terça-feira, abril 23, 2024

Crítica | Anos 90: Um drama teen desconfortável, necessário e nostálgico

Jonah Hill possui uma carreira admirável nos cinemas. Desde sua ascensão com Superbad – É Hoje, ele tem transitado entre alguns gêneros, sendo capaz de alinhar a dramaticidade ao humor com naturalidade. De O Lobo de Wall Street a Maniac, aos poucos ele tem se consagrado dentro de uma versatilidade memorável e adquirida por poucos em Hollywood. E sua troca de papéis vai além dos personagens, alcançando o seu próprio ofício em si. Deixando os holofotes dos refletores vazios, ele se esconde atrás das câmeras pela primeira vez, inaugurando sua carreira na direção com um sensível drama coming of age, do tipo que conquista com facilidade. Em Anos 90, o diretor parece revisitar sua infância, fazendo um relato desconfortável sobre a necessidade de pertencimento juvenil, em meio a um turbilhão de mudanças hormonais, físicas e emocionais.

Entre o grunge acústico do álbum Unplugged do Nirvana e o rap de rua do Nas, Anos 90 traça uma paisagem sobre a adolescência da época. Com o skate se consolidando como um esporte profissionalizante, a produção traz esse background que tem aroma de irreverência, com o primeiro plano focado no garotinho Stevie (Sunny Suljic), que aos 13 anos está tentando se enturmar, se descobrir, enquanto lida com os abusos físicos praticados por seu irmão mais velho, Ian (Lucas Hedge). Aqui, sua inocência se esfarela com rapidez, à medida que crescer se torna diretamente associado a um grupo de adolescentes do gueto de Los Angeles, viciados em álcool, drogas e comportamentos bem subversivos.

Com leveza e diálogos pontuais, o drama teen é maduro e consistente, mostrando um lado frágil do desenvolvimento de garotos nessa fase tão crucial da vida. Como um público que está acostumado a ver mulheres como o centro de produções coming of age, Anos 90 vem para quebrar o molde do gênero, trazendo com franqueza e desconforto o amargo sabor que esse hiato da vida possui para o público masculino. Ao trazer à luz as pressões de querer ser parte de algo – ainda que não se saiba quais razões fariam isso valer a pena, Hill também aborda os jargões opressivos mais comuns entre meninos, que – inconscientemente – manipulam e forjam decisões forçadas que podem custar a sanidade de gerações de futuros homens, que acabam sendo traumatizados por experiências precoces pela efêmera necessidade de pertencimento a um grupo.

Com uma direção que trabalha de forma analógica, o longa segue em um ritmo rápido, permeando o verão norte-americano, sempre explorando a luz natural com intensidade. Com ângulos direcionados para a linguagem corporal do protagonista, Anos 90 é simples, mas eficiente em sua mensagem e construção conceitual. E embora desconfortável em vários momentos, promove uma experiência quase sinestésica na audiência. Afinal, se sentir deslocado está para o personagem tanto quanto para o público. E é esse realismo bem aplicado que torna o drama único à sua maneira. Nos levando para dentro das telas, ele é um relato ora biográfico, ora documental sobre uma juventude cercada por excessivas referências culturais, mas pouco background familiar.

Envolvente e sensível, Anos 90 é a escolha certeira de Jonah Hill para iniciar sua carreira como cineasta. Autêntico e prazeroso, a produção tem o DNA da A24 – uma das grandiosas produtoras da atualidade – e fica como uma reflexão profunda e delicada sobre os desafios de sobreviver à adolescência sem traumas, sem más escolhas, sem nenhum arranhão. E honestamente, ainda não se teve notícias de alguém que tenha conseguido esse feito.

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