Crítica | Baywatch: SOS Malibu – expectativa: Anjos da Lei, realidade: Loucademia de Polícia

Só piadas abaixo da linha da cintura

Baywatch, ou “SOS Malibu” – como ficou imortalizada para os brasileiros, se junta à extensa lista de produções televisivas transformadas em obras cinematográficas. Obviamente, o artifício não é novidade e há décadas já virou tendência. Em breve, não restará um programa que não tenha sido transformado em um longa-metragem. Os mais celebrados já fazem parte deste repertório, que inclui Perdidos no Espaço (1998), As Panteras (2000), Missão: Impossível (1996), O Cavaleiro Solitário (2013), Esquadrão Classe A (2010), Anjos da Lei (2012) e o recente O Agente da UNCLE (2015), isso só para citar alguns. A maioria, no entanto, rendendo resultados abaixo do esperado.

Tendo visto algumas de minhas séries preferidas na infância serem transpostas para o cinema na fase adulta, vide Esquadrão Classe A (1983-1987) e Anjos da Lei (1987-1991), agora chega a vez do guilty pleasure absoluto SOS Malibu. Talvez a melhor definição do status de culto que a série non sense sobre salva-vidas, que muitas vezes resolviam casos mirabolantes, obteve tenha sido exposta na comédia Friends – os personagens Joey e Chandler eram apaixonados pelo programa e não perdiam um episódio. Grande parte de seu charme trash vinha da erotização de mulheres esculturais e seus maiôs vermelhos colados correndo em câmera lenta, assim como homens sarados em trajes de banho da mesma cor – embora acredite que o público masculino juntava mais saliva fora da boca em frente à TV.

Tudo isso é levado em conta pelo roteiro do filme, escrito por Damian Shannon e Mark Swift, oriundos de filmes de terror irregulares, vide Freddy Vs Jason (2003) e Sexta-Feira 13 (2009). E esse é um dos grandes trunfos da adaptação: não se levar a sério e brincar com cada clichê de seu predecessor. Por exemplo, quando CJ Parker (vivida por Pamela Anderson na série e no filme pela igualmente estonteante Kelly Rohrbach) corre, é sempre em câmera lenta, fato que os personagens adereçam de forma jocosa. Em outro diálogo, quando numa reunião os salva-vidas relembram seus casos inacreditáveis (todos saídos diretamente do acervo televisivo), Matt Brody (Zac Efron) trata de devolver: “isso soa como roteiro de uma série de TV ruim”. Ao colocar os personagens rindo e comentado o quão ridícula é a premissa, metade da batalha está ganha.



O humor autoreferente é um acerto. Outro acerto é manter os mesmos personagens da série, assim Mitch Buchannon, Matt Brody, CJ Parker, Stephanie Holden e Summer Quinn desfilam em tela, fazendo a alegria dos nostálgicos. A grande descoberta no elenco e maior brilho no quesito, é justamente a citada Kelly  Rohrbach, cujo carisma de sua CJ transcende qualquer outro personagem, criando com Jon Bass (o gordinho Ronnie) a melhor química em cena – ao final desejamos um filme só da dupla. E por aí param meus elogios para Baywatch – o filme, infelizmente.

As piadas que acertam e funcionam são repetidas até perderem a graça. É como se os realizadores ficassem sem repertório muito rápido, tentando desesperadamente se agarrar ao que fez rir, ao invés de criarem novas situações. Fora isso, a trama é pra lá de rotineira e mesmo que saibamos que não deva ser levada a sério por um minuto, poderia ter sido confeccionada uma história mais interessante. Aqui, a rica dona de um restaurante (a indiana Priyanka Chopra) está traficando drogas e os heroicos salva-vidas decidem ficar na sua cola. E é isso!

Não existe química entre The Rock e Zac Efron, e este era um fator que precisava funcionar, pois era o que seguraria todo o resto. A maioria dos personagens é criado apenas como uma nota, a qual repetem de forma incansável até o final do filme. Por exemplo, Efron repete sua rotina de desprezo pelo trabalho até não poder mais. O longa de Seth Gordon (Quero Matar Meu Chefe, de 2011, e Uma Ladra Sem Limites, 2013) consegue inclusive retirar todo o carisma e charme de atores que geralmente transbordam tais qualidades, como The Rock e Alexandra Daddario – se duvida, assista a Terremeto: A Falha de San Andreas (2015).

Em um determinado momento, Mitch (Johnson) e Stephanie (Ifenesh Hadera) se beijam para disfarçar uma investigação. Ficamos esperando o ocorrido voltar à tona, mas seguindo uma constante, o filme simplesmente abandona o fato. Este é o sentimento geral aqui, o de desconexão, de um filme picotado. E o que dizer das pontas de David Hasselhoff e Pamela Anderson, a não ser, pobres coitados. Em entrevistas recentes de Zac Efron que assisti, o ator parecia desinteressado e quase envergonhado de ter que vender este peixe. Tal sentimento será refletido no público. Uma pena.

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Pablo R. Bazarello
Crítico, cinéfilo dos anos 80, membro da ACCRJ, natural do Rio de Janeiro. Apaixonado por cinema e tudo relacionado aos anos 80 e 90. Cinema é a maior diversão. A arte é o que faz a vida valer a pena. 15 anos na estrada do CinePOP e contando...
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