sábado , 23 novembro , 2024

Crítica | As Golpistas – Jennifer Lopez brilha à frente de elenco em sintonia

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A Pequena Aposta

É comum vermos atores se acomodarem, apostarem no seguro e permanecerem em sua zona de conforto ao atingirem certo patamar de suas carreiras. Nestes casos, tais astros visam unicamente o aspecto financeiro de sua profissão, esquecendo um pouco justamente o que faz dela uma arte. Esta é uma área em constante transformação e evolução, onde riscos devem ser tentados e na qual os melhores profissionais são aqueles que ousam e transgredem, tomando para si novos desafios.

Então, chega como uma muito bem vinda surpresa ver Jennifer Lopez, acostumada a ser a rainha latina das comédias românticas, topar esta empreitada nada usual, áspera e muito aberta a críticas. O resultado, no entanto, foi extremamente recompensador para a atriz. Realmente, J-Lo (como ficou mundialmente apelidada), estrela de descendência porto-riquenha, não precisava interpretar uma stripper e aparecer seminua aos 50 anos de idade. Não precisava, mas ela quis. E foi uma de suas melhores decisões profissionais.



Além dos elogios da imprensa (com 88% de aprovação no Rotten Tomatoes) e de uma bilheteria polpuda (com um orçamento de US$20 milhões que se pagou em seu primeiro final de semana de estreia, o filme já soma mais de US$150 milhões pelo mundo), As Golpistas começou a gerar falatório de prêmios (como Oscar) logo em seu debute no Festival de Toronto em setembro passado. Fato que pegou todos desprevenidos. À frente de todo o burburinho está a performance de J-Lo como Ramona, dançarina exótica e mente “criminosa” por trás dos anunciados golpes.

Baseado num artigo de Jessica Pressler para a revista New York (publicado em 2015), o longa narra a trajetória de Destiny (Constance Wu), desde sua entrada no clube masculino de maior prestígio da cidade, até cair nas graças de Ramona, que a acolhe como pupila. As duas desenvolvem uma amizade genuína – que é toda a base da obra da cineasta Lorene Scafaria, responsável pela adaptação do roteiro e dona de um currículo de filmes que mesclam tragicomédia com uma sensibilidade ímpar, vide Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo (2012) e A Intrometida (2015). Com As Golpistas, Scafaria atinge um patamar de grande visibilidade, sem perder a essência, e se mostra pronta para se tornar uma das grandes.

Constance Wu, que ganhou notoriedade com o sucesso Podres de Ricos ano passado, é a protagonista, e o filme é todo narrado por ela, dando entrevista a uma repórter (Julia Stiles). Além de sua ótima e igualmente desafiadora atuação, o longa conta ainda com coadjuvantes de luxo, vide Keke Palmer (das séries Scream Queens e Pânico), Lili Reinhart (da série Riverdale) e a rapper Cardi B. A espinha dorsal, no entanto, é o dedicado retrato de Jennifer Lopez, que mescla atitude voraz e fragilidade com perfeição. Sua personagem é a definição da mulher de negócios sem escrúpulos – uma versão de Jordan Belfort, de O Lobo de Wall Street (2013), caso este fosse mulher e operasse no “fundo da cadeia alimentar”, ao invés do topo.

Por falar em investidores e homens de negócio, As Golpistas é o outro lado da moeda de A Grande Aposta (2015), e funciona bem como sessão dupla com o filme. Para provar este argumento, temos como produtores da obra das stripppers Will Ferrell e Adam McKay, dupla responsável pelo longa citado.

Talvez o aspecto mais interessante de As Golpistas seja mesmo sua leitura, mesmo que deturpada, da crise financeira que atingiu os EUA (e por consequência o mundo) em 2008. Obviamente o topo da pirâmide terminou por afetar a sua base, e logo, estas damas da noite pagas para tirar a roupa viram seu faturamento cair substancialmente. É justamente o fato que se torna responsável pelo plano de contingência: passos largos rumo à criminalidade, num ato de desespero que se propõe a discutir a legitimidade da extensão de uma carreira ainda vista com olhos duros pela hipocrisia social.

