quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Apelativa, preguiçosa e previsível, ‘American Horror Stories’ é um grande erro de Ryan Murphy

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Que Ryan Murphy é incapaz de tirar qualquer tempo para respirar e dar uma pausa na carreira, já sabemos. O prolífico e exaltado realizador é dono de um número gigantesco de produções originais que incluem as famosas antologias American Horror Story e ‘American Crime Story’, bem como o drama musical adolescente ‘Glee’ e minissérie como ‘Ratched’ e ‘Halston’. E é claro que, em plena pandemia, Murphy faria o possível para nos deixar bastante ocupados com inúmeros títulos chamativos – incluindo o ambicioso spin-off American Horror Stories.

Ambientada no universo de ‘AHS’, a série derivada prometia expandir as inúmeras histórias arrepiantes apresentadas ao longo de mais de uma década, trazendo narrativas similares e bastante diferentes das que estávamos acostumados, mas nunca abandonando a premissa bizarra e tenebrosa que Murphy e Brad Falchuk, seu parceiro de longa data, arquitetaram em um passado não muito distante. Com sete breves episódios, a produção demonstrava potencial enorme para ser divertida e envolvente de seu modo único, mas o resultado foi extremamente aquém do esperado e deu vida a uma investida pedante, previsível e sem um mínimo elemento que valesse a pena – transformando a experiência em uma exaustiva viagem sem destino e sem propósito.



Construir histórias de terror não é uma tarefa fácil – ainda mais quando consideramos que, desde os primórdios do cinema, tais enredos sempre caíram no gosto popular e foram explorados ad nauseam por realizadores das mais diversas escolas artísticas. O gênero, eventualmente, tornou-se um escape ideal que subverteu a si próprio em ramificações como o giallo, o slasher, o thriller e tantos outros – caindo em uma mediocridade repetitiva e frustrante que estenderia consequências até os dias de hoje (com exceções bastante interessantes que partem de uma premissa metafórica, crítica e psicológica). E, apesar da melhor das intenções, o mesmo acontece com American Horror Stories, desde a primeira cena de abertura do episódio piloto à desmotivada season finale.

Murphy e Falchuk já deixaram bem claro que têm um apreço significativo e afadigoso pelo cenário em que tudo começou – a infame Casa dos Assassinatos (Murder House). Além de ser referenciada em quase todas as temporadas, a perigosa e complexa construção apareceu em ‘Hotel’, ‘Apocalypse’ e, como se não bastasse, em três episódios do spin-off. Os dois primeiros funcionam como complemento um do outro, pegando ideias já utilizadas no ciclo de estreia e talhando uma inversão de papéis centrada na psicótica personalidade de Scarlett (Sierra McCormick), que se muda com os pais para o casarão em questão e encontra uma roupa de látex que a transforma na Mulher de Borracha – lançando-a em uma matança desenfreada e um envolvimento tão tóxico quanto o relacionamento de Tate e Violet com a problemática Ruby (Kaia Gerber); capítulos mais tarde, os personagens retornam às telinhas dentro de uma vazia metalinguagem que sai de nenhum lugar a lugar nenhum, como se tivesse sido pensada às pressas.

A verdade é que nem mesmo um elenco de peso consegue salvar o desânimo contagiante de um roteiro cru e sem vida. Nenhum dos episódios é digno o suficiente de entrar para o envolvente panteão que os criadores outrora nos apresentaram, emergindo como ideias descartadas e sem qualquer indício de capricho – salvo os instigantes créditos de abertura (os únicos pontos altos da temporada). Billy Lourd se entrega o máximo que pode ao papel da traumatizada Liv em “BA’AL”, cuja fraca mitologia desconstrói uma das figuras mais famosas do paganismo em prol de algo que emula pifiamente o estilo camp de ‘Creepshow’; Aaron Tveit, Tiffany Dupont e Cody Fern conseguem roubar a cena no rip-off amalgamado de ‘Pânico na Floresta’ e ‘Abismo do Medo’, apesar da conclusão ser óbvia demais para ser levada a sério; e Danny Trejo se sujeita a um Papai Noel serial killer risível em “The Naughty List”, um dos piores episódios televisivos das últimas décadas.

Fora a evidente temática que une as iterações, nem mesmo a estética se mostra coesa o suficiente para nos lembrar de que estamos assistindo a uma antologia; pelo contrário, há uma espécie de fragmentação estilística que afasta os episódios uns dos outros e cria pequenos filmes que tentam ser maiores do que conseguem e, quando ousam para uma originalidade que simplesmente não existe, tropeçam em um ridículo exagero. Nem Murphy e Falchuk querem “sujar as mãos” com a bola de neve que criaram, cedendo espaço para um inconsistente Manny Coto e para diretores que só querem terminar o que começaram, como Loni Peristere – o que engraçado, considerando o trabalho excepcional que fizeram em outras séries. A verdade é que cada parte do processo criativo falhou em um aspecto determinante, gestando um “monstro de Frankenstein” em esteroides.

