Pensa numa mulher porreta! Dessas que corre atrás do que quer, não mede esforços, não deixa ninguém diminuir seu sonho e que sabe exatamente onde quer chegar. Essa é Madam C.J. Walker.
Mas sua história começa bem antes disso, em 1908, em St. Louis – Louisiana, ao sul dos Estados Unidos, quando Sarah Breedlove (Octavia Spencer, claramente emocionada por interpretar esse papel) ainda é apenas uma lavadeira que ganha moedas por esfolar as mãos lavando roupa para os outros. Um dia ela recebe a visita de Addie Munroe (Carmen Ejogo, que consegue fazer a gente odiar sua personagem), uma vendedora que lhe oferece um precioso produto que promete fazer o cabelo das mulheres negras crescer mais rápido e mais sedoso. Esse produto muda a vida de Sarah para sempre, que, a partir dele, ganha a autoestima necessária para correr atrás de seu próprio sonho.
Apresentada em apenas 4 episódios, a minissérie ‘A Vida e a História de Madam C.J. Walker’ conta a incrível jornada de Sarah Breedlove, desde sua origem como uma trabalhadora que se sentia feia até ela se tornar a primeira mulher negra milionária no mundo – a primeira a sê-lo pelos seus próprios esforços, não por herança ou por casamento. E sim, é baseado numa história real, realíssima, que também é um livro (que inspirou a trama).
O roteiro tem uma abordagem interessante: ao mesmo tempo que constrói uma história de época, também mescla elementos contemporâneos, como ferramenta para atrair um público mais jovem (a quem a biografia da minissérie busca inspirar). Dessa junção, temos vestidos de época em cenas marcantes sendo embalados por um hip hop super atual – e a combinação ficou realmente legal.
É extremamente importante apontar também que o elenco é to-do composto por mulheres e homens negros. Repito: um elenco to-do composto por mulheres e homens negros. E isso é importante ser ressaltado porque se trata da história de uma grande mulher negra, e a produção teve a sensibilidade e a coerência de elencar apenas pessoas negras para o projeto. Além disso, ter Nicole Asher, uma mulher negra, na direção do projeto também faz toda a diferença: enquanto mulher, ela entende a importância de retratar os momentos difíceis do passado de Sarah, mas não se demorar neles porque não há necessidade alguma de reforçar esse tipo de imagem para o espectador (afinal, a minissérie não é sobre isso, é sobre superação, empenho e autoestima); e enquanto mulher negra, ela entende a história de Sarah com mais aproximação, o que a ajuda a retratar a história real de Sarah sem fetichização, e sim com empatia.
Narrado pela protagonista, a minissérie aborda temas como o racismo estrutural, o machismo (inclusive entre homens negros), a violência doméstica, a sororidade e a estética como ferramenta de empoderamento. Através do cabelo, Sarah encontrou seu sonho e seu poder. E a minissérie nos brinda com frases impactantes como “o cabelo é nossa herança. Ele diz de onde viemos, onde estivemos e para onde vamos”, “o cabelo pode ser liberdade ou prisão”, “se ela fica bonita, todas nós ficamos bonita” e “às vezes o silêncio é a única proteção com a qual a mulher negra pode contar”.
Definitivamente, a melhor minissérie lançada pela Dona Netflix este ano de 2020, e que deixa no espectador uma bem-vinda sensação de bem-estar.