quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | A Jornada – Drama com Eva Green é uma sensível batalha entre maternidade e autorrealização

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Ao tornar-se mãe, todas as mulheres passam pela difícil tribulação de seguir suas carreiras, enquanto educam seus filhos. Comandado e escrito por Alice Winocour, A Jornada (Proxima) apresenta o conflito da astronauta Sarah Loreau (Eva Green) ao partir numa missão espacial e deixar a sua pequena filha Stella (Zélie Boulant-Lemesle) aos cuidados do pai na Terra. 

Apesar de ser um filme sobre o universo estelar, a obra francesa é centrada em torno da pré-partida e nos custos emocionais da realização do sonho da protagonista. Com delicadeza, Winocour percorre o mundo particular entre mãe e filha, equilibrando as emoções entre a concretização do trabalho de uma vida inteira e a renúncia da promessa parental de estar sempre presente na criação dos filhos. 



Antes da derradeira despedida, o adeus é dosado pela jornada de preparação de Sarah para a Proxima Mission e adaptação de Stella a ir morar com o pai astrofísico, Thomas (Lars Eidinger), em outra cidade. Em seguida, Sarah parte para Star City, na Rússia, onde ela e seus colegas astronautas, Mike Shannon (Matt Dillon) e Anton Ochievski (Aleksey Fateev), passam por intenso e longo treinamento antes de seguirem para Baikonur, no Cazaquistão, onde o foguete será lançado.

Relegada a papéis chinfrins, como nos filmes de Tim Burton, Eva Green resplandece neste drama de grande complexidade. A atriz dá à Sarah a força emocional, física e racional para lidar com as atividades corporais exigidas e as inserções de machismo dos colegas de trabalho, tais como comentários sobre a sua incapacidade física, restrições aos seus objetos de higiene pessoais e controle sobre o seu ritmo de trabalho. 

Tal como o drama entre pai e filho em Ad Astra (2019), Winocour ambienta-se à temática espacial, entretanto, foca o psicológico dos seus personagens. Podemos compará-la às obras Gravidade (2013) e O Primeiro Homem (2018), com o mesmo tom razão x emoção, no entanto, A Jornada é mais estoico. Isto é, o filme destaca uma personagem consciente de seus obstáculos e completamente segura sobre deixar parte da sua vida em suspensão.

Para não desconectarmos do factual, o roteiro mistura momentos de ternura entre mãe e filha com a frieza da astronauta por manter seus batimentos cardíacos controlados durante atividades excruciantes. Desse modo, a obra apresenta uma metáfora a todas mulheres sobre o malabarismo dos cuidados primários com seus filhos e a execução calculista das suas atividades profissionais. 

Separadas por um parede fria de vidro, por conta de quarentena de treinamento, mãe e filha tentam comunicar-se com o olhar e o impedimento de um abraço entre as duas apresenta-se como uma tortura visual. Por outro lado, uma quebra de protocolo (ameaçando toda a segurança da missão) da rígida profissional se mostra com um acalento aos nossos corações sedentos por amores ágape.  

Sem grande rompantes, A Jornada consegue deixar um nó na garganta sobre a dualidade do profissional e do pessoal. Em seus dois longas-metragens anteriores, Winocour explorou este mesmo dilema, tanto no drama psiquiátrico Augustine (2012), a partir do cientista Jean-Martin Charcot (Vincent Lindon), quanto no tenso suspense Disorder (2015), com o guarda-costas ex-militar Vincent (Matthias Schoenaerts). 

Em seu terceiro projeto de escrita e direção, a cineasta francesa explora a seriedade de Eva Green e os seus atores coadjuvantes para criar uma atmosfera de perseverança sobre as decisões de sua protagonista. A Jornada é uma obra de observância das metáforas sugeridas à nossa vida moderna, principalmente às mulheres desta geração balizadas pelos seus papéis sociais e julgadas pelas suas performances, sejam elas quais forem: mães, astronautas, atrizes, diretoras, esportistas, modelos, etc. 

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Apesar de ser um filme sobre o universo estelar, a obra francesa é centrada em torno da pré-partida e nos custos emocionais da realização do sonho da protagonista. Com delicadeza, Winocour percorre o mundo particular entre mãe e filha, equilibrando as emoções entre a concretização do trabalho de uma vida inteira e a renúncia da promessa parental de estar sempre presente na criação dos filhos. 

Antes da derradeira despedida, o adeus é dosado pela jornada de preparação de Sarah para a Proxima Mission e adaptação de Stella a ir morar com o pai astrofísico, Thomas (Lars Eidinger), em outra cidade. Em seguida, Sarah parte para Star City, na Rússia, onde ela e seus colegas astronautas, Mike Shannon (Matt Dillon) e Anton Ochievski (Aleksey Fateev), passam por intenso e longo treinamento antes de seguirem para Baikonur, no Cazaquistão, onde o foguete será lançado.

Relegada a papéis chinfrins, como nos filmes de Tim Burton, Eva Green resplandece neste drama de grande complexidade. A atriz dá à Sarah a força emocional, física e racional para lidar com as atividades corporais exigidas e as inserções de machismo dos colegas de trabalho, tais como comentários sobre a sua incapacidade física, restrições aos seus objetos de higiene pessoais e controle sobre o seu ritmo de trabalho. 

Tal como o drama entre pai e filho em Ad Astra (2019), Winocour ambienta-se à temática espacial, entretanto, foca o psicológico dos seus personagens. Podemos compará-la às obras Gravidade (2013) e O Primeiro Homem (2018), com o mesmo tom razão x emoção, no entanto, A Jornada é mais estoico. Isto é, o filme destaca uma personagem consciente de seus obstáculos e completamente segura sobre deixar parte da sua vida em suspensão.

Para não desconectarmos do factual, o roteiro mistura momentos de ternura entre mãe e filha com a frieza da astronauta por manter seus batimentos cardíacos controlados durante atividades excruciantes. Desse modo, a obra apresenta uma metáfora a todas mulheres sobre o malabarismo dos cuidados primários com seus filhos e a execução calculista das suas atividades profissionais. 

Separadas por um parede fria de vidro, por conta de quarentena de treinamento, mãe e filha tentam comunicar-se com o olhar e o impedimento de um abraço entre as duas apresenta-se como uma tortura visual. Por outro lado, uma quebra de protocolo (ameaçando toda a segurança da missão) da rígida profissional se mostra com um acalento aos nossos corações sedentos por amores ágape.  

Sem grande rompantes, A Jornada consegue deixar um nó na garganta sobre a dualidade do profissional e do pessoal. Em seus dois longas-metragens anteriores, Winocour explorou este mesmo dilema, tanto no drama psiquiátrico Augustine (2012), a partir do cientista Jean-Martin Charcot (Vincent Lindon), quanto no tenso suspense Disorder (2015), com o guarda-costas ex-militar Vincent (Matthias Schoenaerts). 

Em seu terceiro projeto de escrita e direção, a cineasta francesa explora a seriedade de Eva Green e os seus atores coadjuvantes para criar uma atmosfera de perseverança sobre as decisões de sua protagonista. A Jornada é uma obra de observância das metáforas sugeridas à nossa vida moderna, principalmente às mulheres desta geração balizadas pelos seus papéis sociais e julgadas pelas suas performances, sejam elas quais forem: mães, astronautas, atrizes, diretoras, esportistas, modelos, etc. 

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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