O cinema nacional nos presenteia com ‘Apenas Coisas Boas‘, o novo trabalho de Daniel Nolasco que, sem sombra de dúvidas, pode ser considerado a nossa versão abrasileirada e bem mais picante de ‘O Segredo de Brokeback Mountain‘. Nolasco nos convida a uma jornada sensível e provocadora sobre o amor, a perda e as transformações da vida a dois, em um universo gay que raramente ganha tal profundidade nas telas brasileiras.
Um dos maiores trunfos do filme reside em seu roteiro impecável. Ele costura uma história de amor gay com a delicadeza necessária para abordar temas como o preconceito e a morte, sem cair em clichês ou vitimização.
Em 1984, na bucólica Catalão, interior de Goiás, Antônio leva uma vida solitária e rotineira, imerso nos afazeres de sua pequena fazenda. Sua tranquila existência é subitamente transformada quando cruza o caminho de Marcelo, um motoqueiro que sofre um acidente na região. Antônio, movido por uma gentileza inesperada, acolhe e cuida das feridas do estranho, dando início a um encontro que mudará suas vidas para sempre.
A trama mergulha em uma bela análise sobre o casamento e como o amor se molda ao longo da vida, evidenciando as fases de paixão, companheirismo e, por vezes, de estagnação. De forma sutil, o filme levanta uma questão incômoda e pertinente: morrer jovem pode nos poupar de diversas frustrações, mas seria essa uma troca justa pela experiência de vivê-las?
Essa reflexão, que perpassa a narrativa, adiciona uma camada de profundidade que ressoa no espectador muito tempo após o término da sessão. Assim como o também picante ‘Parque de Diversões‘, ‘Apenas Coisas Boas‘ não tem pudores para mostrar a intimidade de seus personagens.
As cenas de sexo são intensas e bastante explícitas, incluindo uma sequência de sexo oral que é, de fato, bastante “caliente”.
A direção de Daniel Nolasco é outro ponto altíssimo do filme. Comanda as cenas com maestria, explorando transições belíssimas que conferem fluidez e poeticidade à narrativa. O olhar instigante do diretor tece uma análise inteligente sobre a vida gay e os relacionamentos amorosos, optando por deixar muita coisa implícita. E é exatamente nessa sutileza, nesse “não dito”, que reside o grande acerto do filme. As reflexões propostas são inteligentes, pertinentes e convidam o espectador a preencher as lacunas, tornando a experiência ainda mais imersiva e pessoal.

O elenco entrega performances que elevam ainda mais a qualidade da produção. As atuações são viscerais e emocionantes, permitindo que o público se conecte profundamente com os dilemas e alegrias dos personagens. Destaque para Lucas Drummond como Antônio, Liev Carlos como Marcelo, Guilherme Théo como Samuel e Fernando Libonati como o Antônio mais velho. Cada ator contribui com uma camada de humanidade e complexidade, tornando seus personagens memoráveis e palpáveis.
Quem rouba a cena é Renata Carvalho, como Helga.
Em suma, ‘Apenas Coisas Boas‘ é um filme corajoso, necessário e visualmente deslumbrante. Uma obra que provoca, emociona e, acima de tudo, convida à reflexão sobre o amor em suas múltiplas facetas, reafirmando o talento de Daniel Nolasco e a potência do nosso cinema nacional.