quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | Assassinato no Expresso do Oriente – Uma Agatha Christie moderna e com muita classe

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Cinema Clássico Hoje

A velha Hollywood morreu. Os épicos do passado, que enfatizavam valores e personagens humanos estão em defasagem no mercado da maior meca do cinema mundial. Antes, estas produções cinematográficas ricas em detalhes e de muito conteúdo, estudadas até hoje por eruditos da arte, eram o que faziam adultos saírem de casa, deixando os filhos dormindo. Hoje, cinema é coisa de jovens, a maior fatia pagante no mercado. Bem, é tudo culpa de um certo senhor Steven Spielberg e seus blockbusters – leia na minha crítica do documentário Spielberg para saber mais sobre a revolução cultural.

Veja bem, existem muitos blockbusters legais e longe de mim querer reclamar dos filmes de super-heróis que chegam todo ano, adoro a maioria. Mas acho que pode haver lugar para tudo. Não é justo tirar de cena produções mais maduras e adultas, e esse desejo precisa vir não apenas dos jovens, mas das eternas crianças presentes ainda dentro de cada um de nós. Muita gente só sai de casa se o cinema estiver exibindo aquele espetáculo visual – muitas vezes sem qualquer pensamento embutido. Bem, esta é a chance de assistir a uma obra adulta, que se encaixa perfeitamente em tais quesitos de conteúdo somado a um visual chamativo.



Assassinato no Expresso do Oriente é a repaginada de Kenneth Branagh no clássico da literatura homônimo de Agatha Christie. E se Stephen King é enaltecido por diversas gerações, desde os anos 1970, como o rei do terror, Christie precisava mesmo ser redescoberta, já que trata-se da rainha do suspense. Para uma versão moderna, já que a obra foi adaptada em 1974 por Sidney Lumet, com pompa de prêmios (seis indicações ao Oscar, incluindo roteiro adaptado, e uma vitória, atriz coadjuvante para Ingrid Bergman), não poderia haver um piloto melhor do que Branagh. Conhecido pela garotada como o diretor de Thor (2011) e Cinderela (2015), o ator britânico é lembrado pelos mais velhos como um artista shakespeariano e discípulo direto do grande Sir Laurence Olivier.

Branagh e a Fox, estúdio responsável por este reboot (para usar uma palavra muito em voga), se cercam de uma verdadeira constelação de nomes para recriar os passageiros “amaldiçoados” do trem saído de Istambul, na Turquia, direto para a Europa (Londres e Paris). De fato, se Lumet comandou Albert Finney, Lauren Bacall, Ingrid Bergman, Jacqueline Bisset, Vanessa Redgrave, John Gielgud e Sean Connery, Branagh realmente não fica devendo ao apresentar Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Judi Dench, Penélope Cruz, Daisy Ridley e Willem Dafoe. No papel principal do maior detetive do mundo, Hercule Poirot, o próprio diretor. E por que não, afinal o filme é dele.

Na trama, personagens excêntricos trancafiados no veículo que dá título ao filme, devido a uma avalanche, precisam se deparar com uma tragédia quando um deles aparece morto, levantando a suspeita de que qualquer um dos sobreviventes pode ser o assassino. Agora caberá ao astuto detetive desvendar este complexo mistério, que pode ter ligação direta com o passado de um deles e uma rica família que teve seu bebê sequestrado e morto – supostamente, Christie teria usado como base o caso real do aviador Charles Lindbergh, cujo bebê foi sequestrado em 1932 e nunca mais apareceu. A escritora lançou sua obra em 1934.

O que Branagh cria aqui é uma obra enxuta e exuberante. Dona de um visual tão chamativo que conseguirá prender a atenção do público disperso e ávido por seu celular de 5 em 5 minutos. A direção de arte, que recria o interior do luxuoso trem, e os figurinos elaborados, saltam aos olhos. Além disso, Branagh cria ângulos interessantes para pôr sua câmera, como se convidasse o espectador a assistir tudo de uma ótica inusitada. Temos por exemplo, uma conversa de corredor com a câmera parada em cima (num contra-plongée), enquanto tentamos distinguir quem são os envolvidos no assunto sem ver seus rostos. Ou como na cena em que Poirot passeia entre os suspeitos narrando o ocorrido, cena contida no trailer, na qual a câmera substitui o protagonista. São esforços como esse que criam o diferencial de vigor, usando métodos modernos para vestir um material clássico. Ah, sim. E temos o fabuloso bigode de Poirot. Afinal quem conseguiria desviar o olhar dele.

