domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | As Five – Spin-Off de ‘Malhação’ Tem Sexo, Drogas e Rock’ n Roll

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Desde que a novelinha ‘Malhação’ estreou na Rede Globo, em 1995, o público veio acompanhando os desdobramentos do mundo jovem e jovem-adulto através da tv aberta. De lá para cá foram 27 temporadas – algumas mais bem sucedidas que outras –, mas sem nunca antes ter prolongado um núcleo por mais de um ano. Até 2020, quando a série ‘As Five’ estreou na Globoplay – um spin-off da temporada de sucesso ‘Viva a Diferença’, de 2017 – que chega agora, em 2021, ao grande público da Rede Globo.



Cinco anos se passaram desde a formatura do grupo de amigas. Keyla Maria (Gabriela Medvedovski) agora lida com as dificuldades de ser mãe solteira de uma criança de cinco anos de idade e de não ter vida social; Ellen (Heslaine Vieira) acaba de chegar dos Estados Unidos, onde cursa faculdade e está noiva, mas começa a questionar se a vida no exterior é mesmo o que quer; por sua vez, Tina (Ana Hikari) está em dúvida sobre seu relacionamento com Anderson (Juan Paiva); Lica (Manoela Aliperti) não tem nenhum objetivo na vida, mas agora sua mãe não irá mais sustentá-la e ela terá que descobrir que para ganhar dinheiro é preciso trabalhar; e Benê (Daphne Bozaski), que, após descobrir que seu namorado, Guto (Bruno Gadiol), é gay, passará por uma árdua jornada em busca da própria sexualidade.

Com apenas seis episódios de cerca de meia hora de duração cada e cinco protagonistas com conflitos e núcleos distintos, a primeira temporada de ‘As Five’ tenta abraçar muitos temas, mas, com o tempo limitado da produção, fica acelerada em muitos momentos e não se aprofunda em nada do que propõe. Isso acaba prejudicando a série como um todo, que, com tanto potencial e ótimas atuações, entrega um resultado picotado, que confunde e causa estranheza, como se tivéssemos perdido alguma coisa. Os episódios quase sempre terminam com a interrupção de uma cena, que não é retomada no episódio seguinte; em outros momentos, bate uma preguiça no roteiro de Jasmin Tenucci, Francine Barbosa, Vitor Brandt, Luna Grimberg e Cao Hamburger, que literalmente abandona alguns elementos no meio do caminho (exemplo disso é quando Benê deixa Tonico na quadra de futebol, aos cuidados do vizinho que ela acabou de conhecer, para correr pro hospital, e, quando Keyla passa para buscá-la, nem sequer pergunta pelo filho, e tá tudo bem).

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Apesar desses escorregões, ‘As Five’ amadurece um bocado as queridas personagens conhecidas pelo grande público em 2017. Os temas, sempre meio bobinhos e superficiais na tv aberta, agora, na Globoplay, se tornam mais sérios e realistas. Tudo que anteriormente ficou subentendido agora é explanado: personagens se revelam gays, lésbicas ou bissexuais; a hipocrisia é deixada de lado e eles agora consomem drogas, bebida alcoólica, etc. Através dessa nova linha narrativa, ganham destaque os personagens secundários, como a relação lésbica Limantha (Lica + Samantha, interpretada pela Giovanna Grigio), que agora é naturalizada ao público; e a relação entre Benê e Nem (Thalles Cabral), o vizinho misterioso cheio de carisma que rouba a cena desde o momento em que aparece, com seu visual emogótico fofo.

É legal ver como essas personagens – que foram apresentadas bem maduras até, quando estrearam – amadureceram bastante, embora continuem se sentindo perdidas na vida. Agora a série reflete com mais honestidade os sentimentos e os dramas do seu público-alvo e perde o medo de falar abertamente sobre as verdadeiras inquietações da juventude – como visto em produções similares como ‘Euphoria’ e ‘Sex Education’, mostrando que o Brasil pode e deve sim dialogar de maneira sincera com os jovens. E esse é o grande mérito de ‘As Five’: com personagens conhecidas e dramas populares, mais parece estarmos vendo nossas amigas entrando em enrascadas, e não que estamos assistindo uma série. Ainda bem que a segunda temporada já está confirmada.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Desde que a novelinha ‘Malhação’ estreou na Rede Globo, em 1995, o público veio acompanhando os desdobramentos do mundo jovem e jovem-adulto através da tv aberta. De lá para cá foram 27 temporadas – algumas mais bem sucedidas que outras –, mas sem nunca antes ter prolongado um núcleo por mais de um ano. Até 2020, quando a série ‘As Five’ estreou na Globoplay – um spin-off da temporada de sucesso ‘Viva a Diferença’, de 2017 – que chega agora, em 2021, ao grande público da Rede Globo.

