domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Batman – O filme DEFINITIVO do Cavaleiro das Trevas traz abordagem cerebral e investigativa

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Parece até parte da mística do personagem, mas, praticamente, todos os atores que foram escalados para viver o Batman nos cinemas foram previamente massacrados antes mesmo de colocarem o capuz. Primeiro aconteceu com Michael Keaton, acusado de ser baixinho demais; depois com os seus substitutos Val Kilmer e George Clooney por serem “galãs” demais; e, recentemente, com Ben Affleck, dito canastrão demais por todos. Entretanto, mesmo que algumas dessas produções não sejam lá grande coisa, a maioria deles conseguiu desempenhar bem o papel de Homem Morcego nas telonas.

Como não poderia ser diferente, o anuncio de Robert Pattinson como o novo Batman deixou alguns fãs de cabelo em pé, já que automaticamente ligaram o ator a sua passagem pela Saga Crepúsculo. No entanto, desde que largou a franquia vampiresca adolescente, Pattinson coleciona performances admiráveis, protagonizando filmes autorais e bem interessantes, do ponto de vista artístico, a exemplo de ‘O Farol’ (2019) e ‘Bom Comportamento’ (2017). Não à toa, ele foi chamado para dar vida ao novo filme do Cavaleiro das Trevas comandado por Matt Reeves. E, acreditem, existe um motivo claro para tal convocação.



Antes de tudo, para quem não se recorda, Matt Reeves é o principal nome por trás da impecável trilogia recente de ‘Planeta dos Macacos’, trabalho que o credenciou para assumir o lugar de Christopher Nolan, responsável pelo último filme solo do Morcego, ‘O Cavaleiro das Trevas Ressurge’ (2012). E o primeiro grande acerto de Reeves aqui é justamente pegar emprestada a persona um tanto estranha de Robert Pattinson e construir um Batman jamais visto nos cinemas.

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Tanto a personalidade de Bruce Wayne quanto a do Cruzado Encapuzado são dessa vez visualmente afetadas psicologicamente, onde o sujeito mal conseguir dar continuidade a uma conversa ou mesmo esboçar qualquer sentimento de alegria. Até porque a trama escrita pelo próprio Reeves, em parceria com o roteirista Peter Craig (‘Atração Perigosa’), não abre margem para momentos mais leves. A tensão impera durante toda fita, a ponto de o espectador esquecer que está vendo um filme de super-herói – ainda que os autores façam questão de deixar claro que o longa advém das histórias em quadrinhos, muito pelo modus operandi e arquétipos dos personagens, seus figurinos e principalmente pela linguagem narrativa do longa.

Assumidamente um thriller, ‘Batman’ é, basicamente, uma história de serial killer, bem aos moldes de David Fincher, especialista no gênero, sobretudo em ‘Zodíaco’ (2007), que, não por acaso, tem Paul Dano (‘Sangue Negro’) como um dos principais suspeitos de ser o assassino em série que jamais foi pego. Matt Reeves se aproveita da trama investigativa para criar uma atmosfera opressiva, melancólica e quase dramática, bem ao estilo neo noir de ‘Chinatown’ (1974).

Por sinal, o diretor bebe também de outras obras do gênero, agora decorrentes da mídia dos quadrinhos. Primeiro pela releitura da origem definitiva do Morcego, escrita por Frank Miller, ‘Batman: Ano Um’, especialmente pela interpretação sensual, perigosa e protetora de Zoë Kravitz como a Mulher-Gato; depois com ‘O Cavaleiro das Trevas’, outra aventura do Batman escrita por Miller, onde aqui o Reeves toma como fonte de inspiração as narrações em off do protagonista. E, finalmente, aquela que acabou sendo, de certa forma, a estrutura do filme, ‘O Longo Dia das Bruxas’, de Jeph Loeb. Está tudo ali, a forma dos assassinatos em série, a participação da máfia e a corrupção policial ou até mesmo a função da cidade dentro da história.

Aliás, se tem algo que há muito não aparecia em tela, como se deve, é Gotham City. A pútrida cidade é parte fundamental das histórias do Batman, afinal de contas, ele se sacrifica todos os dias na esperança de trazer vida àquele lugar caótico, mesmo que use as vias do medo para isso. A Gotham de Matt Reeves é bem diferente daquela vista na trilogia do Nolan, já que se afasta ao máximo de tudo que existe nos EUA, e se assemelha muito mais àquele lugar obscuro que víamos nos filmes de Tim Burton – com destaque para ‘Batman: O Retorno’ (1992). Vemos uma Gotham original e reconhecível, estética e funcionalmente interessante.

