sábado , 23 novembro , 2024

Crítica | A Voz Humana – Tilda Swinton BRILHA em produção de Pedro Almodóvar que pode render um Oscar

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A pandemia do corona vírus obrigou a maior parte das pessoas a mudar suas rotinas. Quem trabalhava na área artística, por exemplo, em sua grande maioria teve projetos paralisados por conta do impedimento de aglomerar e de trabalhar sem máscara. Quando as coisas começaram a levemente melhorar nos primeiros países atingidos da Europa, eis que o renomado diretor Pedro Almodóvar sai de sua toca para filmar um curta superpotente, de nome ‘A Voz Humana’ (‘The Human Voice’), que chega essa semana para aluguel sob demanda nos serviços de streaming brasileiros depois de estrear mundialmente no Festival de Veneza esse ano.



Uma mulher andrógina e misteriosa (Tilda Swinton) vai a uma loja de ferragens e compra uma machadinha. Ao chegar em casa, ela guarda as coisas e aguarda, aguarda, aguarda. Aguarda a ligação ou a chegada da pessoa amada, que saiu há três dias e ainda não voltou para casa. A ânsia da espera a enlouquece, faz com que os minutos passem mais arrastados e que ela questione tudo que fez por essa pessoa até esse momento, e a conclusão a que chega não é exatamente o que ela gostaria para a sua vida.

Em cerca de trinta minutos, Almodóvar convida o espectador a mergulhar na sua leitura adaptada da peça do poeta francês Jean Cocteau (1889-1963), e o resultado é uma produção visceral e muito impactante. Tudo no curta é belamente agressivo, chocantemente poético e milimetricamente calculado. Para adaptar o cenário de peça de teatro, foi construído o apartamento da personagem com alvenaria – cenário este que é muitíssimo similar, se não o mesmo, àquele utilizado no último longa do diretor, ‘Dor e Glória’ –, com o contraste visual de cores fortes e quentes, sobrepostas por objetos ainda mais coloridos colocados na posição certa por uma direção de fotografia tão obcecada pela perfeição cromática quanto o diretor.

A potência do texto de ‘A Voz Humana’ ganha uma profundidade ainda mais lúcida pela interpretação majestosa de Tilda Swinton. Sua capacidade de conduzir um monólogo cinematograficamente em uma personagem andrógina e misteriosa que espera o amor voltar – do qual não sabemos o gênero – é impressionante. A entrega da atriz para exprimir a dose certa de angústia e de tédio podem render, sem exagero em antecipar os fatos, uma indicação ao Oscar de Melhor Curta Metragem para a produção – ainda mais sendo o filme de quem é.

Para os cinéfilos tradicionais em casa nesse feriadão, ‘A Voz Humana’ é um filme imperdível nesse fim de semana, ainda que seja curiosamente em língua inglesa. Numa pegada dolorida estilo ‘Esperando Godot, o novo curta do diretor espanhol é um espetáculo de atuação, e comprova que atrizes enormes como Tilda Swinton (e tantas outras) apenas precisam de mais papéis de protagonismo para mostrar todo o seu potencial artístico ao público.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Uma mulher andrógina e misteriosa (Tilda Swinton) vai a uma loja de ferragens e compra uma machadinha. Ao chegar em casa, ela guarda as coisas e aguarda, aguarda, aguarda. Aguarda a ligação ou a chegada da pessoa amada, que saiu há três dias e ainda não voltou para casa. A ânsia da espera a enlouquece, faz com que os minutos passem mais arrastados e que ela questione tudo que fez por essa pessoa até esse momento, e a conclusão a que chega não é exatamente o que ela gostaria para a sua vida.

Em cerca de trinta minutos, Almodóvar convida o espectador a mergulhar na sua leitura adaptada da peça do poeta francês Jean Cocteau (1889-1963), e o resultado é uma produção visceral e muito impactante. Tudo no curta é belamente agressivo, chocantemente poético e milimetricamente calculado. Para adaptar o cenário de peça de teatro, foi construído o apartamento da personagem com alvenaria – cenário este que é muitíssimo similar, se não o mesmo, àquele utilizado no último longa do diretor, ‘Dor e Glória’ –, com o contraste visual de cores fortes e quentes, sobrepostas por objetos ainda mais coloridos colocados na posição certa por uma direção de fotografia tão obcecada pela perfeição cromática quanto o diretor.

A potência do texto de ‘A Voz Humana’ ganha uma profundidade ainda mais lúcida pela interpretação majestosa de Tilda Swinton. Sua capacidade de conduzir um monólogo cinematograficamente em uma personagem andrógina e misteriosa que espera o amor voltar – do qual não sabemos o gênero – é impressionante. A entrega da atriz para exprimir a dose certa de angústia e de tédio podem render, sem exagero em antecipar os fatos, uma indicação ao Oscar de Melhor Curta Metragem para a produção – ainda mais sendo o filme de quem é.

Para os cinéfilos tradicionais em casa nesse feriadão, ‘A Voz Humana’ é um filme imperdível nesse fim de semana, ainda que seja curiosamente em língua inglesa. Numa pegada dolorida estilo ‘Esperando Godot, o novo curta do diretor espanhol é um espetáculo de atuação, e comprova que atrizes enormes como Tilda Swinton (e tantas outras) apenas precisam de mais papéis de protagonismo para mostrar todo o seu potencial artístico ao público.

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