sexta-feira , 15 novembro , 2024

Crítica | American Horror Story – 09×05: Red Dawn

Na semana passada, a instantaneamente clássica e nova temporada de American Horror Story nos apresentou a um episódio um tanto quanto morno, por assim dizer. Entretanto, não me refiro aqui às habilidades técnicas e estéticas do time contratado pelos showrunners Ryan Murphy e Brad Falchuk, mas sim à narrativa que nos foi apresentada desde o princípio: ‘1984’, como ficou conhecido o novo ciclo, representou uma brusca mudança na perspectiva que a antologia vinha nos apresentando desde sua estreia em 2011, abrindo espaço para unir os elementos do mais puro horror slasher da década-titular, bem como cultivar algumas investidas que se correlacionassem às iterações anteriores (como o sobrenatural, a sensualidade, o suspense e o gore).

Porém, se o time de roteiristas nos apresentou a uma divertida e envolvente trama, talvez não tenha se policiado ao real significado do foreshadowing. Já no segundo capítulo, AHS resolveu expandir a mitologia do Acampamento Redwood e conectar o grupo de protagonistas ao massacre que ocorreu naquele lugar catorze anos atrás. Mas as sutilezas não vieram com tanta minúcia assim e já permitiram que os telespectadores mais atentos decifrassem o verdadeiro código – cuja reviravolta apresentada na semana passada não é original, por assim dizer, mas certamente se afasta dos convencionalismos de clássicos como Pânico e Halloween. Felizmente, o quinto arco da nova saga, mesmo mantendo-se em uma premeditada conclusão, reencontrou seu ritmo e voltou a prender nossa atenção do começo ao fim.

Desde o princípio, a ingênua Brooke (Emma Roberts) vinha se apresentando como a perfeita final girl: em contato com os dois serial killers da temporada, ela era atraída para armadilhas, ficava cara a cara com seus nêmeses e ainda assim permanecia viva enquanto observava todos os seus colegas morrendo da forma mais explícita possível. De fato, se analisarmos a apresentação dos personagens, é quase automático nos lembrarmos dos tipos sociais que fazem parte do gênero do terror: a virgem retraída, o valentão corajoso, a rebelde sem causa, a religiosa desmedida – cada qual representando um espectro variado da própria complexidade humana; mas conforme a história se desenrola, vemos que não é exatamente isso o que acontece. Na verdade, as personas restringidas a uma determinada esfera social são mais complicadas e mais tendenciosas ao mal do que parecem.



“Red Dawn”, seguindo os mesmos passos, funciona como uma conciliatória resolução entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas que acometeram o outrora paradisíaco refúgio. Aqui, Dan Dworkin explora os corolários da escuridão e das mentiras ocultadas dos protagonistas e resolve acabar tudo com uma explosão. Apesar da fragmentada e redundante explicação do arco de Donna Chambers (Angelica Ross), as vítimas e os assassinos encontram suas respectivas ruínas – talvez não do jeito que esperávamos, e sim da forma mais dialógica com o que já nos foi mostrado, invertendo até mesmo o que esperaríamos de Brooke e de Margaret (Leslie Grossman).

Eventualmente, a personagem de Roberts enfrenta a traumatizada e vingativa Montana (Billie Lourd) pela última vez, saindo-se vitoriosa, porém dentro de um contexto de pura ambiguidade. Brooke acaba enfiando uma faca no peito de Montana em uma última tentativa de salvá-la, mas faz isso no momento em que as crianças chegam para suas férias de verão no acampamento, atraindo a atenção de policiais que levam a final girl presa para uma possível instituição psiquiátrica; enquanto isso, Margaret posta-se como vítima, dizendo que uma de suas monitoras ficara louca e dera início a um banho de sangue. No final, não sabemos com clara certeza que fim as duas mulheres levaram e nem mesmo se elas retornarão para a segunda parte dessa complexa narrativa.

O que é mais interessante é observar como essas odiosas construções buscam por uma redenção que nunca chegará: Donna tenta explicar aos outros o que realmente aconteceu, admitindo que foi responsável pela soltura de Mr. Jingles (John Carroll Lynch) e por tudo o que aconteceu naquela noite; Xavier (Cody Fern) abandona sua personalidade fraca e covarde e tenta salvar os outros das garras do assassino – não que isso tenha muito efeito, visto que Margaret logo depois crava um facão em seu coração; e Brooke, que desde sua infância diminuía a si mesmo para afofar o ego de pessoas inseguras e problemáticas, se joga nos braços do recém-aparecido Ray (DeRon Horton) até descobrir que ele está morto e que ela teve relações com um fantasma.

