domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Anne Hathaway rouba a cena no divertido e despretensioso remake de ‘Convenção das Bruxas’

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Roald Dahl pode não soar familiar à prima vista, mas suas obras certamente fizeram parte da infância de diversas pessoas – não apenas das gerações mais velhas, mas através de releituras de seus clássicos para os dias de hoje. O romancista inglês é simplesmente a mente por trás das narrativas mais fantasiosas e envolventes do século passado, incluindo ‘Matilda’, ‘A Fantástica Fábrica de Chocolate’ e ‘O Bom Gigante Amigo’. Entretanto, uma de suas histórias permanece assombrando os leitores desde seu lançamento na década de 1980: ‘Convenção das Bruxas’. O enredo, centrado em um clã de feiticeiras que odeiam crianças e que se reúnem para transformar todas elas em ratos, foi levado aos cinemas pela primeira vez em 1990 e colocou Anjelica Huston nos holofotes como a amedrontadora e perigosa Grande Bruxa, comandante suprema de uma horda de criaturas horrendas que desejavam levar o caos para o mundo inteiro.

Não demoraria muito até que essa obra-prima do cinema, revisitada diversas vezes por fãs inveterados do gênero ou até mesmo por apaixonados pela mitologia em questão, ganhasse uma nova versão para a contemporaneidade. Outrora abraçado por Guillermo del Toro, Robert Zemeckis acabou tomando conta do projeto, criando uma perspectiva única – como fizera com ‘De Volta para o Futuro’, ‘Os Fantasmas de Scrooge’ e ‘O Expresso Polar’ -, apesar de resvalar em certos equívocos amadores e fórmulas datadas. O resultado, apesar de encontrar obstáculos no meio do caminho, cumpre a promessa de divertir através de um elenco de ponta e de charmosos e dinâmicos visuais que não em quase nenhum momento – e que são guiados pela maravilhosa e arrepiante rendição de Anne Hathaway como a antagonista.



A história se aproxima um pouco mais do romance original e, ao mesmo tempo, é cauteloso ao manter a essência do longa dirigido por Nicolas Roeg trinta anos atrás. É notável as inspirações que Zemeckis drena tanto da primeira releitura cinematográfica, como a sequências em que as crianças são transformadas em ratos, mas também o modo como procura honrar o legado de Dahl ao remodelar a estética das bruxas (optando por uma imagética mais clean e fora dos padrões quase surrealistas do filme predecessor) e ao manter o anonimato do herói principal (que havia ganhado o nome de Luke em 1990). Aqui, Jahzir Kadeem Bruno encarna o personagem principal, um jovem garoto de oito anos chamado Charlie que perdeu os pais num acidente de carro e foi morar com sua avó, Agatha (Octavia Spencer) – apenas para descobrir que seus problemas estavam longe de terminar.

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Quando Charlie cruza caminho pela primeira vez com uma das malignas feiticeiras, sua avó conta a ele tudo o que sabe sobre elas, ainda mais por ter perdido a melhor amiga quando criança em virtude de uma caçada sem fim. Elas escondem sua forma corporal (garras no lugar de dedos, pés decepados, bocas estiradas com dentes afiados e uma grande careca cheia de irritações) com máscaras, peruca se um senso de beleza surpreendente, ludibriando crianças com doces enfeitiçados apenas para dar o bote quando bem entenderem. Os dois resolvem fugir para um hotel para não serem encontrados – mas esbarram em uma legião de bruxas que está pronta para dar o próximo passo em seu condenável plano.

Para aqueles não familiarizados com a história, o garoto é pego por uma das bruxas e transformado em rato ao lado de outro chamado Bruno (Codie-Lei Eastick) e sua ratinha de estimação, Daisy, que revela ser uma criança enfeitiçada chamada Mary (Kristin Chenoweth). O trio, determinado a dar um basta nessa loucura toda, recorrer à enferma Agatha, que se sente culpada por tudo aquilo ter acontecido e também se junta a eles para encontrar uma cura – e, diferente do que poderíamos esperar, o final feliz através de uma aceitação de que as coisas nem sempre saem do jeito que queremos, e sim do jeito que estão predestinadas a ser. Em outras palavras, as crianças não voltam à forma humana, mas permanecem como ratos e utilizam sua experiência para impedir que outros jovens caiam nas garras das bruxas.

Eventualmente, o filme é bastante aprazível – mas não acerta em cheio em todos os aspectos. Enquanto a gloriosa veia artística de Zemeckis transparece mais uma vez em um cenário quase teatral, recheado de cores vibrantes, práticas mímicas expressionistas e uma caprichosa trilha musical assinada por Alan Silvestri (que utiliza com nostalgia pura os trejeitos do mickey-mousing e da proposital redundância cênica), a importância dos personagens é colocada em xeque quando o roteiro decide canalizar todos os esforços para momentos-chave – ou seja, as partes fragmentadas são melhores que o todo: Hathaway faz um excelente trabalho que, por mais que não chegue aos pés de Huston, coloca suas próprias características a uma complexa e temível personagem, com trejeitos interessantes e por vezes forçados. Spencer também ganha seu protagonismo, apesar de ser ofuscada por seus colegas – e Stanley Tucci, encarnando o gerente do hotel Sr. Stringer, é tão desnecessário quanto a multidão de figurantes que transborda pelos corredores.

