sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | A Vida e a História de Madam C.J. Walker – O Empoderamento Feminino Através do Cabelo

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Pensa numa mulher porreta! Dessas que corre atrás do que quer, não mede esforços, não deixa ninguém diminuir seu sonho e que sabe exatamente onde quer chegar. Essa é Madam C.J. Walker.



Mas sua história começa bem antes disso, em 1908, em St. LouisLouisiana, ao sul dos Estados Unidos, quando Sarah Breedlove (Octavia Spencer, claramente emocionada por interpretar esse papel) ainda é apenas uma lavadeira que ganha moedas por esfolar as mãos lavando roupa para os outros. Um dia ela recebe a visita de Addie Munroe (Carmen Ejogo, que consegue fazer a gente odiar sua personagem), uma vendedora que lhe oferece um precioso produto que promete fazer o cabelo das mulheres negras crescer mais rápido e mais sedoso. Esse produto muda a vida de Sarah para sempre, que, a partir dele, ganha a autoestima necessária para correr atrás de seu próprio sonho.

Apresentada em apenas 4 episódios, a minissérieA Vida e a História de Madam C.J. Walker’ conta a incrível jornada de Sarah Breedlove, desde sua origem como uma trabalhadora que se sentia feia até ela se tornar a primeira mulher negra milionária no mundo – a primeira a sê-lo pelos seus próprios esforços, não por herança ou por casamento. E sim, é baseado numa história real, realíssima, que também é um livro (que inspirou a trama).

O roteiro tem uma abordagem interessante: ao mesmo tempo que constrói uma história de época, também mescla elementos contemporâneos, como ferramenta para atrair um público mais jovem (a quem a biografia da minissérie busca inspirar). Dessa junção, temos vestidos de época em cenas marcantes sendo embalados por um hip hop super atual – e a combinação ficou realmente legal.

É extremamente importante apontar também que o elenco é to-do composto por mulheres e homens negros. Repito: um elenco to-do composto por mulheres e homens negros. E isso é importante ser ressaltado porque se trata da história de uma grande mulher negra, e a produção teve a sensibilidade e a coerência de elencar apenas pessoas negras para o projeto. Além disso, ter Nicole Asher, uma mulher negra, na direção do projeto também faz toda a diferença: enquanto mulher, ela entende a importância de retratar os momentos difíceis do passado de Sarah, mas não se demorar neles porque não há necessidade alguma de reforçar esse tipo de imagem para o espectador (afinal, a minissérie não é sobre isso, é sobre superação, empenho e autoestima); e enquanto mulher negra, ela entende a história de Sarah com mais aproximação, o que a ajuda a retratar a história real de Sarah sem fetichização, e sim com empatia.

Narrado pela protagonista, a minissérie aborda temas como o racismo estrutural, o machismo (inclusive entre homens negros), a violência doméstica, a sororidade e a estética como ferramenta de empoderamento. Através do cabelo, Sarah encontrou seu sonho e seu poder. E a minissérie nos brinda com frases impactantes como “o cabelo é nossa herança. Ele diz de onde viemos, onde estivemos e para onde vamos”, “o cabelo pode ser liberdade ou prisão”, “se ela fica bonita, todas nós ficamos bonita” e “às vezes o silêncio é a única proteção com a qual a mulher negra pode contar”.

Definitivamente, a melhor minissérie lançada pela Dona Netflix este ano de 2020, e que deixa no espectador uma bem-vinda sensação de bem-estar.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Apresentada em apenas 4 episódios, a minissérieA Vida e a História de Madam C.J. Walker’ conta a incrível jornada de Sarah Breedlove, desde sua origem como uma trabalhadora que se sentia feia até ela se tornar a primeira mulher negra milionária no mundo – a primeira a sê-lo pelos seus próprios esforços, não por herança ou por casamento. E sim, é baseado numa história real, realíssima, que também é um livro (que inspirou a trama).

O roteiro tem uma abordagem interessante: ao mesmo tempo que constrói uma história de época, também mescla elementos contemporâneos, como ferramenta para atrair um público mais jovem (a quem a biografia da minissérie busca inspirar). Dessa junção, temos vestidos de época em cenas marcantes sendo embalados por um hip hop super atual – e a combinação ficou realmente legal.

É extremamente importante apontar também que o elenco é to-do composto por mulheres e homens negros. Repito: um elenco to-do composto por mulheres e homens negros. E isso é importante ser ressaltado porque se trata da história de uma grande mulher negra, e a produção teve a sensibilidade e a coerência de elencar apenas pessoas negras para o projeto. Além disso, ter Nicole Asher, uma mulher negra, na direção do projeto também faz toda a diferença: enquanto mulher, ela entende a importância de retratar os momentos difíceis do passado de Sarah, mas não se demorar neles porque não há necessidade alguma de reforçar esse tipo de imagem para o espectador (afinal, a minissérie não é sobre isso, é sobre superação, empenho e autoestima); e enquanto mulher negra, ela entende a história de Sarah com mais aproximação, o que a ajuda a retratar a história real de Sarah sem fetichização, e sim com empatia.

Narrado pela protagonista, a minissérie aborda temas como o racismo estrutural, o machismo (inclusive entre homens negros), a violência doméstica, a sororidade e a estética como ferramenta de empoderamento. Através do cabelo, Sarah encontrou seu sonho e seu poder. E a minissérie nos brinda com frases impactantes como “o cabelo é nossa herança. Ele diz de onde viemos, onde estivemos e para onde vamos”, “o cabelo pode ser liberdade ou prisão”, “se ela fica bonita, todas nós ficamos bonita” e “às vezes o silêncio é a única proteção com a qual a mulher negra pode contar”.

Definitivamente, a melhor minissérie lançada pela Dona Netflix este ano de 2020, e que deixa no espectador uma bem-vinda sensação de bem-estar.

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