Nicolas Cage não é um ator que surgiu agora, nos últimos anos. Pelo contrário: sua longa carreira em Hollywood é recheada de altos e baixos (talvez até mais baixos do que altos, uma vez que nunca foi a principal escolhas para muitos dos filmes que acabou estrelando, a maioria dos quais dentro do gênero da ação). Ao subir nessa gangorra, o ator acabou se afastando um pouco até das grandes produções, trabalhando menos do que outros surgidos junto com ele, mas felizmente foi resgatado nos últimos anos através e de um bom trabalho de seus agentes e da alavancadora de carreiras Netflix, onde apresentou em 2021 a série ‘A História do Palavrão’. É assim que chegamos a ‘Ajuste de Contas’, longa de 2019 do ator que anda fazendo sucesso entre os assinantes na gigante do streaming.
Após 19 anos em uma prisão, Frank Carver (Nicolas Cage) foi solto. Porém, após tanto tempo, chega a ser difícil até para ele retomar sua vida, uma vez que fora preso para levar a culpa no lugar de seu chefe no submundo, Max (Dave Kenneth MacKinnon). Hoje livre, Frank tenta recuperar o tempo perdido com seu filho, Joey (Noah Le Gros), porém sua sede por acertar as contas com os responsáveis pela sua condenação é maior, e, mesmo tentando desfrutar de umas merecidas férias com seu filho adulto, à noite Frank irá buscar fazer justiça com os próprios punhos.
‘Ajuste de Contas’ é desses filmes de ação cuja história não faz muito sentido, e que aparentemente nem o diretor Shawn Ku nem a produção pareceram se preocupar muito com o nexo do enredo. Pelo contrário, a sensação que temos é que o filme meio que conta com esse perdão constante do espectador sobre certos elementos que deveriam fazer toda a diferença, mas que na lógica interna dessa ficção parecem não importar – como o fato de Frank ter ficado 19 anos na prisão e ter deixado um filho pequeno do lado de fora, mas, quando os dois se reencontram, já adultos, Frank reclama com Joey de ele ter sido o motivo de ter acabado na prisão, por conta de seu vício em drogas; nessa lógica, com quantos anos Joey teria usado drogas, 5?
Essas liberdades expressivas do roteiro de Shawn Ku e John Stuart Newman podem irritar um pouco o espectador que busque um filme com história coerente, pois ‘Ajuste de Contas’ não o é. Por outro lado, é divertido dentro de sua proposta, afinal, não tem muito como manter a seriedade da coisa quando temos um Nicolas Cage no protagonismo. Destaque também para o ator Bailey Coppola, que interpreta o Frank mais novo e é realmente bastante parecido com Cage.
‘Ajuste de Contas’ é desses filmes bem canastrão, que solta a corda para que Nicolas Cage desenvolva todo o seu repertório de carões malvadões num misto de cafonice e macheza típica dos filmes de ação, tornando-se, assim, um prato cheio para quem curte a escola de filmes de ação dos anos 80, e seu misto de explosões espetaculosas e sublimações redentoras dos personagens.