sábado , 2 novembro , 2024

Crítica | A Verdadeira História de Ned Kelly – Grande Elenco é destaque na cinebiografia do Famoso Fora da Lei

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“Qual é o problema com os australianos, que ficam idolatrando um fora da lei?”. Essa pergunta é feita ao final de ‘A Verdadeira História de Ned Kelly’ e é justamente o conceito do filme: desconstruir o imaginário de idolatria de um dos maiores bandidos da Austrália, trazendo sua suposta verdadeira história.

A trama começa na infância do jovem Edward (Orlando Schwerdt) e sua família no deserto australiano no ano de 1867, focando na forma abusiva com que o sargento O’Neil (Charlie Hunnam) tratava os nativos do território, os pobres e imigrantes – como a família Kelly. Mas a chegada de Harry Power (Russell Crowe) na família muda essa dinâmica, e Edward conhece uma forma alternativa de resistência. Os anos se passam, Edward agora é Ned Kelly (George MacKay), apaixonado por Mary (Thomasin McKenzie) e, para enfrentar os abusos do oficial Fitzpatrick (Nicholas Hoult), Ned monta sua gangue com o irmão Danny (Earl Cave) e outros rapazes.

Baseado no livro de Peter Carey, a grande proposta do filme é desfazer a imagem romântica de Ned Kelly como um bandidão bacana e pintá-lo como um sujeito comum, que, de certa forma teria se tornado mau por conta do sistema opressor. Para isso, o roteiro de Shaun Grant foca bem mais na parte da infância/juventude de Ned e na sua transformação como “homem” – influenciado por um bandido que lhe mostra o que significa matar alguém e por uma prostituta com quem ele tem suas primeiras experiências sexuais com mulher. Ou seja, a tal verdadeira história foca mais no sujeito Edward, não tanto no mito Ned Kelly, pulando as partes principais, sugerindo interpretações e tecendo um novo olhar polêmico sobre o protagonista.

Portanto, o filme de Justin Kurzel enverga muito mais para o drama do que para a ação e/ou terror, com um tom muito mais biográfico-épico do que de culto ao anti-herói, e isso pode gerar frustração no espectador que pegue esse ‘A Verdadeira História de Ned Kelly’ para assistir. A bem da verdade, somente nos últimos quinze minutos do longa é que Ned mostra a que veio – e, ainda assim, meio que não convence. O projeto do filme se esforça tanto em criar uma aura de sujeito comum (mimado e inocente, até), que quando Ned começa a tocar o terror, a coisa toda parece descompassada, mesmo gerando uma bela e poética cena de luta no final.

Além da trajetória do biografado, o principal atrativo dessa produção é o grande elenco que conseguiu reunir, que entrega boas atuações, mas nada memorável. Em suma, ‘A Verdadeira História de Ned Kelly’ desfaz a imagem de anti-herói da resistência e pinta Ned como um antipatriota louco que lutou contra os soldados ingleses por motivos meramente pessoais. É uma visão interessante de uma figura pública que participa do imaginário do povo, que pode ajudar a construir a opinião do espectador sobre um dos maiores foras da lei do mundo.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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A trama começa na infância do jovem Edward (Orlando Schwerdt) e sua família no deserto australiano no ano de 1867, focando na forma abusiva com que o sargento O’Neil (Charlie Hunnam) tratava os nativos do território, os pobres e imigrantes – como a família Kelly. Mas a chegada de Harry Power (Russell Crowe) na família muda essa dinâmica, e Edward conhece uma forma alternativa de resistência. Os anos se passam, Edward agora é Ned Kelly (George MacKay), apaixonado por Mary (Thomasin McKenzie) e, para enfrentar os abusos do oficial Fitzpatrick (Nicholas Hoult), Ned monta sua gangue com o irmão Danny (Earl Cave) e outros rapazes.

Baseado no livro de Peter Carey, a grande proposta do filme é desfazer a imagem romântica de Ned Kelly como um bandidão bacana e pintá-lo como um sujeito comum, que, de certa forma teria se tornado mau por conta do sistema opressor. Para isso, o roteiro de Shaun Grant foca bem mais na parte da infância/juventude de Ned e na sua transformação como “homem” – influenciado por um bandido que lhe mostra o que significa matar alguém e por uma prostituta com quem ele tem suas primeiras experiências sexuais com mulher. Ou seja, a tal verdadeira história foca mais no sujeito Edward, não tanto no mito Ned Kelly, pulando as partes principais, sugerindo interpretações e tecendo um novo olhar polêmico sobre o protagonista.

Portanto, o filme de Justin Kurzel enverga muito mais para o drama do que para a ação e/ou terror, com um tom muito mais biográfico-épico do que de culto ao anti-herói, e isso pode gerar frustração no espectador que pegue esse ‘A Verdadeira História de Ned Kelly’ para assistir. A bem da verdade, somente nos últimos quinze minutos do longa é que Ned mostra a que veio – e, ainda assim, meio que não convence. O projeto do filme se esforça tanto em criar uma aura de sujeito comum (mimado e inocente, até), que quando Ned começa a tocar o terror, a coisa toda parece descompassada, mesmo gerando uma bela e poética cena de luta no final.

Além da trajetória do biografado, o principal atrativo dessa produção é o grande elenco que conseguiu reunir, que entrega boas atuações, mas nada memorável. Em suma, ‘A Verdadeira História de Ned Kelly’ desfaz a imagem de anti-herói da resistência e pinta Ned como um antipatriota louco que lutou contra os soldados ingleses por motivos meramente pessoais. É uma visão interessante de uma figura pública que participa do imaginário do povo, que pode ajudar a construir a opinião do espectador sobre um dos maiores foras da lei do mundo.

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