Cinco anos se passaram desde a formatura do grupo de amigas. Keyla Maria (Gabriela Medvedovski) agora lida com as dificuldades de ser mãe solteira de uma criança de cinco anos de idade e de não ter vida social; Ellen (Heslaine Vieira) acaba de chegar dos Estados Unidos, onde cursa faculdade e está noiva, mas começa a questionar se a vida no exterior é mesmo o que quer; por sua vez, Tina (Ana Hikari) está em dúvida sobre seu relacionamento com Anderson (Juan Paiva); Lica (Manoela Aliperti) não tem nenhum objetivo na vida, mas agora sua mãe não irá mais sustentá-la e ela terá que descobrir que para ganhar dinheiro é preciso trabalhar; e Benê (Daphne Bozaski), que, após descobrir que seu namorado, Guto (Bruno Gadiol), é gay, passará por uma árdua jornada em busca da própria sexualidade.

Com apenas seis episódios de cerca de meia hora de duração cada e cinco protagonistas com conflitos e núcleos distintos, a primeira temporada de ‘As Five’ tenta abraçar muitos temas, mas, com o tempo limitado da produção, fica acelerada em muitos momentos e não se aprofunda em nada do que propõe. Isso acaba prejudicando a série como um todo, que, com tanto potencial e ótimas atuações, entrega um resultado picotado, que confunde e causa estranheza, como se tivéssemos perdido alguma coisa. Os episódios quase sempre terminam com a interrupção de uma cena, que não é retomada no episódio seguinte; em outros momentos, bate uma preguiça no roteiro de Jasmin Tenucci, Francine Barbosa, Vitor Brandt, Luna Grimberg e Cao Hamburger, que literalmente abandona alguns elementos no meio do caminho (exemplo disso é quando Benê deixa Tonico na quadra de futebol, aos cuidados do vizinho que ela acabou de conhecer, para correr pro hospital, e, quando Keyla passa para buscá-la, nem sequer pergunta pelo filho, e tá tudo bem).

Apesar desses escorregões, ‘As Five’ amadurece um bocado as queridas personagens conhecidas pelo grande público em 2017. Os temas, sempre meio bobinhos e superficiais na tv aberta, agora, na Globoplay, se tornam mais sérios e realistas. Tudo que anteriormente ficou subentendido agora é explanado: personagens se revelam gays, lésbicas ou bissexuais; a hipocrisia é deixada de lado e eles agora consomem drogas, bebida alcoólica, etc. Através dessa nova linha narrativa, ganham destaque os personagens secundários, como a relação lésbica Limantha (Lica + Samantha, interpretada pela Giovanna Grigio), que agora é naturalizada ao público; e a relação entre Benê e Nem (Thalles Cabral), o vizinho misterioso cheio de carisma que rouba a cena desde o momento em que aparece, com seu visual emogótico fofo.

É legal ver como essas personagens – que foram apresentadas bem maduras até, quando estrearam – amadureceram bastante, embora continuem se sentindo perdidas na vida. Agora a série reflete com mais honestidade os sentimentos e os dramas do seu público-alvo e perde o medo de falar abertamente sobre as verdadeiras inquietações da juventude – como visto em produções similares como ‘Euphoria’ e ‘Sex Education’, mostrando que o Brasil pode e deve sim dialogar de maneira sincera com os jovens. E esse é o grande mérito de ‘As Five’: com personagens conhecidas e dramas populares, mais parece estarmos vendo nossas amigas entrando em enrascadas, e não que estamos assistindo uma série. Ainda bem que a segunda temporada já está confirmada.

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