Existe aqui também todo um prólogo fora do trem, no qual Poirot ajuda a decifrar um crime onde três clérigos de diferentes religiões estão enfrentando a pena de morte por fuzilamento, trecho adicionado pelo texto de Michael Green (Logan e Blade Runner 2049) para enfatizar a expertise do herói (sim, um herói real) e com o que o criminoso no trem está prestes a se deparar. A direção de Branagh imprime um ritmo bom ao longa, sem transformar o filme numa sucessão de picotes incompreensíveis (com o qual a garotada está acostumada atualmente) e tampouco perdendo parte do público com uma montagem lenta. De fato, a versão 2017 é mais dinâmica do que seu predecessor – eu sei que os tempos são outros e o estilo de fazer cinema mudou, mas Branagh poderia ser respeitoso de uma narrativa mais recheada de diálogos e menos cortes (com câmera mais estática) – pense em como Villeneuve replicou a condução do Blade Runner original de 1982. Aqui, no entanto, o ritmo mais rápido serviu muito bem ao filme.

Na parte do elenco, a grande maioria se sai bem. É bom ver Daisy Ridley dando conta do recado em seu primeiro filme longe de Rey e Star Wars, e a menina segura bem as pontas. Penélope Cruz costuma roubar a cena em elencos recheados (Vicky Cristina Barcelona e Nine) e aqui tem uma personagem que rendeu um Oscar a outra (Bergman). Mas quem eu gostaria de destacar são três outros atores. Josh Gad mostra que funciona muito bem longe de comédias, aqui na pele do secretário do mafioso de Johnny Depp. A gracinha Lucy Boynton, a apaixonante Raphina de Sing Street: Música e Sonho (você precisa ver este filme, é sério!), atinge a nota certa da entorpecida Condessa Andrenyi. E por último, o melhor desempenho em cena, a revigorada Michelle Pfeiffer, que faz sua Sra. Hubbard pulsar com vida. E que ano teve a atriz, entre este filme e mãe!, de Darren Aronofsky. Esperamos que continue nesta crescente no vindouro Homem-Formiga e a Vespa (2018) da Marvel.

Assassinato no Expresso do Oriente é um filme elegante e classudo, recheado de inúmeros elementos para despertar o interesse de um novo público. O fato só prova que Agatha Christie e seus textos são atemporais e se forem preparados de forma adequada – e muito longe de ser descaracterizado – apelam a qualquer um. Numa era em que todos os estúdios buscam por suas franquias, taí uma na qual valeria a pena investir, o Christieverse, o universo expandido das obras da autora. Bom, a semente já foi plantada, agora façam a parte de vocês.

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Veja bem, existem muitos blockbusters legais e longe de mim querer reclamar dos filmes de super-heróis que chegam todo ano, adoro a maioria. Mas acho que pode haver lugar para tudo. Não é justo tirar de cena produções mais maduras e adultas, e esse desejo precisa vir não apenas dos jovens, mas das eternas crianças presentes ainda dentro de cada um de nós. Muita gente só sai de casa se o cinema estiver exibindo aquele espetáculo visual – muitas vezes sem qualquer pensamento embutido. Bem, esta é a chance de assistir a uma obra adulta, que se encaixa perfeitamente em tais quesitos de conteúdo somado a um visual chamativo.

Assassinato no Expresso do Oriente é a repaginada de Kenneth Branagh no clássico da literatura homônimo de Agatha Christie. E se Stephen King é enaltecido por diversas gerações, desde os anos 1970, como o rei do terror, Christie precisava mesmo ser redescoberta, já que trata-se da rainha do suspense. Para uma versão moderna, já que a obra foi adaptada em 1974 por Sidney Lumet, com pompa de prêmios (seis indicações ao Oscar, incluindo roteiro adaptado, e uma vitória, atriz coadjuvante para Ingrid Bergman), não poderia haver um piloto melhor do que Branagh. Conhecido pela garotada como o diretor de Thor (2011) e Cinderela (2015), o ator britânico é lembrado pelos mais velhos como um artista shakespeariano e discípulo direto do grande Sir Laurence Olivier.

Branagh e a Fox, estúdio responsável por este reboot (para usar uma palavra muito em voga), se cercam de uma verdadeira constelação de nomes para recriar os passageiros “amaldiçoados” do trem saído de Istambul, na Turquia, direto para a Europa (Londres e Paris). De fato, se Lumet comandou Albert Finney, Lauren Bacall, Ingrid Bergman, Jacqueline Bisset, Vanessa Redgrave, John Gielgud e Sean Connery, Branagh realmente não fica devendo ao apresentar Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Judi Dench, Penélope Cruz, Daisy Ridley e Willem Dafoe. No papel principal do maior detetive do mundo, Hercule Poirot, o próprio diretor. E por que não, afinal o filme é dele.

