sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | Awkwafina e Sandra Oh BRILHAM na honesta comédia ‘Quiz Lady’

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Jessica Yu é um nome que pode não soar familiar – mas a realizadora é bastante prolífica tanto no circuito fílmico quanto no televiso. Afinal, ela já encabeçou episódios de produções como ‘American Horror Story’, ‘Ratched’ e ‘Os 13 Porquês’, além de ‘Misconception’. Agora, seis anos depois de seu último trabalho envolvendo longas-metragens, ela nos convida para a deliciosa comédia adulta Quiz Lady, que chegou nos últimos dias ao catálogo do Star+ e que, em poucos tempo desde sua estreia na plataforma, conquistou os assinantes através de uma narrativa singela e de performances aplaudíveis, mesmo com equívocos técnicos despontando aqui e ali.

Na trama, Awkwafina e Sandra Oh vivem Anne e Jenny, duas irmãs afastadas que se reencontram após a mãe ter escapado de uma casa de repouso para fugir com o namorado e se mudar para Macau. Muito diferentes entre si, Anne e Jenny começam a se reaproximar por motivos inesperados e percebem que, mesmo anos depois de terem perdido um contato e não conhecerem, de fato, uma à outra. Anne tem uma vida muito metódica, trabalhando em uma empresa de contabilidade enquanto se diverte assistindo a um game show todas as noites ao lado de seu velho cachorro, o Sr. Linguini; Jenny, por sua vez, é uma impetuosa e inconsequente mulher que não sabe o que quer para seu futuro e que já tentou ser atriz, estilista e estrela de realities – morando em um carro caindo aos pedaços por não ter dinheiro o suficiente para se sustentar e manter uma casa.



As coisas parecem mudar quando, sorrateiramente, Jenny grava Anne respondendo a todas as perguntas do programa que assiste. O vídeo, então, começa a viralizar nas redes sociais e a transformam em uma celebridade ready-made que pode ser a salvação para todos os problemas – ainda mais quando elas descobrem que a mãe deixou uma dívida de 80 mil dólares com um agiota que sequestro o Sr. Linguini e que só irá devolvê-lo após a quitação. Lutando contra os próprios instintos, Anne é arrastada por Jenny para participar do game show e, mais do que isso, descobrir que, no fundo, elas não são tão distintas assim e se amam de um jeito nada convencional.

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É quase óbvio imaginar que as duas atrizes são o elemento de maior mérito do projeto, considerando a explosiva química de que nutrem. Oh ganhou fama mundial ao interpretar Cristina Yang em ‘Grey’s Anatomy’, bem como Eve Polastari em ‘Killing Eve’, reiterando uma versatilidade invejável e que caiu como uma luva para garantir que ela abraçasse o papel de Jenny; Awkwafina, por sua vez, tornou-se um ícone da comédia por seu exagero performático em ‘Oito Mulheres e Um Segredo’ e ‘Podres de Ricos’, mas conquistou o público e a crítica com seu protagonismo em ‘A Despedida’ (que deveria ter lhe rendido uma indicação ao Oscar). E, já tendo personalidades tão contrastantes, a troca de lugares entre elas é a cereja do bolo.

Entretanto, é impossível desviar a atenção de certos deslizes estruturais que se espalham pelo longa, a começar pelo roteiro: tudo bem, o árduo trabalho das atrizes principais consegue ofuscar boa parte dos equívocos, mas, quando paramos para analisar, o enredo não foge muito dos convencionalismos do gênero. De forma geral, temos a clara exaltação da comédia, misturada a inflexões dos filmes de road-trip a pinceladas de drama que ajudam a aprofundar os arcos das personagens; em outras palavras, o andamento do projeto é previsível, por assim dizer, e pode ser inferido cena a cena. No final das contas, isso não é algo que atrapalhe nossa experiência, mesmo desequilibrando o ritmo aqui e ali.

A verdade é que Yu, aliada ao roteiro de Jen D’Angelo, tem um objetivo muito claro de mostrar que o conceito de família e de amor não é engessado – e que, eventualmente, nós escolhemos as pessoas que farão parte da nossa vida. Anne e Jen, por mais discrepantes que sejam entre si, nutrem de um elo em comum que envolve pais desestruturados e uma falta de apoio psicológico que foram buscar em outros meios: Anne mergulhou de cabeça no entretenimento escapista; Jen, numa avidez voraz pelo ânimo, por mais que tangencie a irresponsabilidade. A letargia e a veemência são conceitos explorados ad nauseam e que fornecem camadas de complexidade ao que poderia ser apenas mais um produto barato.

