domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | As Trapaceiras – Divertida Comédia Surpreende com Profundidade do Tema

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É possível criar uma comédia que faça os espectadores refletirem? É possível refazer um clássico do gênero, que fora encabeçado por dois atores hilários, de uma forma tão nova a ponto de você esquecer da versão original? Pois bem, assim é ‘As Trapaceiras’, que chega essa semana aos cinemas.



O filme anterior, de 1988, ganhou o nome de ‘Os Safados’ por aqui, e foi estrelado por Steve Martin e Michael Caine, com roteiro de Stanley Shapiro e Paul Henning, que, já falecidos, tiveram seu texto reutilizado pela dupla Dale Launer e Jac Schaeffer no novo filme. Aliás, Os Safados é, por sua vez, a refilmagem de Dois Farristas Irresistíveis (1964), protagonizado por Marlon Brando e David Niven, que tem, olhe só, roteiro dos mesmos Henning e Shapiro. O fato faz de As Trapaceiras a terceira vez que esta história é contada, mas a primeira com a inversão do gênero das protagonistas.

Parece que, nessa onda de reboots e remakes de Hollywood, eles devem ter olhado para o trabalho realizado vinte anos atrás e pensado que, por mais sucesso que tivessem feito no passado, o filme não tinha mais espaço hoje, porque o mundo não ri mais de piadas que diminuem outras pessoas. Por isso, o longa de 2019 traz duas atrizes de destaque na comédiaAnne Hathaway (no papel de Caine) e Rebel Wilson (no papel de Martin) – e a história é centrada nelas, no mundo das mulheres.

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Penny (Wilson) é uma golpista raiz, que se aproxima de caras por aplicativos de internet fazendo-se de mulher-fruta, apenas para decepcioná-los e extorqui-los. Ou seja, ela usa o truque machista – o de julgar uma mulher por sua aparência e querer ficar com ela só por seu físico, sem se interessar pelo o que ela pensa – contra os homens, e isso é particularmente genial. Do outro lado, temos Josephine (Hathaway), uma golpista requintada, que se aproveita de velhos ricos que adoram se sentir heróis perto de pobres donzelas indefesas – um papel que ela interpreta muito bem para conseguir que suas presas lhe presenteiem com joias e fortunas. Um dia, casualmente, o destino dessas duas ladras se cruza e elas resolvem apostar qual das duas consegue conquistar um nerd bilionário.

Por mais que o mote não seja exatamente original, o desenvolvimento da história é. Ao colocar duas protagonistas opostas – uma gorda, a outra magra; uma requintada, a outra mais popular; uma morena, a outra loira – o longa de Chris Addison usa estas atribuições das duas atrizes não para diminui-las entre si, mas para reforçar a coragem e as qualidades das duas. Ou seja, se antigamente as diferenças físicas seriam usadas para gerar piadas, hoje elas são usadas para destacar personagens, fazê-las crescer. O riso é gerado pelas situações insólitas em que as duas se metem e na capacidade de ambas as atrizes em dominar com competência diversas facetas de atuação – essencial para a comédia. Há duas cenas, em particular, que chamam a atenção, dado o grau de dificuldade: em uma delas, Anne Hathaway ensina Rebel Wilson como chorar de repente, enquanto Rebel fica fazendo piada (sério, tem que ser muito centrado pra chorar dramaticamente enquanto outra pessoa está tentando te fazer ir); e em outra, Rebel Wilson está com a mão colada na parede e não pode se mexer – e realmente tem que ter muito autocontrole para fazer parecer que seu braço inteiro está imobilizado, enquanto seu corpo se mexe. A química entre as duas é o que proporciona o riso fácil do espectador.

Uma vez que o lema de Josephine é “os homens são alvos fáceis porque não conseguem admitir a possibilidade de uma mulher ser mais esperta que eles”, pois, afinal, os homens subestimam as mulheres, em ‘As Trapaceiras’ vemos uma chuva de sororidade e irmandade, apesar da aposta entre as duas, e isso é realmente muito muito legal de se ver num filme de gênero.

Com um cenário de tirar o fôlego na Riviera Francesa, um guarda-roupas de alta-costura e carros luxuosos, ‘As Trapaceiras’ é um filme na medida para o riso sincero, sem apelar para escatologia ou discriminações. E cheguem cedo na sessão, porque a abertura do longa é uma animação estilo capa de chick-lit, e fiquem até o final, pois tem uma cena pós-crédito.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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É possível criar uma comédia que faça os espectadores refletirem? É possível refazer um clássico do gênero, que fora encabeçado por dois atores hilários, de uma forma tão nova a ponto de você esquecer da versão original? Pois bem, assim é ‘As Trapaceiras’, que chega essa semana aos cinemas.