A duração de quase três horas pode assustar à primeira vista, porém, depois que conferimos o leque de personagens e, por assim, as várias subtramas presentes no roteiro, entendemos o porquê de o autor precisar de todo esse tempo. A aventura atual de um Batman que já atua há dois anos é quase que odisseica, já que o filme se propõe a abordar diversas ramificações da máfia, esta que é sempre ligada ao poder público, comprando figuras importantes como prefeitos, promotores e até mesmo as forças judiciais. Então temos aqui participações de grande destaque para isso, vide a presença de Colin Farrell, irreconhecível no papel do Pinguim, e John Turturro atuando de maneira brilhante como o chefão Carmine Falcone.

O Batman de Robert Pattinson, ator que casou como uma luva nessa abordagem, também surge como um aspecto original dentro da produção como um todo. Isso porque, pela primeira vez em live-action, temos a intepretação do Cavaleiro das Trevas atuando como um verdadeiro detetive. São recorrentes os momentos que vemos o Batman presente nas cenas crime junto a polícia ou mesmo ao Alfred (Andy Serkis) investigando os cenários dos delitos ou tentando resolver os enigmas do Charada. E falando naquele que é o principal vilão, é impressionante o que Paul Dano é capaz de fazer quando interpreta esses tipos esquisitos exagerados, não ficando atrás, por exemplo, do Coringa de Joaquin Phoenix.

Por fim, se você ainda está em dúvida do que vai encontrar pela frente ao assistir ‘Batman’, tenha em mente que estará diante de um filme que conseguiu juntar as principais características das melhores histórias do Cavaleiro das Trevas e transpor de maneira magistral para o cinema. Matt Reeves acerta em cheio ao deixar um pouco de lado o viés de super-herói (ainda que ele sempre esteja lá) em detrimento a uma história que possui a estrutura de um filme policial. Uma trama cerebral e investigativa passada em meio a uma atmosfera soturna e opressiva.

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Wilker Medeiroshttps://www.youtube.com/imersaocultural
Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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Parece até parte da mística do personagem, mas, praticamente, todos os atores que foram escalados para viver o Batman nos cinemas foram previamente massacrados antes mesmo de colocarem o capuz. Primeiro aconteceu com Michael Keaton, acusado de ser baixinho demais; depois com os seus substitutos Val Kilmer e George Clooney por serem “galãs” demais; e, recentemente, com Ben Affleck, dito canastrão demais por todos. Entretanto, mesmo que algumas dessas produções não sejam lá grande coisa, a maioria deles conseguiu desempenhar bem o papel de Homem Morcego nas telonas.

Como não poderia ser diferente, o anuncio de Robert Pattinson como o novo Batman deixou alguns fãs de cabelo em pé, já que automaticamente ligaram o ator a sua passagem pela Saga Crepúsculo. No entanto, desde que largou a franquia vampiresca adolescente, Pattinson coleciona performances admiráveis, protagonizando filmes autorais e bem interessantes, do ponto de vista artístico, a exemplo de ‘O Farol’ (2019) e ‘Bom Comportamento’ (2017). Não à toa, ele foi chamado para dar vida ao novo filme do Cavaleiro das Trevas comandado por Matt Reeves. E, acreditem, existe um motivo claro para tal convocação.

Antes de tudo, para quem não se recorda, Matt Reeves é o principal nome por trás da impecável trilogia recente de ‘Planeta dos Macacos’, trabalho que o credenciou para assumir o lugar de Christopher Nolan, responsável pelo último filme solo do Morcego, ‘O Cavaleiro das Trevas Ressurge’ (2012). E o primeiro grande acerto de Reeves aqui é justamente pegar emprestada a persona um tanto estranha de Robert Pattinson e construir um Batman jamais visto nos cinemas.

