domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Apesar das boas mensagens, ‘Nosso Lar 2: Os Mensageiros’ é um festival de clichês cansativos e atuações fracas

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Em 2010, Nosso Lar chegava aos cinemas brasileiros e se consagrava como um dos maiores sucessos do ano, levando mais de 4 milhões de pessoas às salas. Baseado na obra de Chico Xavier, sob influência do espírito André Luiz, a narrativa emergiu como um dos títulos favoritos do público, principalmente por abrir espaço para discussões acerca da doutrina espírita e da importância de Xavier dentro da fé em questão. Agora, quase uma década e meia mais tarde, somos convidados a retornar para esse universo com o lançamento de Nosso Lar 2: Os Mensageiros’ – que, seguindo os passos da produção anterior, mantém-se destinada a um nicho muito específico de espectadores e soa mais como um trabalho de escola do que como uma investida fílmica de verdade.

Na trama, acompanhamos um grupo de espíritos conhecido como Os Mensageiros, que vêm à Terra para resgatar três companheiros cuja missão era fundar uma obra que interligasse o mundo terreno ao mundo espiritual – e cujas histórias interligadas estão prestes a fracassar da maneira mais drástica possível. É a partir daí que acompanhamos a história de Isidoro (Mouhamed Harfouch), líder de uma casa espírita que parece não seguir as próprias pregações com a família; Otávio (Felipe de Carolis), um poderoso e egocêntrico médium que não aceita que as coisas não saiam como ele quer; e Fernando (Rafael Sieg), um abastado empresário que financiou o projeto, mas que não faz bom uso de seu dinheiro. Todos habitavam uma da Cidades Espirituais, mas esqueceram-se de seu propósito e, agora, caminham para um destino aterrador.



Novamente, Wagner de Assis volta à cadeira de direção e, como é de costume, seu objetivo é transcender o conhecimento do público acerca do espiritismo e promover uma espécie de panfletarismo muito específico que tem como alvo aqueles que se interessam pela religião ou aqueles que já seguem suas doutrinas – e é aí que reside o principal problema. Ao longo de quase duas horas (que se estendem em um cansativo prolongamento), Assis bombardeia as telas com informações soltas sobre o mundo espiritual e de que forma estamos conectados a ele, mas sem explicações palpáveis e sem seguir uma lógica necessária para que alguém compreenda o enredo. Além disso, é notável como o cineasta preza por uma batida estética novelesca, cortesia de seu trabalho em obras como ‘Além do Tempo’ e ‘Espelho da Vida’, investindo em um ciclo inquebrável de convencionalismos e de metáforas vencidas.

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Ainda que tente fazer um bom trabalho, o elenco não opera milagres para se desvencilhar de um péssimo roteiro: Harfouch, Carolis e Sieg são fadados a uma repetição constante de diálogos que não fazem sentido e que não fornecem uma mísera centelha de profundidade a seus arcos – aliás, todos os “arquétipos” apresentados são engolfados em uma previsibilidade frustrante. Edson Celulari, interpretando o Mensageiro Aniceto, mantém-se em uma unidimensionalidade que condiz à elevação do personagem que interpreta, mas isso não muda o fato de que boa parte de suas falas é artificial e anacrônica; Fábio Lago, dando vida a Vicente, entra como um divertido escape cômico, mas é forçado a se render aos mesmos problemas; ao menos Vanessa Gerbelli e Fernanda Rodrigues se destacam dentro das próprias restrições, fazendo o possível para fugirem de afetações exauríveis e nos convencer daquilo a que se propõe.

Com orçamento estimado de R$7 milhões, poderíamos imaginar que a estética do longa-metragem ao menos viria como um aspecto positivo – entretanto, não é isso o que acontece. De um lado, temos uma melodramática e mandatória trilha sonora que impede que os espectadores sintam o que querem sentir, sendo condicionados a entrar numa atmosfera que, no final das contas, traz mensagens de bonança e de amor que são bem costumeiros de obras desse gênero; de outros, temos efeitos especiais que mais parecem um show de mágica do que auxiliam na compreensão do que são as Colônias Espirituais e de que forma e de que forma estamos conectados ao mundo superior – e qual a nossa missão na Terra. Por fim, o roteiro e a direção fingem terminar a narrativa mais de uma vez, estendendo o tempo da obra mais do que deveriam.

https://cinepop.com.br/nosso-lar-2-estreia-em-1o-lugar-na-bilheterias-do-brasil-confira-o-top-10-468058/

Nosso Lar 2: Os Mensageiros’ deve agradar apenas àqueles que já têm uma afinidade com a obra de Xavier ou que já participam das doutrinas espíritas e gostariam de ver uma certa representatividade nas telonas; porém, como investida cinematográfica, o filme é falho em diversos aspectos e comete atrocidades técnicas e criativas que são difíceis de esquecer – e que causam um sentimento de frustração crescente conforme os créditos de encerramento sobem nas telonas.