Quiz Lady enfrenta obstáculos corriqueiros à medida que dá espaço para a narrativa tomar força – e, entre alguns trancos e barrancos, o ritmo se estabiliza e permite que o elenco brilhe. Porém, como já mencionado nos parágrafos acima, nada tem um descuido tão forte que nos desliguem das ótimas intenções da obra e de uma resolução fofa e bem-vinda dentro de seus limites criativos.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Crítica | Awkwafina e Sandra Oh BRILHAM na honesta comédia ‘Quiz Lady’

Jessica Yu é um nome que pode não soar familiar – mas a realizadora é bastante prolífica tanto no circuito fílmico quanto no televiso. Afinal, ela já encabeçou episódios de produções como ‘American Horror Story’, ‘Ratched’ e ‘Os 13 Porquês’, além de ‘Misconception’. Agora, seis anos depois de seu último trabalho envolvendo longas-metragens, ela nos convida para a deliciosa comédia adulta Quiz Lady, que chegou nos últimos dias ao catálogo do Star+ e que, em poucos tempo desde sua estreia na plataforma, conquistou os assinantes através de uma narrativa singela e de performances aplaudíveis, mesmo com equívocos técnicos despontando aqui e ali.

Na trama, Awkwafina e Sandra Oh vivem Anne e Jenny, duas irmãs afastadas que se reencontram após a mãe ter escapado de uma casa de repouso para fugir com o namorado e se mudar para Macau. Muito diferentes entre si, Anne e Jenny começam a se reaproximar por motivos inesperados e percebem que, mesmo anos depois de terem perdido um contato e não conhecerem, de fato, uma à outra. Anne tem uma vida muito metódica, trabalhando em uma empresa de contabilidade enquanto se diverte assistindo a um game show todas as noites ao lado de seu velho cachorro, o Sr. Linguini; Jenny, por sua vez, é uma impetuosa e inconsequente mulher que não sabe o que quer para seu futuro e que já tentou ser atriz, estilista e estrela de realities – morando em um carro caindo aos pedaços por não ter dinheiro o suficiente para se sustentar e manter uma casa.

As coisas parecem mudar quando, sorrateiramente, Jenny grava Anne respondendo a todas as perguntas do programa que assiste. O vídeo, então, começa a viralizar nas redes sociais e a transformam em uma celebridade ready-made que pode ser a salvação para todos os problemas – ainda mais quando elas descobrem que a mãe deixou uma dívida de 80 mil dólares com um agiota que sequestro o Sr. Linguini e que só irá devolvê-lo após a quitação. Lutando contra os próprios instintos, Anne é arrastada por Jenny para participar do game show e, mais do que isso, descobrir que, no fundo, elas não são tão distintas assim e se amam de um jeito nada convencional.

É quase óbvio imaginar que as duas atrizes são o elemento de maior mérito do projeto, considerando a explosiva química de que nutrem. Oh ganhou fama mundial ao interpretar Cristina Yang em ‘Grey’s Anatomy’, bem como Eve Polastari em ‘Killing Eve’, reiterando uma versatilidade invejável e que caiu como uma luva para garantir que ela abraçasse o papel de Jenny; Awkwafina, por sua vez, tornou-se um ícone da comédia por seu exagero performático em ‘Oito Mulheres e Um Segredo’ e ‘Podres de Ricos’, mas conquistou o público e a crítica com seu protagonismo em ‘A Despedida’ (que deveria ter lhe rendido uma indicação ao Oscar). E, já tendo personalidades tão contrastantes, a troca de lugares entre elas é a cereja do bolo.

Entretanto, é impossível desviar a atenção de certos deslizes estruturais que se espalham pelo longa, a começar pelo roteiro: tudo bem, o árduo trabalho das atrizes principais consegue ofuscar boa parte dos equívocos, mas, quando paramos para analisar, o enredo não foge muito dos convencionalismos do gênero. De forma geral, temos a clara exaltação da comédia, misturada a inflexões dos filmes de road-trip a pinceladas de drama que ajudam a aprofundar os arcos das personagens; em outras palavras, o andamento do projeto é previsível, por assim dizer, e pode ser inferido cena a cena. No final das contas, isso não é algo que atrapalhe nossa experiência, mesmo desequilibrando o ritmo aqui e ali.

A verdade é que Yu, aliada ao roteiro de Jen D’Angelo, tem um objetivo muito claro de mostrar que o conceito de família e de amor não é engessado – e que, eventualmente, nós escolhemos as pessoas que farão parte da nossa vida. Anne e Jen, por mais discrepantes que sejam entre si, nutrem de um elo em comum que envolve pais desestruturados e uma falta de apoio psicológico que foram buscar em outros meios: Anne mergulhou de cabeça no entretenimento escapista; Jen, numa avidez voraz pelo ânimo, por mais que tangencie a irresponsabilidade. A letargia e a veemência são conceitos explorados ad nauseam e que fornecem camadas de complexidade ao que poderia ser apenas mais um produto barato.

Quiz Lady enfrenta obstáculos corriqueiros à medida que dá espaço para a narrativa tomar força – e, entre alguns trancos e barrancos, o ritmo se estabiliza e permite que o elenco brilhe. Porém, como já mencionado nos parágrafos acima, nada tem um descuido tão forte que nos desliguem das ótimas intenções da obra e de uma resolução fofa e bem-vinda dentro de seus limites criativos.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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