domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Big Little Lies – Temporada 2: Um final previsível que vale cada segundo do seu tempo

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Com uma narrativa invertida, que apresentava vislumbres de uma tragédia, Big Little Lies foi se consolidando a cada episódio de seu primeiro ciclo com um roteiro intrínseco, conectado e bem alinhavado. Trazendo arcos – aparentemente – desconexos e aleatórios entre si, a trama cresceu de maneira vertiginosa, indo para além do subgênero à la Desperate Housewives, nos mostrando que um pequeno mistério de um caso de bullying, de fato representava uma fina camada que escondia uma sucessão de abusos e agressões. Em seu segundo ano, essa mesma e intrigante história chegou a uma novo ápice, onde a complexidade da feminilidade é explorada a plenos pulmões. Readequando sua perspectiva narrativa para um viés onde flashes do passado cruzam as memórias dolorosas de mulheres que carregam o peso da culpa, a nova temporada se mantém atual e voraz, ainda que não supere seu ano inaugural.



Havia uma certa incerteza quanto à necessidade de continuar a trama dessa que, genuinamente, é uma minissérie com final pronto. Em se tratando de teor construtivo, existia uma boa história a ser narrada. Por fins estilísticos, poderíamos ter ficado sem uma sequência. Mas Jean-Marc Vallée sempre soube como agir e faz da segunda temporada uma necessidade em se tratando de sua pontualidade sócio cultural. Como uma produção que explora um núcleo absolutamente feminino, Big Little Lies cata os cacos da morte de Perry (Alexander Skarsgard) pela ótica da mulher, abordando como o tumultuado (porém honroso) assassinato do agressor/esposo de Celeste (Nicole Kidman) afetou não apenas a percepção das protagonistas sobre si mesmas, bem como sobre as circunstâncias que as rodeiam.

Ultrapassando a fase da conexão de arcos – quando ainda caminhávamos no escuro em se tratando do tipo de clímax que a série nos traria -, a nova temporada é uma espécie de aftermath, mostrando os reflexos que uma tragédia pode acarretar na vida de um grupo de mulheres que, a contra gosto ou não, eventualmente se submeteram a um certo nível de opressão familiar, seja por parte de um homem, de uma mãe ou até mesmo de uma terrível sogra. E nesse embolado contexto, Meryl Streep emerge como a surpresa que sempre pedimos a Deus, entregando uma complexa personagem que transita entre a – antagônica – loucura lúcida e a mais pura insensatez de uma mulher que se ergue de seu próprio passado, subjugando aqueles que também possuem suas próprias mazelas e feridas abertas. Como uma figura incrivelmente passiva agressiva, Mary Louise é a resposta do porque precisávamos de uma nova temporada, ainda que fosse possível viver (não diria que bem) sem ela.

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E sob uma direção que explora a luz natural, em contraste com as sombras da noite, a segunda temporada de Big Little Lies traz a ascensão suprema das atuações de Nicole Kidman, Reese Witherspoon, Shailene Woodley, Zoë Kravitz e – principalmente – de Laura Dern. Como aquela que provavelmente se viu sendo confrontada com seu maior temor, sua adorável arrogância se desabrocha, mostrando uma voraz guerreira, que de fato teme pela derrota e pelo fracasso. E a fim de se manter como essa fênix que surgiu da pobreza ainda em sua juventude, ela está disposta a lutar pelas aparências e – quem diria – por sua própria essência. Nisso tudo, vemos a atriz se destacando com maestria, se apresentando de cara como aquela que mais merece levar as estatuetas em 2020.

E ainda que seu desfecho tenha sido extremamente previsível, a segunda e última temporada de Big Little Lies faz aquilo que um bom fã espera, que nada mais é que ser servido. Encerrando a narrativa de maneira promissora e otimista, a produção entrega uma trajetória que foca muito mais no desenvolvimento de suas personagens a partir das circunstâncias, revelando as adversidades que as mulheres sofrem – em meio a um contexto essencialmente machista. Abordando também a habilidade de se adaptar e transformar as situações, mesmo em meio à incertezas e inseguranças, a série original da HBO acertou em seu timing, provando à audiência mundial que há sempre uma boa história feminina a ser contada. Inteligente, contemporânea e – ainda assim – atemporal, Big Little Lies se despede do público com uma jornada de descobertas sobre o poder que a voz da mulher tem, dentro e fora da ficção.

