sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | Babilônia: Dramédia de Damien Chazelle é uma homenagem à opulência frenética da Hollywood dos anos 20

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A efervescência de uma indústria em ascensão – sob os excessos de uma América que fervilhava em luxo, poder, ostentação e riqueza – fizeram da Hollywood dos anos 20 um espelho de uma década bastante peculiar para os Estados Unidos. Em meio às mudanças socioculturais fortíssimas, valores eram substituídos e a mulher começava a ascender na sociedade. Tudo isso, aliado ao contrabando de álcool e drogas, transformaram esse período nos famigerados Anos Loucos. E Damien Chazelle direciona suas lentes para esse hiato no tempo, fazendo de Babilônia uma combinação excessiva, às vezes exaustiva, mas também belamente produzida desse hedonismo explícito e de sua inevitável espiral de consequências catastróficas.



Longo demais e em alguns momentos até mesmo prolixo, Babilônia é uma crônica exagerada desse período de ascensão de Hollywood. Trazendo os bastidores das suntuosas produções cinematográficas da década de 20, o filme se inspira em uma cartela de clássicos que marcaram a história do cinema. Em certos momentos denunciante, em outros, cúmplice, a comédia dramática de Chazelle é uma sátira tragicômica das estrelas da época e acompanha um grupo específico de artistas que sonha em conquistar seu espaço na indústria.

Do cinema mudo ao emblemático Cantando na Chuva, a história da Sétima Arte é revisitada em personagens megalomaníacos e frenéticos, como Nellie LaRoy (Margot Robbie), Jack Conrad (Brad Pitt), Elinor St. John (Jean Smart) e Manny Torres (Diego Calva). Sob uma direção ritmada e repleta de planos sequências acelerados, coloridos e exuberantes, esses protagonistas navegam em uma Los Angeles ainda embrionária, cercada por corredores de coqueiros altíssimos e com uma estrutura urbana ainda precária. Nesse design de produção que alterna entre o deserto californiano e festas ostensivas, Robbie rouba a cena como uma atriz “white trash”. Sem classe, sem foco e sem limites, ela é um furacão ambulante que domina as câmeras – dentro e fora da trama. Em contraste, Pitt é uma caricatura do astro italiano do cinema mudo radicado nos EUA, Rudolph Valentino, que busca a inovação na arte, sem sequer notar que será engolido por ela.

E entre confrontos emocionais e dilemas psicológicos, Babilônia segue por mais de duas horas como esse espetáculo visual que ainda que nos hipnotiza com sua parte técnica, pode ser até demais para muitos. Soberbo em todos os aspectos, o filme parece entregar tudo o que precisa em apenas 1h30 de enredo, mas decide se estender desnecessariamente em constantes análises de personagem – que só não tornam a experiência da audiência tão exaustiva justamente pela coletânea apaixonante e impressionante de performances. Ao lado de Margot Robbie e Bra Pitt, Tobey Maguire retorna às telonas desde sua última aparição em Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, em um papel assustadoramente desconfortável e intrigante. Entrando em cena apenas no final da segunda metade do filme, ele – que também é produtor do longa – brilha de forma poderosa como um mafioso em estado de putrefação.

E com seus 20 minutos finais fazendo da produção uma homenagem à história do cinema, Babilônia ainda é o oposto de La La Land: Cantando Estações. Enquanto o vencedor do Oscar é uma ode romântica à Era de Ouro de Hollywood, o mais recente é quase uma denúncia cômica da lascívia libertina de uma época que – quando analisada hoje – parece um genuíno surto coletivo. E com uma trilha sonora regada por muito jazz, a dramédia é um compilado de minuciosas referências estéticas, sócio culturais e cinematográficas que apenas os cinéfilos mais atentos absorverão.

Inicialmente uma crítica alegórica que mira para todos os lados, o toque mágico de Babilônia é seu inesperado final. Se transformando em tela, a trama inadvertidamente se encerra como uma delicada e saudosa mostra da trajetória da indústria cinematográfica, de Viagem à Lua – de Georges Méliès -, passando por O Exterminador do Futuro, Tron – Uma Odisseia Eletrônica e Avatar. Às vezes confuso em sua mensagem, mas inegavelmente cativante para aqueles que – assim como eu -, amam uma boa produção metalinguística, Babilônia é o auge da direção de Chazelle. Com seu título sendo uma referência direta ao inescrupuloso império babilônico que escravizou o povo judeu, a dramédia é um arquétipo visual que estampa o talento do cineasta em nos levar à experiências sinestésicas únicas – ainda que às vezes o percurso tenha seus percalços.

