A Era dos Astros está de volta
Dwayne ‘The Rock’ Johnson. Temos que amá-lo. Temos que respeitá-lo. O motivo? Numa época de franquias onde o que vale é a marca do personagem, o ator consegue trazer de volta a era dos astros. Bem, ao menos para seu nome.
Nas décadas de 1980 e 1990, astros como Tom Cruise, Stallone, Schwarzenegger e Harrison Ford chamavam um enorme público simplesmente com cartazes estampando seus nomes. Era tudo o que o espectador precisava saber para comprar o ingresso na bilheteria e assistir ao filme. É claro que o chamado star system não começou nas décadas citadas, sendo oriundo dos primórdios de Hollywood e fazendo parte das carreiras de lendas como Marilyn Monroe, por exemplo. Mas a coisa se consolidou e aumentou exponencialmente com a chegada dos blockbusters na década de 1980.
Com a estreia de Batman (1989), de Tim Burton, o astro Sylvester Stallone previu uma mudança no mercado. Agora seriam as marcas que comandariam as bilheterias e não mais os astros. Hoje, quem comanda são as franquias, deixando seus astros em segundo plano. Dinossauros, avatares azuis e super-heróis (independente de quem esteja por baixo da máscara, vide Batman e Homem-Aranha) são as fontes de lucro.
The Rock luta bravamente para reverter esse quadro. Ele é o astro-personagem que as pessoas pagam para ver, independente de seu papel (muitos dirão que ele interpreta sempre o mesmo), como fizeram os grandes no passado. O sucesso recente de filmes que perambulam por gêneros distintos, vide Um Espião e Meio (2016), Jumanji (2017) e Rampage (2018), é a prova disso. Agora, ele está de volta e a investida é no cinema catástrofe, gênero que já havia abordado em 2015, com Terremoto: A Falha de San Andreas – longa que em breve terá continuação.
Na trama, Johnson interpreta Will Sawyer, ex-marine que após perder a perna de forma trágica em ação se encontra trabalhando como técnico de segurança. Seu antigo companheiro é quem arruma o novo serviço, assegurar uma incrível criação na Ásia. Trata-se do maior prédio do mundo, um fenômeno tecnológico que não está tão distante assim da realidade. Atualmente, o mercado asiático é um dos mais fortes do mundo quando o assunto é cinema, inclusive ultrapassando o norte-americano muitas vezes. É esperado que cada vez mais tenhamos superproduções miradas a eles, e Arranha-Céu é um caso claro disso.
Para que tenhamos um filme, algo obrigatoriamente terá que dar errado neste colosso. E logo, Johnson se verá fazendo de tudo para conseguir salvar sua família, mulher e dois filhos pequenos, do grande desastre anunciado. Arranha-Céu verdadeiramente é uma mistura de Inferno da Torre (1974) com Duro de Matar (1988). No entanto, carece do frescor e originalidade do filme com Bruce Willis e do desfile de astros do filme da década de 1970.
Um dos pontos positivos que os fãs irão agradecer é o resgate da atriz Neve Campbell do ostracismo, mais conhecida como a Sidney dos adorados filmes da série de terror Pânico (1996 a 2011). Campbell, que parece não ter envelhecido um ano sequer desde a última vez que a vimos, segura bem as pontas e protagoniza cenas legais de ação e pancadaria. E nem é preciso comentar sobre o carisma de Johnson, qualidade esta que o ator tem de sobra para dar e vender.
O lance de Arranha-Céu é o seguinte: existem duas formas de se abordar um filme como este. Por mais incríveis que fossem, Inferno na Torre e Duro de Matar se esforçavam ao máximo para estar dentro de nosso mundo, exibindo o mínimo de realismo em seus momentos de ação. É a máxima de levar em conta elementos como gravidade, física e outros quesitos importantes na hora de se montar uma história e narrativa. Talvez esse fosse o reflexo de suas respectivas décadas. Arranha-Céu também é reflexo da época atual, então esqueça qualquer verossimilhança com a realidade, leis da física, gravidade ou qualquer sentido de pertencimento ao nosso mundo.
Arranha-Céu conta com saltos no ar que são verdadeiros voos, cordas intermináveis, fita adesiva para se escalar prédios, constante força sobre-humana e qualquer outro elemento facilmente encontrado em filmes de super-heróis atuais. Antes, mesmo sem forçar tanto a barra aqueles fatos poderiam acontecer. Estes, nunca. O objetivo obviamente é nenhum outro senão entreter e atualmente tudo precisa ser maior e mais exagerado. Dentro deste quesito, o longa igualmente não satisfaz por completo, já que depende muito apenas de visuais e cenas de ação. Os vilões são de terceira (daquele tipo de lançamento para vídeo mesmo), suas motivações não fazem sentido e o roteiro perde o gás por completo no terceiro ato – extremamente previsível desde a primeira cena.
Por outro lado, o objetivo de The Rock ainda não é criar uma obra-prima, apenas um filme pipoca que permaneça em nossas mentes o mesmo tempo que tal lanche permanecerá. E nesse sentido, uma produção exagerada, boba e cartunesca, mas que igualmente diverte com seus inúmeros clichês, como esta cumpre seu único propósito de existência.