American Horror Stories é, de longe, um dos piores títulos da carreira de Murphy – e isso levando em conta o monótono drama coming-of-age ‘Comer, Rezar, Amar’. Apagada por narrativas muito mais envolventes de um universo exuberante, a série derivada desperdiçou um potencial gigantesco em uma repetição exacerbada de temas que já cansamos de ver.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Ambientada no universo de ‘AHS’, a série derivada prometia expandir as inúmeras histórias arrepiantes apresentadas ao longo de mais de uma década, trazendo narrativas similares e bastante diferentes das que estávamos acostumados, mas nunca abandonando a premissa bizarra e tenebrosa que Murphy e Brad Falchuk, seu parceiro de longa data, arquitetaram em um passado não muito distante. Com sete breves episódios, a produção demonstrava potencial enorme para ser divertida e envolvente de seu modo único, mas o resultado foi extremamente aquém do esperado e deu vida a uma investida pedante, previsível e sem um mínimo elemento que valesse a pena – transformando a experiência em uma exaustiva viagem sem destino e sem propósito.

Construir histórias de terror não é uma tarefa fácil – ainda mais quando consideramos que, desde os primórdios do cinema, tais enredos sempre caíram no gosto popular e foram explorados ad nauseam por realizadores das mais diversas escolas artísticas. O gênero, eventualmente, tornou-se um escape ideal que subverteu a si próprio em ramificações como o giallo, o slasher, o thriller e tantos outros – caindo em uma mediocridade repetitiva e frustrante que estenderia consequências até os dias de hoje (com exceções bastante interessantes que partem de uma premissa metafórica, crítica e psicológica). E, apesar da melhor das intenções, o mesmo acontece com American Horror Stories, desde a primeira cena de abertura do episódio piloto à desmotivada season finale.

Murphy e Falchuk já deixaram bem claro que têm um apreço significativo e afadigoso pelo cenário em que tudo começou – a infame Casa dos Assassinatos (Murder House). Além de ser referenciada em quase todas as temporadas, a perigosa e complexa construção apareceu em ‘Hotel’, ‘Apocalypse’ e, como se não bastasse, em três episódios do spin-off. Os dois primeiros funcionam como complemento um do outro, pegando ideias já utilizadas no ciclo de estreia e talhando uma inversão de papéis centrada na psicótica personalidade de Scarlett (Sierra McCormick), que se muda com os pais para o casarão em questão e encontra uma roupa de látex que a transforma na Mulher de Borracha – lançando-a em uma matança desenfreada e um envolvimento tão tóxico quanto o relacionamento de Tate e Violet com a problemática Ruby (Kaia Gerber); capítulos mais tarde, os personagens retornam às telinhas dentro de uma vazia metalinguagem que sai de nenhum lugar a lugar nenhum, como se tivesse sido pensada às pressas.

A verdade é que nem mesmo um elenco de peso consegue salvar o desânimo contagiante de um roteiro cru e sem vida. Nenhum dos episódios é digno o suficiente de entrar para o envolvente panteão que os criadores outrora nos apresentaram, emergindo como ideias descartadas e sem qualquer indício de capricho – salvo os instigantes créditos de abertura (os únicos pontos altos da temporada). Billy Lourd se entrega o máximo que pode ao papel da traumatizada Liv em “BA’AL”, cuja fraca mitologia desconstrói uma das figuras mais famosas do paganismo em prol de algo que emula pifiamente o estilo camp de ‘Creepshow’; Aaron Tveit, Tiffany Dupont e Cody Fern conseguem roubar a cena no rip-off amalgamado de ‘Pânico na Floresta’ e ‘Abismo do Medo’, apesar da conclusão ser óbvia demais para ser levada a sério; e Danny Trejo se sujeita a um Papai Noel serial killer risível em “The Naughty List”, um dos piores episódios televisivos das últimas décadas.

Fora a evidente temática que une as iterações, nem mesmo a estética se mostra coesa o suficiente para nos lembrar de que estamos assistindo a uma antologia; pelo contrário, há uma espécie de fragmentação estilística que afasta os episódios uns dos outros e cria pequenos filmes que tentam ser maiores do que conseguem e, quando ousam para uma originalidade que simplesmente não existe, tropeçam em um ridículo exagero. Nem Murphy e Falchuk querem “sujar as mãos” com a bola de neve que criaram, cedendo espaço para um inconsistente Manny Coto e para diretores que só querem terminar o que começaram, como Loni Peristere – o que engraçado, considerando o trabalho excepcional que fizeram em outras séries. A verdade é que cada parte do processo criativo falhou em um aspecto determinante, gestando um “monstro de Frankenstein” em esteroides.

American Horror Stories é, de longe, um dos piores títulos da carreira de Murphy – e isso levando em conta o monótono drama coming-of-age ‘Comer, Rezar, Amar’. Apagada por narrativas muito mais envolventes de um universo exuberante, a série derivada desperdiçou um potencial gigantesco em uma repetição exacerbada de temas que já cansamos de ver.

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