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Longo demais e em alguns momentos até mesmo prolixo, Babilônia é uma crônica exagerada desse período de ascensão de Hollywood. Trazendo os bastidores das suntuosas produções cinematográficas da década de 20, o filme se inspira em uma cartela de clássicos que marcaram a história do cinema. Em certos momentos denunciante, em outros, cúmplice, a comédia dramática de Chazelle é uma sátira tragicômica das estrelas da época e acompanha um grupo específico de artistas que sonha em conquistar seu espaço na indústria.

Do cinema mudo ao emblemático Cantando na Chuva, a história da Sétima Arte é revisitada em personagens megalomaníacos e frenéticos, como Nellie LaRoy (Margot Robbie), Jack Conrad (Brad Pitt), Elinor St. John (Jean Smart) e Manny Torres (Diego Calva). Sob uma direção ritmada e repleta de planos sequências acelerados, coloridos e exuberantes, esses protagonistas navegam em uma Los Angeles ainda embrionária, cercada por corredores de coqueiros altíssimos e com uma estrutura urbana ainda precária. Nesse design de produção que alterna entre o deserto californiano e festas ostensivas, Robbie rouba a cena como uma atriz “white trash”. Sem classe, sem foco e sem limites, ela é um furacão ambulante que domina as câmeras – dentro e fora da trama. Em contraste, Pitt é uma caricatura do astro italiano do cinema mudo radicado nos EUA, Rudolph Valentino, que busca a inovação na arte, sem sequer notar que será engolido por ela.

E entre confrontos emocionais e dilemas psicológicos, Babilônia segue por mais de duas horas como esse espetáculo visual que ainda que nos hipnotiza com sua parte técnica, pode ser até demais para muitos. Soberbo em todos os aspectos, o filme parece entregar tudo o que precisa em apenas 1h30 de enredo, mas decide se estender desnecessariamente em constantes análises de personagem – que só não tornam a experiência da audiência tão exaustiva justamente pela coletânea apaixonante e impressionante de performances. Ao lado de Margot Robbie e Bra Pitt, Tobey Maguire retorna às telonas desde sua última aparição em Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, em um papel assustadoramente desconfortável e intrigante. Entrando em cena apenas no final da segunda metade do filme, ele – que também é produtor do longa – brilha de forma poderosa como um mafioso em estado de putrefação.

E com seus 20 minutos finais fazendo da produção uma homenagem à história do cinema, Babilônia ainda é o oposto de La La Land: Cantando Estações. Enquanto o vencedor do Oscar é uma ode romântica à Era de Ouro de Hollywood, o mais recente é quase uma denúncia cômica da lascívia libertina de uma época que – quando analisada hoje – parece um genuíno surto coletivo. E com uma trilha sonora regada por muito jazz, a dramédia é um compilado de minuciosas referências estéticas, sócio culturais e cinematográficas que apenas os cinéfilos mais atentos absorverão.

Inicialmente uma crítica alegórica que mira para todos os lados, o toque mágico de Babilônia é seu inesperado final. Se transformando em tela, a trama inadvertidamente se encerra como uma delicada e saudosa mostra da trajetória da indústria cinematográfica, de Viagem à Lua – de Georges Méliès -, passando por O Exterminador do Futuro, Tron – Uma Odisseia Eletrônica e Avatar. Às vezes confuso em sua mensagem, mas inegavelmente cativante para aqueles que – assim como eu -, amam uma boa produção metalinguística, Babilônia é o auge da direção de Chazelle. Com seu título sendo uma referência direta ao inescrupuloso império babilônico que escravizou o povo judeu, a dramédia é um arquétipo visual que estampa o talento do cineasta em nos levar à experiências sinestésicas únicas – ainda que às vezes o percurso tenha seus percalços.

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