quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica 2 | ‘Barbie’ é um ESPETÁCULO narrativo e visual que consagra Greta Gerwig e Margot Robbie

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Crítica livre de spoilers.

Barbie se tornou um fenômeno cinematográfico antes mesmo de sua estreia nos cinemas. O live-action, dirigido por Greta Gerwig e estrelado por Margot Robbie, dominou os assuntos nas redes sociais e construiu um evento cultural que irá se concretizar nos próximos dias – com altas chances de se tornar uma das produções mais elogiadas dos últimos anos e um sucesso gigantesco de bilheteria. Mas será que o filme é, de fato, tudo isso que prometeu?



A resposta mais breve é sim.

Quando pensamos em live-actions, principalmente de marcas conhecidas de brinquedos, videogames e afins, é natural que fiquemos com um pé atrás – ainda mais considerando que boa parte deles possui uma história fraca e esquecível e um desenlace que não consegue encantar nem mesmo os fãs mais árduos de determinada franquia. Barbie veio para mudar tudo isso: o longa-metragem é delineado com um capricho infalível e inenarrável, guiado pelo poder performático de Robbie (que, mais uma vez, se consagra como uma das grandes atrizes de sua geração) e por uma narrativa que, apesar do que muitos acreditavam, não é voltado para as crianças, e sim mascarando, através de quebras de expectativas on point e uma arquitetura epopeica, incursões socio-filosóficas que navegam pelo machismo, pelo patriarcado, pelo capitalismo predatório, pelo existencialismo e pelo senso de não-pertencimento.

Na trama, Barbie (Robbie) tem uma vida feliz. Ela acorda todos os dias da mesma maneira, cumprimenta as outras vizinhas Barbie da mesma maneira e enxerga tudo com um otimismo desenfreado. Morando em Barbieland, onde as bonecas são as donas de tudo e podem ser o que bem entenderem – astronautas, físicas, presidentes ou médicas – sua única preocupação, talvez, é se conseguirá se divertir o bastante antes que a noite termine. Contudo, as coisas começam a mudar quando, após dar uma festa de arromba em sua Casa dos Sonhos, ela começa a se questionar sobre a morte, atraindo os olhares de horror de todos os seus colegas. Acreditando que algo está errado, ela começa a notar que a perfeição em que está começa a se desmantelar: seus pés ficam achatados, sua torrada queima, o leite azeda – e ela está com estrias.

Após perceber que ela precisa de ajuda, ela vai visitar a Barbie Esquisita (Kate McKinnon) e descobre que, de alguma maneira, ela e a humana que a tinha como brinquedo criaram uma fenda no espaço-tempo entre a Barbieland e o Mundo Real, erguendo uma espécie de ponte que precisava ser reparada caso as coisas pudessem voltar ao normal. Munida de uma coragem que não acreditava possuir, Barbie, acompanhada de Ken (Ryan Gosling), parte em uma aventura que não apenas mudará o trajeto de tudo o que conhece, mas de si mesma como ser pensante e crítico.

À época que o projeto foi anunciado, diversas pessoas comentavam sobre as chances de fracasso – mas Gerwig, conhecida por seu aclamado trabalho em obras como ‘Lady Bird’ e Adoráveis Mulheres, sabe exatamente o que faz e como conduzir o material que lhe foi dado. De fato, inúmeras referências despertam memórias nostálgicas no público – como a presença certeira da controversa Midge (Emerald Fennell) e de Allan (Michael Cera), mas é notável como o filme tem uma identidade própria, infundida em rosa-choque e em um contraste notável entre “o pastel de Barbieland e o pastel de Los Angeles”, como Helen Mirren anuncia na própria narração.

A direção impecável, que inclusive presta homenagens a dramas e musicais conhecidos (sim, foi isso mesmo que você leu), funde-se ao soberbo roteiro assinado por Gerwig e Noah Baumbach, cuja colaboração, como podemos ver, continua a render frutos. Há reflexões críticas sobre a representação de Barbie como uma faca de dois gumes – um sonho inalcançável que se torna um mero produto comercial nas mãos de crianças frustradas e um símbolo de esperança que representava a ideia da criadora da boneca, Ruth Handler (que também tem seu momento de glória ao ser encarnada por Rhea Perlman no live-action). A incursão de maior glória, todavia, migra para o impactante existencialismo de que Gerwig e Baumbach se servem, esquadrinhando uma das perguntas mais feitas da história para uma boneca que não sabe mais a que lugar pertence: qual é o sentido da vida?

Falar do trabalho primoroso do elenco parece desnecessário, mas merece nossa atenção: Robbie é a grande estrela e nos leva numa jornada de autodescobrimento emocionante; Gosling está um deleite em cena e, com sorte, ganhará uma indicará ao Oscar por uma atuação que perpassa quase todas as emoções humanas; America Ferrera e Will Ferrell, que fazem parte do Mundo Real, denotam uma tragicomédia estonteante que apenas acrescenta mais camadas a esse complexo microcosmos; e Cera é o principal alívio cômico, eternizando-se em uma das melhores entradas de sua carreira.

