quinta-feira, junho 20, 2024

Crítica | A Metade de Nós – A Dor do Luto e o Peso da Ausência São Temas de Sensível Filme Brasileiro

Existe um buraco enorme, profundo, imensurável que fica quando uma vida se esvai. Seja humana ou animal (em alguns casos, até mesmo vegetal), perder alguém deixa sequelas naqueles que ficam. A morte, ainda que seja um assunto não conversado pela maioria das pessoas, faz parte da vida. Mas, claro, há mortes e mortes, e todos nós esperamos que a vida siga seu ritmo natural de eventos, em que as pessoas envelhecem e, então, morrem. Esse é o desejo de muitos, porém, há vidas que são interrompidas por motivos externos, como a violência brutal, e há aquelas, também, que são interrompidas voluntariamente, partindo da própria pessoa – e esse é um assunto pouquíssimo conversado abertamente, mas que serve como tema para o filme brasileiro ‘A Metade de Nós’, que chega a partir dessa semana aos cinemas.

A Metade de Nós

Francisca (Denise Weinberg, da trilogia de filmes ‘De Pernas Pro Ar’) e Carlos (Cacá Amaral, da sérieFilhas de Eva’) lutam para se adaptar à nova realidade, depois que o filho deles, Felipe, se suicidou. E o dia a dia deles não fica nada fácil, mesmo já tendo passado um tempinho do ocorrido. Francisca tenta se afundar no trabalho, nas aulas que dá na faculdade de Economia, e não pensar no que aconteceu. Já Carlos procura manter viva a memória do filho, fazendo suas coisinhas normalmente, e isso acaba exasperando a esposa, que não entende como ele consegue agir como se nada tivesse acontecido e pede espaço a ele. Sem saída, Carlos vai morar no antigo apartamento do filho, e começa a desvendar quem era aquele filho que, ao que parece, ele mal conhecia – e é nesse momento que conhece Hugo (Kelner Macêdo), vizinho de Felipe que parece ter informações sobre ele. Por sua vez Francisca encontra informações de que o filho se consultava com um psiquiatra, e ela foca toda sua energia em investigar a vida desse profissional, certa de que ele é o responsável por tudo que aconteceu.

De maneira sensível e delicada, posto que não tem pressa em elencar os eventos de seu enredo, ‘A Metade de Nós’ é um filme que vai se construindo junto com os sentimentos de seus protagonistas, à medida que eles mesmos vão se entendendo e entendendo a nova realidade em que vivem. Para tal, o roteiro de Bruno H. Castro junto com o diretor Flavio Botelho (a partir de uma experiência pessoal deste) vai tecendo elementos e ações que fazem parte da jornada comum do luto, como o estado de negação, da raiva, da apatia, da euforia, da perdição. A diferença é que a produção centra seu protagonismo num casal idoso, o que amplifica a dor da perda porque, como diz o personagem Carlos, não há nome para o status de uma pessoa que perdeu um filho.

A Metade de Nós

Apesar de o suicídio ser o pano de fundo do enredo, o longa não se debruça propriamente sobre o assunto; ao contrário, foca sua história em demonstrar o peso que fica na vida dos que permanecem vivos a partir da ausência repentina de alguém que era querido e estava lá até pouco tempo. Esse buraco, enorme, permanece como um abismo até o fim da jornada dos que viveram com a pessoa, mesmo que se esforce a buscar as peças desse quebra-cabeças insolucionável.

Vencedor do prêmio do público da Mostra de São Paulo 2023, ‘A Metade de Nós’ chega aos cinemas como um gesto de empatia a todos os enlutados que não encontram suas dores representadas no cinema.

A Metade de Nós

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