O episódio ganha um ar de originalidade por brincar com os contrastes apresentados acima. Ainda que permeado de alguns deslizes amadores, incluindo uma finalização incompreensível de Mr. Jingles e Richard Ramirez (Zach Villa), AHS volta a um aprazível e satisfatório patamar que, semana após semana, vem transformando uma grandiosa temporada em um compilado de histórias de terror em volta da fogueira. Agora, estamos a três episódios do season finale e não temos ideia do que pode acontecer.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Porém, se o time de roteiristas nos apresentou a uma divertida e envolvente trama, talvez não tenha se policiado ao real significado do foreshadowing. Já no segundo capítulo, AHS resolveu expandir a mitologia do Acampamento Redwood e conectar o grupo de protagonistas ao massacre que ocorreu naquele lugar catorze anos atrás. Mas as sutilezas não vieram com tanta minúcia assim e já permitiram que os telespectadores mais atentos decifrassem o verdadeiro código – cuja reviravolta apresentada na semana passada não é original, por assim dizer, mas certamente se afasta dos convencionalismos de clássicos como Pânico e Halloween. Felizmente, o quinto arco da nova saga, mesmo mantendo-se em uma premeditada conclusão, reencontrou seu ritmo e voltou a prender nossa atenção do começo ao fim.

Desde o princípio, a ingênua Brooke (Emma Roberts) vinha se apresentando como a perfeita final girl: em contato com os dois serial killers da temporada, ela era atraída para armadilhas, ficava cara a cara com seus nêmeses e ainda assim permanecia viva enquanto observava todos os seus colegas morrendo da forma mais explícita possível. De fato, se analisarmos a apresentação dos personagens, é quase automático nos lembrarmos dos tipos sociais que fazem parte do gênero do terror: a virgem retraída, o valentão corajoso, a rebelde sem causa, a religiosa desmedida – cada qual representando um espectro variado da própria complexidade humana; mas conforme a história se desenrola, vemos que não é exatamente isso o que acontece. Na verdade, as personas restringidas a uma determinada esfera social são mais complicadas e mais tendenciosas ao mal do que parecem.

“Red Dawn”, seguindo os mesmos passos, funciona como uma conciliatória resolução entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas que acometeram o outrora paradisíaco refúgio. Aqui, Dan Dworkin explora os corolários da escuridão e das mentiras ocultadas dos protagonistas e resolve acabar tudo com uma explosão. Apesar da fragmentada e redundante explicação do arco de Donna Chambers (Angelica Ross), as vítimas e os assassinos encontram suas respectivas ruínas – talvez não do jeito que esperávamos, e sim da forma mais dialógica com o que já nos foi mostrado, invertendo até mesmo o que esperaríamos de Brooke e de Margaret (Leslie Grossman).

Eventualmente, a personagem de Roberts enfrenta a traumatizada e vingativa Montana (Billie Lourd) pela última vez, saindo-se vitoriosa, porém dentro de um contexto de pura ambiguidade. Brooke acaba enfiando uma faca no peito de Montana em uma última tentativa de salvá-la, mas faz isso no momento em que as crianças chegam para suas férias de verão no acampamento, atraindo a atenção de policiais que levam a final girl presa para uma possível instituição psiquiátrica; enquanto isso, Margaret posta-se como vítima, dizendo que uma de suas monitoras ficara louca e dera início a um banho de sangue. No final, não sabemos com clara certeza que fim as duas mulheres levaram e nem mesmo se elas retornarão para a segunda parte dessa complexa narrativa.

O que é mais interessante é observar como essas odiosas construções buscam por uma redenção que nunca chegará: Donna tenta explicar aos outros o que realmente aconteceu, admitindo que foi responsável pela soltura de Mr. Jingles (John Carroll Lynch) e por tudo o que aconteceu naquela noite; Xavier (Cody Fern) abandona sua personalidade fraca e covarde e tenta salvar os outros das garras do assassino – não que isso tenha muito efeito, visto que Margaret logo depois crava um facão em seu coração; e Brooke, que desde sua infância diminuía a si mesmo para afofar o ego de pessoas inseguras e problemáticas, se joga nos braços do recém-aparecido Ray (DeRon Horton) até descobrir que ele está morto e que ela teve relações com um fantasma.

O episódio ganha um ar de originalidade por brincar com os contrastes apresentados acima. Ainda que permeado de alguns deslizes amadores, incluindo uma finalização incompreensível de Mr. Jingles e Richard Ramirez (Zach Villa), AHS volta a um aprazível e satisfatório patamar que, semana após semana, vem transformando uma grandiosa temporada em um compilado de histórias de terror em volta da fogueira. Agora, estamos a três episódios do season finale e não temos ideia do que pode acontecer.

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