritas ao mundo da imaginação, fugindo da realidade em detrimento das obviedades cinematográficas e da completa falta de originalidade.

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