Leia a crítica de Janda Montenegro:

https://cinepop.com.br/critica-2-nosso-lar-2-os-mensageiros-adaptacao-de-best-seller-de-chico-xavier-traz-mensagem-de-aprendizado-e-perdao-468001/

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Em 2010, Nosso Lar chegava aos cinemas brasileiros e se consagrava como um dos maiores sucessos do ano, levando mais de 4 milhões de pessoas às salas. Baseado na obra de Chico Xavier, sob influência do espírito André Luiz, a narrativa emergiu como um dos títulos favoritos do público, principalmente por abrir espaço para discussões acerca da doutrina espírita e da importância de Xavier dentro da fé em questão. Agora, quase uma década e meia mais tarde, somos convidados a retornar para esse universo com o lançamento de Nosso Lar 2: Os Mensageiros’ – que, seguindo os passos da produção anterior, mantém-se destinada a um nicho muito específico de espectadores e soa mais como um trabalho de escola do que como uma investida fílmica de verdade.

Na trama, acompanhamos um grupo de espíritos conhecido como Os Mensageiros, que vêm à Terra para resgatar três companheiros cuja missão era fundar uma obra que interligasse o mundo terreno ao mundo espiritual – e cujas histórias interligadas estão prestes a fracassar da maneira mais drástica possível. É a partir daí que acompanhamos a história de Isidoro (Mouhamed Harfouch), líder de uma casa espírita que parece não seguir as próprias pregações com a família; Otávio (Felipe de Carolis), um poderoso e egocêntrico médium que não aceita que as coisas não saiam como ele quer; e Fernando (Rafael Sieg), um abastado empresário que financiou o projeto, mas que não faz bom uso de seu dinheiro. Todos habitavam uma da Cidades Espirituais, mas esqueceram-se de seu propósito e, agora, caminham para um destino aterrador.

Novamente, Wagner de Assis volta à cadeira de direção e, como é de costume, seu objetivo é transcender o conhecimento do público acerca do espiritismo e promover uma espécie de panfletarismo muito específico que tem como alvo aqueles que se interessam pela religião ou aqueles que já seguem suas doutrinas – e é aí que reside o principal problema. Ao longo de quase duas horas (que se estendem em um cansativo prolongamento), Assis bombardeia as telas com informações soltas sobre o mundo espiritual e de que forma estamos conectados a ele, mas sem explicações palpáveis e sem seguir uma lógica necessária para que alguém compreenda o enredo. Além disso, é notável como o cineasta preza por uma batida estética novelesca, cortesia de seu trabalho em obras como ‘Além do Tempo’ e ‘Espelho da Vida’, investindo em um ciclo inquebrável de convencionalismos e de metáforas vencidas.

Ainda que tente fazer um bom trabalho, o elenco não opera milagres para se desvencilhar de um péssimo roteiro: Harfouch, Carolis e Sieg são fadados a uma repetição constante de diálogos que não fazem sentido e que não fornecem uma mísera centelha de profundidade a seus arcos – aliás, todos os “arquétipos” apresentados são engolfados em uma previsibilidade frustrante. Edson Celulari, interpretando o Mensageiro Aniceto, mantém-se em uma unidimensionalidade que condiz à elevação do personagem que interpreta, mas isso não muda o fato de que boa parte de suas falas é artificial e anacrônica; Fábio Lago, dando vida a Vicente, entra como um divertido escape cômico, mas é forçado a se render aos mesmos problemas; ao menos Vanessa Gerbelli e Fernanda Rodrigues se destacam dentro das próprias restrições, fazendo o possível para fugirem de afetações exauríveis e nos convencer daquilo a que se propõe.

Com orçamento estimado de R$7 milhões, poderíamos imaginar que a estética do longa-metragem ao menos viria como um aspecto positivo – entretanto, não é isso o que acontece. De um lado, temos uma melodramática e mandatória trilha sonora que impede que os espectadores sintam o que querem sentir, sendo condicionados a entrar numa atmosfera que, no final das contas, traz mensagens de bonança e de amor que são bem costumeiros de obras desse gênero; de outros, temos efeitos especiais que mais parecem um show de mágica do que auxiliam na compreensão do que são as Colônias Espirituais e de que forma e de que forma estamos conectados ao mundo superior – e qual a nossa missão na Terra. Por fim, o roteiro e a direção fingem terminar a narrativa mais de uma vez, estendendo o tempo da obra mais do que deveriam.

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Nosso Lar 2: Os Mensageiros’ deve agradar apenas àqueles que já têm uma afinidade com a obra de Xavier ou que já participam das doutrinas espíritas e gostariam de ver uma certa representatividade nas telonas; porém, como investida cinematográfica, o filme é falho em diversos aspectos e comete atrocidades técnicas e criativas que são difíceis de esquecer – e que causam um sentimento de frustração crescente conforme os créditos de encerramento sobem nas telonas.

Leia a crítica de Janda Montenegro:

https://cinepop.com.br/critica-2-nosso-lar-2-os-mensageiros-adaptacao-de-best-seller-de-chico-xavier-traz-mensagem-de-aprendizado-e-perdao-468001/

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