Tanto a personalidade de Bruce Wayne quanto a do Cruzado Encapuzado são dessa vez visualmente afetadas psicologicamente, onde o sujeito mal conseguir dar continuidade a uma conversa ou mesmo esboçar qualquer sentimento de alegria. Até porque a trama escrita pelo próprio Reeves, em parceria com o roteirista Peter Craig (‘Atração Perigosa’), não abre margem para momentos mais leves. A tensão impera durante toda fita, a ponto de o espectador esquecer que está vendo um filme de super-herói – ainda que os autores façam questão de deixar claro que o longa advém das histórias em quadrinhos, muito pelo modus operandi e arquétipos dos personagens, seus figurinos e principalmente pela linguagem narrativa do longa.

Assumidamente um thriller, ‘Batman’ é, basicamente, uma história de serial killer, bem aos moldes de David Fincher, especialista no gênero, sobretudo em ‘Zodíaco’ (2007), que, não por acaso, tem Paul Dano (‘Sangue Negro’) como um dos principais suspeitos de ser o assassino em série que jamais foi pego. Matt Reeves se aproveita da trama investigativa para criar uma atmosfera opressiva, melancólica e quase dramática, bem ao estilo neo noir de ‘Chinatown’ (1974).

Por sinal, o diretor bebe também de outras obras do gênero, agora decorrentes da mídia dos quadrinhos. Primeiro pela releitura da origem definitiva do Morcego, escrita por Frank Miller, ‘Batman: Ano Um’, especialmente pela interpretação sensual, perigosa e protetora de Zoë Kravitz como a Mulher-Gato; depois com ‘O Cavaleiro das Trevas’, outra aventura do Batman escrita por Miller, onde aqui o Reeves toma como fonte de inspiração as narrações em off do protagonista. E, finalmente, aquela que acabou sendo, de certa forma, a estrutura do filme, ‘O Longo Dia das Bruxas’, de Jeph Loeb. Está tudo ali, a forma dos assassinatos em série, a participação da máfia e a corrupção policial ou até mesmo a função da cidade dentro da história.

Aliás, se tem algo que há muito não aparecia em tela, como se deve, é Gotham City. A pútrida cidade é parte fundamental das histórias do Batman, afinal de contas, ele se sacrifica todos os dias na esperança de trazer vida àquele lugar caótico, mesmo que use as vias do medo para isso. A Gotham de Matt Reeves é bem diferente daquela vista na trilogia do Nolan, já que se afasta ao máximo de tudo que existe nos EUA, e se assemelha muito mais àquele lugar obscuro que víamos nos filmes de Tim Burton – com destaque para ‘Batman: O Retorno’ (1992). Vemos uma Gotham original e reconhecível, estética e funcionalmente interessante.

A duração de quase três horas pode assustar à primeira vista, porém, depois que conferimos o leque de personagens e, por assim, as várias subtramas presentes no roteiro, entendemos o porquê de o autor precisar de todo esse tempo. A aventura atual de um Batman que já atua há dois anos é quase que odisseica, já que o filme se propõe a abordar diversas ramificações da máfia, esta que é sempre ligada ao poder público, comprando figuras importantes como prefeitos, promotores e até mesmo as forças judiciais. Então temos aqui participações de grande destaque para isso, vide a presença de Colin Farrell, irreconhecível no papel do Pinguim, e John Turturro atuando de maneira brilhante como o chefão Carmine Falcone.

O Batman de Robert Pattinson, ator que casou como uma luva nessa abordagem, também surge como um aspecto original dentro da produção como um todo. Isso porque, pela primeira vez em live-action, temos a intepretação do Cavaleiro das Trevas atuando como um verdadeiro detetive. São recorrentes os momentos que vemos o Batman presente nas cenas crime junto a polícia ou mesmo ao Alfred (Andy Serkis) investigando os cenários dos delitos ou tentando resolver os enigmas do Charada. E falando naquele que é o principal vilão, é impressionante o que Paul Dano é capaz de fazer quando interpreta esses tipos esquisitos exagerados, não ficando atrás, por exemplo, do Coringa de Joaquin Phoenix.

Por fim, se você ainda está em dúvida do que vai encontrar pela frente ao assistir ‘Batman’, tenha em mente que estará diante de um filme que conseguiu juntar as principais características das melhores histórias do Cavaleiro das Trevas e transpor de maneira magistral para o cinema. Matt Reeves acerta em cheio ao deixar um pouco de lado o viés de super-herói (ainda que ele sempre esteja lá) em detrimento a uma história que possui a estrutura de um filme policial. Uma trama cerebral e investigativa passada em meio a uma atmosfera soturna e opressiva.

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Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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