As Golpistas possui uma montagem ágil e uma narrativa dinâmica. Conta com algumas das atuações mais empenhadas de 2019, e se mostra aquela produção que chega de fininho para nos conquistar. Bem, talvez a chegada com a força de um furacão seja mais apropriado para este filme que é puro empodaramento feminino, mostrando o que obras criadas, dirigidas e protagonizadas por mulheres podem verdadeiramente ser em toda a sua plenitude, som e fúria. Mesmo que seja muito hip-hop, pop e malandragem das ruas.

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Então, chega como uma muito bem vinda surpresa ver Jennifer Lopez, acostumada a ser a rainha latina das comédias românticas, topar esta empreitada nada usual, áspera e muito aberta a críticas. O resultado, no entanto, foi extremamente recompensador para a atriz. Realmente, J-Lo (como ficou mundialmente apelidada), estrela de descendência porto-riquenha, não precisava interpretar uma stripper e aparecer seminua aos 50 anos de idade. Não precisava, mas ela quis. E foi uma de suas melhores decisões profissionais.

Além dos elogios da imprensa (com 88% de aprovação no Rotten Tomatoes) e de uma bilheteria polpuda (com um orçamento de US$20 milhões que se pagou em seu primeiro final de semana de estreia, o filme já soma mais de US$150 milhões pelo mundo), As Golpistas começou a gerar falatório de prêmios (como Oscar) logo em seu debute no Festival de Toronto em setembro passado. Fato que pegou todos desprevenidos. À frente de todo o burburinho está a performance de J-Lo como Ramona, dançarina exótica e mente “criminosa” por trás dos anunciados golpes.

Baseado num artigo de Jessica Pressler para a revista New York (publicado em 2015), o longa narra a trajetória de Destiny (Constance Wu), desde sua entrada no clube masculino de maior prestígio da cidade, até cair nas graças de Ramona, que a acolhe como pupila. As duas desenvolvem uma amizade genuína – que é toda a base da obra da cineasta Lorene Scafaria, responsável pela adaptação do roteiro e dona de um currículo de filmes que mesclam tragicomédia com uma sensibilidade ímpar, vide Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo (2012) e A Intrometida (2015). Com As Golpistas, Scafaria atinge um patamar de grande visibilidade, sem perder a essência, e se mostra pronta para se tornar uma das grandes.

Constance Wu, que ganhou notoriedade com o sucesso Podres de Ricos ano passado, é a protagonista, e o filme é todo narrado por ela, dando entrevista a uma repórter (Julia Stiles). Além de sua ótima e igualmente desafiadora atuação, o longa conta ainda com coadjuvantes de luxo, vide Keke Palmer (das séries Scream Queens e Pânico), Lili Reinhart (da série Riverdale) e a rapper Cardi B. A espinha dorsal, no entanto, é o dedicado retrato de Jennifer Lopez, que mescla atitude voraz e fragilidade com perfeição. Sua personagem é a definição da mulher de negócios sem escrúpulos – uma versão de Jordan Belfort, de O Lobo de Wall Street (2013), caso este fosse mulher e operasse no “fundo da cadeia alimentar”, ao invés do topo.

Por falar em investidores e homens de negócio, As Golpistas é o outro lado da moeda de A Grande Aposta (2015), e funciona bem como sessão dupla com o filme. Para provar este argumento, temos como produtores da obra das stripppers Will Ferrell e Adam McKay, dupla responsável pelo longa citado.

Talvez o aspecto mais interessante de As Golpistas seja mesmo sua leitura, mesmo que deturpada, da crise financeira que atingiu os EUA (e por consequência o mundo) em 2008. Obviamente o topo da pirâmide terminou por afetar a sua base, e logo, estas damas da noite pagas para tirar a roupa viram seu faturamento cair substancialmente. É justamente o fato que se torna responsável pelo plano de contingência: passos largos rumo à criminalidade, num ato de desespero que se propõe a discutir a legitimidade da extensão de uma carreira ainda vista com olhos duros pela hipocrisia social.

As Golpistas possui uma montagem ágil e uma narrativa dinâmica. Conta com algumas das atuações mais empenhadas de 2019, e se mostra aquela produção que chega de fininho para nos conquistar. Bem, talvez a chegada com a força de um furacão seja mais apropriado para este filme que é puro empodaramento feminino, mostrando o que obras criadas, dirigidas e protagonizadas por mulheres podem verdadeiramente ser em toda a sua plenitude, som e fúria. Mesmo que seja muito hip-hop, pop e malandragem das ruas.

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