O filme anterior, de 1988, ganhou o nome de ‘Os Safados’ por aqui, e foi estrelado por Steve Martin e Michael Caine, com roteiro de Stanley Shapiro e Paul Henning, que, já falecidos, tiveram seu texto reutilizado pela dupla Dale Launer e Jac Schaeffer no novo filme. Aliás, Os Safados é, por sua vez, a refilmagem de Dois Farristas Irresistíveis (1964), protagonizado por Marlon Brando e David Niven, que tem, olhe só, roteiro dos mesmos Henning e Shapiro. O fato faz de As Trapaceiras a terceira vez que esta história é contada, mas a primeira com a inversão do gênero das protagonistas.

Parece que, nessa onda de reboots e remakes de Hollywood, eles devem ter olhado para o trabalho realizado vinte anos atrás e pensado que, por mais sucesso que tivessem feito no passado, o filme não tinha mais espaço hoje, porque o mundo não ri mais de piadas que diminuem outras pessoas. Por isso, o longa de 2019 traz duas atrizes de destaque na comédiaAnne Hathaway (no papel de Caine) e Rebel Wilson (no papel de Martin) – e a história é centrada nelas, no mundo das mulheres.

Penny (Wilson) é uma golpista raiz, que se aproxima de caras por aplicativos de internet fazendo-se de mulher-fruta, apenas para decepcioná-los e extorqui-los. Ou seja, ela usa o truque machista – o de julgar uma mulher por sua aparência e querer ficar com ela só por seu físico, sem se interessar pelo o que ela pensa – contra os homens, e isso é particularmente genial. Do outro lado, temos Josephine (Hathaway), uma golpista requintada, que se aproveita de velhos ricos que adoram se sentir heróis perto de pobres donzelas indefesas – um papel que ela interpreta muito bem para conseguir que suas presas lhe presenteiem com joias e fortunas. Um dia, casualmente, o destino dessas duas ladras se cruza e elas resolvem apostar qual das duas consegue conquistar um nerd bilionário.

Por mais que o mote não seja exatamente original, o desenvolvimento da história é. Ao colocar duas protagonistas opostas – uma gorda, a outra magra; uma requintada, a outra mais popular; uma morena, a outra loira – o longa de Chris Addison usa estas atribuições das duas atrizes não para diminui-las entre si, mas para reforçar a coragem e as qualidades das duas. Ou seja, se antigamente as diferenças físicas seriam usadas para gerar piadas, hoje elas são usadas para destacar personagens, fazê-las crescer. O riso é gerado pelas situações insólitas em que as duas se metem e na capacidade de ambas as atrizes em dominar com competência diversas facetas de atuação – essencial para a comédia. Há duas cenas, em particular, que chamam a atenção, dado o grau de dificuldade: em uma delas, Anne Hathaway ensina Rebel Wilson como chorar de repente, enquanto Rebel fica fazendo piada (sério, tem que ser muito centrado pra chorar dramaticamente enquanto outra pessoa está tentando te fazer ir); e em outra, Rebel Wilson está com a mão colada na parede e não pode se mexer – e realmente tem que ter muito autocontrole para fazer parecer que seu braço inteiro está imobilizado, enquanto seu corpo se mexe. A química entre as duas é o que proporciona o riso fácil do espectador.

Uma vez que o lema de Josephine é “os homens são alvos fáceis porque não conseguem admitir a possibilidade de uma mulher ser mais esperta que eles”, pois, afinal, os homens subestimam as mulheres, em ‘As Trapaceiras’ vemos uma chuva de sororidade e irmandade, apesar da aposta entre as duas, e isso é realmente muito muito legal de se ver num filme de gênero.

Com um cenário de tirar o fôlego na Riviera Francesa, um guarda-roupas de alta-costura e carros luxuosos, ‘As Trapaceiras’ é um filme na medida para o riso sincero, sem apelar para escatologia ou discriminações. E cheguem cedo na sessão, porque a abertura do longa é uma animação estilo capa de chick-lit, e fiquem até o final, pois tem uma cena pós-crédito.

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Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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