Os filmes de ação compreendem um gênero majoritariamente ocupado pelo universo masculino. Tanto na frente das câmeras quanto nos bastidores a maioria da produção era sempre composta por homens. Tal aspecto ganhou muita força nos anos 1980, com a entrada definitiva de nomes que reinaram durante muitos anos como sendo os rostos dos filmes de ação – Bruce Lee, Steven Seagal, Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger -; mais para os anos 1990, outros nomes foram acrescidos – Tom Cruise -, e, a partir dos anos 2000 – Jason Statham. Na última década, entretanto, tem havido um crescimento considerável de filmes desse gênero protagonizado – e, muitas vezes, também produzidos – por um elenco feminino, como ocorre com o lançamento ‘As Ladras’, que desde sua estreia tem se mantido no Top 10 da Netflix.
Carole (Mélanie Laurent) e Alex (Adèle Exarchopoulos) são uma dupla de ladras profissionais. Enquanto Carole coloca a mão na massa para roubar as peças, Alex fica na retaguarda como atiradora de elite à distância, dando cobertura. Entretanto, Carole descobre estar grávida e, por isso, decide que é hora de parar e sossegar na vida. Isto acordado, ela vai até a Madrinha (Isabelle Adjani) pedir para sair do mundo do crime e ser liberada de futuras missões. Embora não recebendo de bom grado a notícia, Madrinha oferece um trato: uma última missão antes de deixar o grupo. É assim que as duas acabam se juntando à piloto Sam (Manon Bresch) para roubar um quadro que está exposto em uma capela no interior.
Baseado na história em quadrinhos francesa “Le Grande Odalisque”, ‘As Ladras’ tem um bom ritmo nos momentos de ação, mas que se contrapõem com momentos de total aleatoriedade que, por vezes, fazem o espectador se questionar se perdeu alguma coisa. O roteiro de Cédric Anger, Christophe Deslandes e Jérôme Mulot parece querer costurar diversas histórias dentro de um enredo maior, que é a vida da dupla que se torna um trio de ladras. Porém, desde o início temos a sensação de já pegar a história andando, com referências a situações que não acontecem no filme que vemos – por exemplo, a tal gravidez, ou o porquê da obsessão de Alex em querer se envolver com qualquer cara que se aproxime dela. Então, ao mesmo tempo que essas histórias menores se desenrolam muito rapidamente antes de começar uma nova, o arco geral do enredo se esvazia, pois se calca num clichê básico: o bandido que quer se afastar da vida de crime e ser deixado em paz numa vida mundana.
A irregularidade da história como um todo é compensada pela diretora Mélanie Laurent (que também é a protagonista) com belas tomadas que são engrandecidas por uma fotografia que favorece os personagens em ação. A magia dessa junção ocorre principalmente nas cenas de ação, entregando beleza, desenvoltura e dinamismo nas sequências de chutes e socos bem como também nas sequências de tiroteio e luta corporal. Isso é especialmente verdadeiro na cena em que Alex luta contra um homem pelado no escuro.
‘As Ladras’ é um filme de ação bem-feito que cumpre o objetivo de entreter o público. Em se tratando de um longa desse gênero, vale também a sugestão de assisti-lo dublado, uma vez que a dublagem brasileira foi um dos principais fatores para o crescimento desse gênero dentre o público nacional.