 

 

 

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Com uma narrativa invertida, que apresentava vislumbres de uma tragédia, Big Little Lies foi se consolidando a cada episódio de seu primeiro ciclo com um roteiro intrínseco, conectado e bem alinhavado. Trazendo arcos – aparentemente – desconexos e aleatórios entre si, a trama cresceu de maneira vertiginosa, indo para além do subgênero à la Desperate Housewives, nos mostrando que um pequeno mistério de um caso de bullying, de fato representava uma fina camada que escondia uma sucessão de abusos e agressões. Em seu segundo ano, essa mesma e intrigante história chegou a uma novo ápice, onde a complexidade da feminilidade é explorada a plenos pulmões. Readequando sua perspectiva narrativa para um viés onde flashes do passado cruzam as memórias dolorosas de mulheres que carregam o peso da culpa, a nova temporada se mantém atual e voraz, ainda que não supere seu ano inaugural.

Havia uma certa incerteza quanto à necessidade de continuar a trama dessa que, genuinamente, é uma minissérie com final pronto. Em se tratando de teor construtivo, existia uma boa história a ser narrada. Por fins estilísticos, poderíamos ter ficado sem uma sequência. Mas Jean-Marc Vallée sempre soube como agir e faz da segunda temporada uma necessidade em se tratando de sua pontualidade sócio cultural. Como uma produção que explora um núcleo absolutamente feminino, Big Little Lies cata os cacos da morte de Perry (Alexander Skarsgard) pela ótica da mulher, abordando como o tumultuado (porém honroso) assassinato do agressor/esposo de Celeste (Nicole Kidman) afetou não apenas a percepção das protagonistas sobre si mesmas, bem como sobre as circunstâncias que as rodeiam.

Ultrapassando a fase da conexão de arcos – quando ainda caminhávamos no escuro em se tratando do tipo de clímax que a série nos traria -, a nova temporada é uma espécie de aftermath, mostrando os reflexos que uma tragédia pode acarretar na vida de um grupo de mulheres que, a contra gosto ou não, eventualmente se submeteram a um certo nível de opressão familiar, seja por parte de um homem, de uma mãe ou até mesmo de uma terrível sogra. E nesse embolado contexto, Meryl Streep emerge como a surpresa que sempre pedimos a Deus, entregando uma complexa personagem que transita entre a – antagônica – loucura lúcida e a mais pura insensatez de uma mulher que se ergue de seu próprio passado, subjugando aqueles que também possuem suas próprias mazelas e feridas abertas. Como uma figura incrivelmente passiva agressiva, Mary Louise é a resposta do porque precisávamos de uma nova temporada, ainda que fosse possível viver (não diria que bem) sem ela.

E sob uma direção que explora a luz natural, em contraste com as sombras da noite, a segunda temporada de Big Little Lies traz a ascensão suprema das atuações de Nicole Kidman, Reese Witherspoon, Shailene Woodley, Zoë Kravitz e – principalmente – de Laura Dern. Como aquela que provavelmente se viu sendo confrontada com seu maior temor, sua adorável arrogância se desabrocha, mostrando uma voraz guerreira, que de fato teme pela derrota e pelo fracasso. E a fim de se manter como essa fênix que surgiu da pobreza ainda em sua juventude, ela está disposta a lutar pelas aparências e – quem diria – por sua própria essência. Nisso tudo, vemos a atriz se destacando com maestria, se apresentando de cara como aquela que mais merece levar as estatuetas em 2020.

E ainda que seu desfecho tenha sido extremamente previsível, a segunda e última temporada de Big Little Lies faz aquilo que um bom fã espera, que nada mais é que ser servido. Encerrando a narrativa de maneira promissora e otimista, a produção entrega uma trajetória que foca muito mais no desenvolvimento de suas personagens a partir das circunstâncias, revelando as adversidades que as mulheres sofrem – em meio a um contexto essencialmente machista. Abordando também a habilidade de se adaptar e transformar as situações, mesmo em meio à incertezas e inseguranças, a série original da HBO acertou em seu timing, provando à audiência mundial que há sempre uma boa história feminina a ser contada. Inteligente, contemporânea e – ainda assim – atemporal, Big Little Lies se despede do público com uma jornada de descobertas sobre o poder que a voz da mulher tem, dentro e fora da ficção.

 

 

 

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