Barbie supera quaisquer expectativas pré-existentes para nos verter em gargalhadas e lágrimas ao longo de duas horas que passam em um piscar de olhos. Gerwig, Robbie e Gosling criam mágica e reacendem a chama que, por um tempo, se ausentou da sétima arte – e que nos faz querer reassistir ao filme várias e várias vezes.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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A resposta mais breve é sim.

Quando pensamos em live-actions, principalmente de marcas conhecidas de brinquedos, videogames e afins, é natural que fiquemos com um pé atrás – ainda mais considerando que boa parte deles possui uma história fraca e esquecível e um desenlace que não consegue encantar nem mesmo os fãs mais árduos de determinada franquia. Barbie veio para mudar tudo isso: o longa-metragem é delineado com um capricho infalível e inenarrável, guiado pelo poder performático de Robbie (que, mais uma vez, se consagra como uma das grandes atrizes de sua geração) e por uma narrativa que, apesar do que muitos acreditavam, não é voltado para as crianças, e sim mascarando, através de quebras de expectativas on point e uma arquitetura epopeica, incursões socio-filosóficas que navegam pelo machismo, pelo patriarcado, pelo capitalismo predatório, pelo existencialismo e pelo senso de não-pertencimento.

Na trama, Barbie (Robbie) tem uma vida feliz. Ela acorda todos os dias da mesma maneira, cumprimenta as outras vizinhas Barbie da mesma maneira e enxerga tudo com um otimismo desenfreado. Morando em Barbieland, onde as bonecas são as donas de tudo e podem ser o que bem entenderem – astronautas, físicas, presidentes ou médicas – sua única preocupação, talvez, é se conseguirá se divertir o bastante antes que a noite termine. Contudo, as coisas começam a mudar quando, após dar uma festa de arromba em sua Casa dos Sonhos, ela começa a se questionar sobre a morte, atraindo os olhares de horror de todos os seus colegas. Acreditando que algo está errado, ela começa a notar que a perfeição em que está começa a se desmantelar: seus pés ficam achatados, sua torrada queima, o leite azeda – e ela está com estrias.

Após perceber que ela precisa de ajuda, ela vai visitar a Barbie Esquisita (Kate McKinnon) e descobre que, de alguma maneira, ela e a humana que a tinha como brinquedo criaram uma fenda no espaço-tempo entre a Barbieland e o Mundo Real, erguendo uma espécie de ponte que precisava ser reparada caso as coisas pudessem voltar ao normal. Munida de uma coragem que não acreditava possuir, Barbie, acompanhada de Ken (Ryan Gosling), parte em uma aventura que não apenas mudará o trajeto de tudo o que conhece, mas de si mesma como ser pensante e crítico.

À época que o projeto foi anunciado, diversas pessoas comentavam sobre as chances de fracasso – mas Gerwig, conhecida por seu aclamado trabalho em obras como ‘Lady Bird’ e Adoráveis Mulheres, sabe exatamente o que faz e como conduzir o material que lhe foi dado. De fato, inúmeras referências despertam memórias nostálgicas no público – como a presença certeira da controversa Midge (Emerald Fennell) e de Allan (Michael Cera), mas é notável como o filme tem uma identidade própria, infundida em rosa-choque e em um contraste notável entre “o pastel de Barbieland e o pastel de Los Angeles”, como Helen Mirren anuncia na própria narração.

A direção impecável, que inclusive presta homenagens a dramas e musicais conhecidos (sim, foi isso mesmo que você leu), funde-se ao soberbo roteiro assinado por Gerwig e Noah Baumbach, cuja colaboração, como podemos ver, continua a render frutos. Há reflexões críticas sobre a representação de Barbie como uma faca de dois gumes – um sonho inalcançável que se torna um mero produto comercial nas mãos de crianças frustradas e um símbolo de esperança que representava a ideia da criadora da boneca, Ruth Handler (que também tem seu momento de glória ao ser encarnada por Rhea Perlman no live-action). A incursão de maior glória, todavia, migra para o impactante existencialismo de que Gerwig e Baumbach se servem, esquadrinhando uma das perguntas mais feitas da história para uma boneca que não sabe mais a que lugar pertence: qual é o sentido da vida?

Falar do trabalho primoroso do elenco parece desnecessário, mas merece nossa atenção: Robbie é a grande estrela e nos leva numa jornada de autodescobrimento emocionante; Gosling está um deleite em cena e, com sorte, ganhará uma indicará ao Oscar por uma atuação que perpassa quase todas as emoções humanas; America Ferrera e Will Ferrell, que fazem parte do Mundo Real, denotam uma tragicomédia estonteante que apenas acrescenta mais camadas a esse complexo microcosmos; e Cera é o principal alívio cômico, eternizando-se em uma das melhores entradas de sua carreira.

Barbie supera quaisquer expectativas pré-existentes para nos verter em gargalhadas e lágrimas ao longo de duas horas que passam em um piscar de olhos. Gerwig, Robbie e Gosling criam mágica e reacendem a chama que, por um tempo, se ausentou da sétima arte – e que nos faz querer reassistir ao filme várias e várias vezes.

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