Na trama, personagens excêntricos trancafiados no veículo que dá título ao filme, devido a uma avalanche, precisam se deparar com uma tragédia quando um deles aparece morto, levantando a suspeita de que qualquer um dos sobreviventes pode ser o assassino. Agora caberá ao astuto detetive desvendar este complexo mistério, que pode ter ligação direta com o passado de um deles e uma rica família que teve seu bebê sequestrado e morto – supostamente, Christie teria usado como base o caso real do aviador Charles Lindbergh, cujo bebê foi sequestrado em 1932 e nunca mais apareceu. A escritora lançou sua obra em 1934.

O que Branagh cria aqui é uma obra enxuta e exuberante. Dona de um visual tão chamativo que conseguirá prender a atenção do público disperso e ávido por seu celular de 5 em 5 minutos. A direção de arte, que recria o interior do luxuoso trem, e os figurinos elaborados, saltam aos olhos. Além disso, Branagh cria ângulos interessantes para pôr sua câmera, como se convidasse o espectador a assistir tudo de uma ótica inusitada. Temos por exemplo, uma conversa de corredor com a câmera parada em cima (num contra-plongée), enquanto tentamos distinguir quem são os envolvidos no assunto sem ver seus rostos. Ou como na cena em que Poirot passeia entre os suspeitos narrando o ocorrido, cena contida no trailer, na qual a câmera substitui o protagonista. São esforços como esse que criam o diferencial de vigor, usando métodos modernos para vestir um material clássico. Ah, sim. E temos o fabuloso bigode de Poirot. Afinal quem conseguiria desviar o olhar dele.

Existe aqui também todo um prólogo fora do trem, no qual Poirot ajuda a decifrar um crime onde três clérigos de diferentes religiões estão enfrentando a pena de morte por fuzilamento, trecho adicionado pelo texto de Michael Green (Logan e Blade Runner 2049) para enfatizar a expertise do herói (sim, um herói real) e com o que o criminoso no trem está prestes a se deparar. A direção de Branagh imprime um ritmo bom ao longa, sem transformar o filme numa sucessão de picotes incompreensíveis (com o qual a garotada está acostumada atualmente) e tampouco perdendo parte do público com uma montagem lenta. De fato, a versão 2017 é mais dinâmica do que seu predecessor – eu sei que os tempos são outros e o estilo de fazer cinema mudou, mas Branagh poderia ser respeitoso de uma narrativa mais recheada de diálogos e menos cortes (com câmera mais estática) – pense em como Villeneuve replicou a condução do Blade Runner original de 1982. Aqui, no entanto, o ritmo mais rápido serviu muito bem ao filme.

Na parte do elenco, a grande maioria se sai bem. É bom ver Daisy Ridley dando conta do recado em seu primeiro filme longe de Rey e Star Wars, e a menina segura bem as pontas. Penélope Cruz costuma roubar a cena em elencos recheados (Vicky Cristina Barcelona e Nine) e aqui tem uma personagem que rendeu um Oscar a outra (Bergman). Mas quem eu gostaria de destacar são três outros atores. Josh Gad mostra que funciona muito bem longe de comédias, aqui na pele do secretário do mafioso de Johnny Depp. A gracinha Lucy Boynton, a apaixonante Raphina de Sing Street: Música e Sonho (você precisa ver este filme, é sério!), atinge a nota certa da entorpecida Condessa Andrenyi. E por último, o melhor desempenho em cena, a revigorada Michelle Pfeiffer, que faz sua Sra. Hubbard pulsar com vida. E que ano teve a atriz, entre este filme e mãe!, de Darren Aronofsky. Esperamos que continue nesta crescente no vindouro Homem-Formiga e a Vespa (2018) da Marvel.

Assassinato no Expresso do Oriente é um filme elegante e classudo, recheado de inúmeros elementos para despertar o interesse de um novo público. O fato só prova que Agatha Christie e seus textos são atemporais e se forem preparados de forma adequada – e muito longe de ser descaracterizado – apelam a qualquer um. Numa era em que todos os estúdios buscam por suas franquias, taí uma na qual valeria a pena investir, o Christieverse, o universo expandido das obras da autora. Bom, a semente já foi plantada, agora façam a parte de vocês.

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