The Witches (2020)
CR: Warner Bros. Pictures

Mesmo esquecível, o remake de ‘Convenção das Bruxas’ tem uma momentânea importância para um período tão obscuro quanto o que passamos: sem querer dizer mais do que consegue, ele é divertido e destinado essencialmente a um público infantil que merece conhecer essa clássica e tragicômica história – e compreender suas sublimes mensagens de empatia e de cuidado.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Roald Dahl pode não soar familiar à prima vista, mas suas obras certamente fizeram parte da infância de diversas pessoas – não apenas das gerações mais velhas, mas através de releituras de seus clássicos para os dias de hoje. O romancista inglês é simplesmente a mente por trás das narrativas mais fantasiosas e envolventes do século passado, incluindo ‘Matilda’, ‘A Fantástica Fábrica de Chocolate’ e ‘O Bom Gigante Amigo’. Entretanto, uma de suas histórias permanece assombrando os leitores desde seu lançamento na década de 1980: ‘Convenção das Bruxas’. O enredo, centrado em um clã de feiticeiras que odeiam crianças e que se reúnem para transformar todas elas em ratos, foi levado aos cinemas pela primeira vez em 1990 e colocou Anjelica Huston nos holofotes como a amedrontadora e perigosa Grande Bruxa, comandante suprema de uma horda de criaturas horrendas que desejavam levar o caos para o mundo inteiro.

Não demoraria muito até que essa obra-prima do cinema, revisitada diversas vezes por fãs inveterados do gênero ou até mesmo por apaixonados pela mitologia em questão, ganhasse uma nova versão para a contemporaneidade. Outrora abraçado por Guillermo del Toro, Robert Zemeckis acabou tomando conta do projeto, criando uma perspectiva única – como fizera com ‘De Volta para o Futuro’, ‘Os Fantasmas de Scrooge’ e ‘O Expresso Polar’ -, apesar de resvalar em certos equívocos amadores e fórmulas datadas. O resultado, apesar de encontrar obstáculos no meio do caminho, cumpre a promessa de divertir através de um elenco de ponta e de charmosos e dinâmicos visuais que não em quase nenhum momento – e que são guiados pela maravilhosa e arrepiante rendição de Anne Hathaway como a antagonista.

A história se aproxima um pouco mais do romance original e, ao mesmo tempo, é cauteloso ao manter a essência do longa dirigido por Nicolas Roeg trinta anos atrás. É notável as inspirações que Zemeckis drena tanto da primeira releitura cinematográfica, como a sequências em que as crianças são transformadas em ratos, mas também o modo como procura honrar o legado de Dahl ao remodelar a estética das bruxas (optando por uma imagética mais clean e fora dos padrões quase surrealistas do filme predecessor) e ao manter o anonimato do herói principal (que havia ganhado o nome de Luke em 1990). Aqui, Jahzir Kadeem Bruno encarna o personagem principal, um jovem garoto de oito anos chamado Charlie que perdeu os pais num acidente de carro e foi morar com sua avó, Agatha (Octavia Spencer) – apenas para descobrir que seus problemas estavam longe de terminar.

Quando Charlie cruza caminho pela primeira vez com uma das malignas feiticeiras, sua avó conta a ele tudo o que sabe sobre elas, ainda mais por ter perdido a melhor amiga quando criança em virtude de uma caçada sem fim. Elas escondem sua forma corporal (garras no lugar de dedos, pés decepados, bocas estiradas com dentes afiados e uma grande careca cheia de irritações) com máscaras, peruca se um senso de beleza surpreendente, ludibriando crianças com doces enfeitiçados apenas para dar o bote quando bem entenderem. Os dois resolvem fugir para um hotel para não serem encontrados – mas esbarram em uma legião de bruxas que está pronta para dar o próximo passo em seu condenável plano.

Para aqueles não familiarizados com a história, o garoto é pego por uma das bruxas e transformado em rato ao lado de outro chamado Bruno (Codie-Lei Eastick) e sua ratinha de estimação, Daisy, que revela ser uma criança enfeitiçada chamada Mary (Kristin Chenoweth). O trio, determinado a dar um basta nessa loucura toda, recorrer à enferma Agatha, que se sente culpada por tudo aquilo ter acontecido e também se junta a eles para encontrar uma cura – e, diferente do que poderíamos esperar, o final feliz através de uma aceitação de que as coisas nem sempre saem do jeito que queremos, e sim do jeito que estão predestinadas a ser. Em outras palavras, as crianças não voltam à forma humana, mas permanecem como ratos e utilizam sua experiência para impedir que outros jovens caiam nas garras das bruxas.

Eventualmente, o filme é bastante aprazível – mas não acerta em cheio em todos os aspectos. Enquanto a gloriosa veia artística de Zemeckis transparece mais uma vez em um cenário quase teatral, recheado de cores vibrantes, práticas mímicas expressionistas e uma caprichosa trilha musical assinada por Alan Silvestri (que utiliza com nostalgia pura os trejeitos do mickey-mousing e da proposital redundância cênica), a importância dos personagens é colocada em xeque quando o roteiro decide canalizar todos os esforços para momentos-chave – ou seja, as partes fragmentadas são melhores que o todo: Hathaway faz um excelente trabalho que, por mais que não chegue aos pés de Huston, coloca suas próprias características a uma complexa e temível personagem, com trejeitos interessantes e por vezes forçados. Spencer também ganha seu protagonismo, apesar de ser ofuscada por seus colegas – e Stanley Tucci, encarnando o gerente do hotel Sr. Stringer, é tão desnecessário quanto a multidão de figurantes que transborda pelos corredores.

The Witches (2020)
CR: Warner Bros. Pictures

Mesmo esquecível, o remake de ‘Convenção das Bruxas’ tem uma momentânea importância para um período tão obscuro quanto o que passamos: sem querer dizer mais do que consegue, ele é divertido e destinado essencialmente a um público infantil que merece conhecer essa clássica e tragicômica história – e compreender suas sublimes mensagens de empatia e de cuidado.

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