Como alguém que escreve sobre aquilo que sabe e na sua profundidade viveu na pele, Jack Carr faz de A Lista Terminal uma obra de ficção pautada no realismo de um membro da Navy Seal. E por ter vivido cada expressão da mais alta patente militar norte-americana, o agora escritor transforma sua experiência particular na suntuosa jornada de redenção de um homem imerso no luto emocional, mental e físico – que busca os responsáveis pelas mortes de sua equipe tática durante uma perigosa operação. E buscando honrar sua visão bem intimista desta força especial, Antoine Fuqua e Chris Pratt se unem para entregar uma versão adaptada extasiante, que praticamente funciona como um coletânea de oito filmes de ação excepcionais.
A Lista Terminal é o tipo de minissérie que raramente vemos. Com um orçamento robusto e a presença de ex-membros da Marinha norte-americana entre o elenco e a equipe técnica/de apoio, a produção é extremamente detalhista em relatar os meandros do exército e até mesmo do governo local. Trazendo a aflorada criatividade de Carr para as telas, Fuqua entrega uma história que comprime a didática que rege os Navy SEALs, à medida em que apresenta uma camada dramática bem densa e muito bem servida.
Orbitando entre o subgênero de thriller psicológico e thriller político, o famoso cineasta por trás de Dia de Treinamento opera em sua zona de conforto com precisão, proporcionando um entretenimento que exaure os seus personagens até a última gota. Tudo isso para entregar uma preciosa e enérgica descarga de adrenalina, que convida a audiência para dentro da trama e até mesmo para a mente de seu dúbio protagonista. E ainda que a trama não seja absolutamente inovadora, A Lista Terminal entrega exatamente o que uma excelente série de ação precisa: confrontos performáticos, explosões a perder de vista e uma boa motivação como alicerce narrativo.
Com cenas de ação bastante performáticas e viscerais em sua sanguinolência explícita, a minissérie não é para aqueles de estômago mais sensível, uma vez que não poupa seus personagens – sendo eles coadjuvantes ou não. De ritmo acelerado e com pequenas reviravoltas sempre à espreita, A Lista Terminal é o sonho concreto dos amantes do gênero brucutu, aborda a defesa da honra a todo custo e celebra a virilidade masculina com naturalidade (e não há nada de errado nisso!). Explorando ainda os dilemas psicoemocionais que todo bom e velho brucutu dos anos 80 enfrentava, a minissérie até parece uma resposta complementar ao sucesso estrondoso de Top Gun: Maverick, que valoriza os mesmo elementos em cenas alucinantes.
E conforme traz pequenas referências ao amado Rambo, a original Amazon Prime Video ainda coloca Chris Pratt na posição de um anti-herói bem às avessas, que busca fazer justiça com as próprias mãos, doa a quem doer. Com Taylor Kitsch e Constance Wu também no elenco, A Lista Terminal não desaponta, supre todas as necessidades dentro do gênero de ação e entrega uma trama substancial – que ajuda a alicerçar todos os dilemas do pouco carismático (mas compreensivo) protagonista. Com um plot twist maravilhoso, a nova iteração de Fuqua só reitera o seu brilhantismo na direção (ele assina o episódio inaugural) e ainda apresenta Pratt como um genuíno brucutu em formação. Seria esse o prelúdio de uma fase distinta de sua carreira? Seria injusto ignorar seu potencial.